Tese
José Saramago e o interculturalismo na refabulação das narrativas e da crítica cultural contemporâneas: uma experiência de nomadismo e hospitalidade
Autor
Coelho, Gislene Teixeira
Institución
Resumen
This thesis aims to develop the study of a new cultural politics and new cultural practices based on a critical dialog between José Saramago and the interculturalism theory, which play a political posture that occupies itself with the cultural interchanges and with the formation of participating partnership. The interculturalism circulates among distinct theoretical positions to debate our cultural inheritance, tracing an analysis that comprises a more combating revision theory of the origins of the current social and cultural hierarchies and a more conciliating theory that emphasizes the hybridization cultural process and detaches a necessity of working different cultures and different cultural subjects. The intercultural politics answers to a necessity of the modern cultural formations, whose cultural hybridism, associated to the incessant goods and people exchanges, conducts to the creation of new partnerships from negotiating politics. To think the concept as social praxis, it will be utilized The raft of stone (A jangada de pedra), The cave (A caverna), Essay about the blindness (Ensaio sobre a cegueira) e Essay about the lucidity (Ensaio sobre a lucidez), by José Saramago. In this reading, it will be brought out the traveler’s and narrator’s metaphorical performance as representations of intercultural practices in the national and international contexts, overland or overseas. The two figures will contribute to discuss the cultural identitary discourse from the intersections between the displacement and the fixity, the universalism and the particularism, the foreigner and the familiar, the alterity and the identity. Therefore, the interculturalism searches the traveler its dynamism and flexibility to be adapted and to assimilate the novelty and the narrator its capability for compiling such information and cultural realizations with the tradition, with the local knowledge, with the interior and the familiar, it means, both contribute to the creation of more floated cultural spaces in which the principle of negotiation and hospitality may be present. Finally, the intercultural politics detaches the importance of encouraging the subject’s active participation over its cultural properties and values, in order to contest the use of cultural politics that provoke alienation and dependence and that, consequently, continue to produce registers of unequal cultural relations and inospitalities. For that, at the same time that the subject should be supported by rights, should be equally followed by duties, words that complement themselves to translate the meanings of justice and dignity for the humans-cultures relation. Esta tese objetiva desenvolver o estudo de uma nova política cultural e novas práticas culturais à luz de um diálogo crítico entre José Saramago e a teoria do interculturalismo, que encenam uma postura política que se ocupa dos intercâmbios culturais e da formação de parcerias participativas. O interculturalismo transita entre posicionamentos teóricos distintos para discorrer sobre nossa herança cultural, traçando uma análise que comporta uma teoria mais combativa de revisão das origens das hierarquias sociais e culturais vigentes e uma teoria mais conciliadora que enfatiza o processo cultural de hibridização e destaca uma necessidade de trabalhar culturas e sujeitos culturais diferentes. A política intercultural responde a uma necessidade das formações culturais modernas, cujo hibridismo cultural, associado aos incessantes câmbios de mercadorias e pessoas, conduz à criação de novas parcerias a partir de políticas negociativas. Para pensar o conceito como práxis social, utilizar--se-ão as obras A jangada de pedra, A caverna, Ensaio sobre a cegueira e Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago. Nessa leitura, ressaltar-se-á a performance metafórica do viajante e do narrador como representações de práticas interculturais nos contextos nacional e internacional, em terra e no além-mar. As duas figuras contribuirão para discutir o discurso identitário cultural a partir dos cruzamentos entre o deslocamento e a fixidez, o universalismo e o particularismo, o estrangeiro e o familiar, a alteridade e a identidade. Isto posto, o interculturalismo busca no viajante seu dinamismo e flexibilidade para se adaptar e assimilar o novo e no narrador sua capacidade de compilar tais informações e realizações culturais com a tradição, com os saberes locais, com o interior e com o familiar, ou seja, ambos contribuem para a criação de espaços culturais fluidos em que o princípio da negociação e da hospitalidade devem estar presentes. Por fim, a política intercultural destaca a importância de incentivar a participação ativa do sujeito sobre seus bens e valores culturais, de forma que contesta o uso de políticas culturais que provocam alienação e dependência e que, consequentemente, continuam a produzir registros de relações culturais desiguais e de inospitalidades. Para tanto, ao mesmo tempo em que o sujeito deve estar respaldado por direitos, deve estar igualmente acompanhado de deveres, palavras que se complementam para traduzir os sentidos de justiça e dignidade para a relação homens e culturas.