Trabalho de conclusão de graduação
Ação dos microrganismos heterotróficos nativos do Rio Paraopeba na dissolução redutiva do ferro, em sedimentos de fundo de trechos atingidos ou não pelo rejeito de mineração da barragem I da mina de Córrego do Feijão (Brumadinho, MG)
Registro en:
SANJAD, P. de M. (2021). Ação dos microrganismos heterotróficos nativos do Rio Paraopeba na dissolução redutiva do ferro, em sedimentos de fundo de trechos atingidos ou não pelo rejeito de mineração da barragem I da mina de Córrego do Feijão (Brumadinho, MG) [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Repositório Institucional Pantheon.
Autor
Sanjad, Pedro de Moura
Institución
Resumen
Em janeiro de 2019, ocorreu o rompimento da Barragem I da Mina de Córrego do Feijão, no município de Brumadinho, MG. A força da enxurrada causou vários danos materiais, além de provocar a morte de mais de 250 pessoas. O rejeito deslocou-se por gravidade até chegar à calha do Rio Paraopeba, onde foi carregado pela correnteza, depositando-se nos sedimentos e causando mudanças na qualidade da água. O rejeito continha cerca de 56% de ferro, principalmente em óxidos/hidróxidos de Fe(III) como hematita e goetita, minerais que funcionam como carreadores de diversos elementos-traço no ambiente. Na crosta terrestre, o
ferro se alterna entre um estado mais oxidado (Fe(III) ou férrico), menos solúvel, e um mais reduzido (Fe(II) ou ferroso), mais solúvel. Em pH neutro a alcalino, o Fe(II) é rapidamente oxidado a Fe(III) na presença de oxigênio. Já a redução do Fe(III) a Fe(II) é catalisada pela ação de microrganismos heterotróficos em anaerobiose, que usam o Fe(III) disponível como aceptor final de elétrons (redução dissimilatória de ferro), ou para melhorar o balanço redox (fermentação), reduzindo-o a Fe(II). Como o Fe(II) é mais solúvel que o Fe(III), a redução do Fe(III) a Fe(II) pode levar a dissolução de minerais e a liberação de elementos-traço para a fase
líquida. Neste trabalho, temos como objetivos verificar a presença e as atividades de microrganismos que realizam a dissolução redutiva de ferro nos sedimentos do Rio Paraopeba. Para isso, coletamos amostras de água e sedimentos em três pontos do rio, sendo um a montante da região atingida pelo rejeito da Barragem I (P1), e outros dois a jusante do ponto de entrada do rejeito no rio (P2 e P3). A água e os sedimentos foram utilizados para construir microcosmos anóxicos, contendo ou não microrganismos nativos e adição de substratos orgânicos. A dissolução redutiva do ferro foi avaliada por meio da análise da concentração de Fe(II) na fase líquida. Os resultados mostram que a concentração de ferro aumenta ao longo do tempo nos
experimentos contendo microrganismos vivos e glicose ou extrato de leveduras, mas não nos microcosmos contendo acetato, nem naqueles sem adição de matéria orgânica, e nem nos microcosmos autoclavados. Não foram observadas diferenças significativas nas concentrações de Fe(II) da fase líquida entre os microcosmos representando P1, P2 e P3 até cerca de 50 dias, porém após esse período as concentrações de Fe(II) nos microcosmos representando P1 começaram a cair, enquanto nos microcosmos representando P2 e P3 as concentrações de Fe(II) continuaram aumentando, atingindo um platô que se manteve até o término do experimento em 200 dias. Concluímos que existem microrganismos capazes de realizar a dissolução redutiva de ferro nos sedimentos do Rio Paraopeba, os quais se tornam ativos na presença de substratos orgânicos fermentáveis. Como desdobramento deste trabalho, sugerimos o controle do lançamento de efluentes orgânicos e esgotos domésticos na bacia do Rio Paraopeba como forma de limitar a transferência de elementos-traço dos sedimentos para a coluna d’água.