info:eu-repo/semantics/article
IDENTIDADE E MEMÓRIA EM OS DESVALIDOS, DE FRANCISCO DANTAS
Autor
Andrade, Maria Luzia Oliveira
Institución
Resumen
A relação Identidade e Memória em Os desvalidos (1996), terceiro romance da autoria do sergipano Francisco Dantas, está presente do título da obra às entrelinhas deste texto de ficção. A narrativa está dividida em dois planos: um objetivo, o outro subjetivo. No plano objetivo, nota-se o resgate da cultura popular, mediante a retomada da tradição oral do cordel e da história do cangaço, na lendária figura de Lampião, cangaceiro que aterrorizou o Nordeste brasileiro na primeira metade do século XX. Nesse eixo discursivo, a questão da Identidade, surge, de imediato, através da existência do que Roberto Da Matta (1991) chama de dois Brasis: um oficial, legitimado, o outro excluído, esquecido. Ainda nesse primeiro plano da obra, os fatos do passado são expostos através das lembranças de Coriolano. As lembranças correspondem ao que Éclea Bosi (2007) denomina de percepção pura das coisas; noutras palavras, é o resgate consciente de uma realidade objetiva, na qual se inserem os coronéis, os bandidos e o povo abandonado, esquecido e desvalido do sertão sergipano. No plano subjetivo da obra, nota-se a relevância do que Éclea Bosi intitula de Memória, ou seja, a percepção concreta e complexa das coisas, que deixaram marcas subjetivas no indivíduo. A memória possibilita que o passado torne-se presente e o indivíduo elabore, para si próprio, a significação das coisas passadas. A saber, os dois eixos discursivos da obra estabelecem uma relação entre um fato real e objetivo ─ marcado pela presença de um personagem histórico ─ e um fato fictício e subjetivo, em que um indivíduo é o depositário de toda uma herança de traumas, oriundos da situação de pobre coitado desvalido. Ressalta-se, enfim, na obra, o “modo de recordação” e a “matéria de recordação”; neste, surge o fato lembrado, a exemplo do cangaço de Lampião; naquele, surge o modo como se lembram os fatos, a exemplo do complexo, do recalque do personagem do Rio das Paridas ─ espaço emblemático sempre presente nas narrativas de Francisco Dantas. Os desvalidos, uma prosa que recupera a tradição do cordel em sua musicalidade e ritmo, oferece, ao leitor contemporâneo, um espaço onírico que há muito tempo estava perdido no recôndito lugar das lembranças dos mais velhos.