Dissertação
Nós falaremos por nós : uma encruzilhada autoetnográfica sobre a construção da identidade negra a partir das comunidades tradicionais de terreiro
Registro en:
SANTOS, Erikson Bruno Mercenas. Nós falaremos por nós : uma encruzilhada autoetnográfica sobre a construção da identidade negra a partir das comunidades tradicionais de terreiro. 2022. 125 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2022.
Autor
Santos, Erikson Bruno Mercenas
Institución
Resumen
The present research, aims to identify through the writings the possible contributions
of the Traditional Communities of Terreiro (CTTro) in the construction of the black
identity against hegemonic from an autoethnographic research. The writings are black
experiences that start from the collectivity as an instrument that registers a new
consciousness and a new civilizational landmark, rethinking history from a perspective
historically marginalized by colonization. There is talk of the lived place and the
crossroads traveled (EVARISTO, 2008). It is important to point out that writing is the
place for denunciations and productions of the unsaid discarded by hegemonic science
(ANZALDÚA, 2000). The writings referring to the CTTro, demand a methodology
outside the guidelines elaborated in the colonialities, they invite us to decolonize the
plastered forms of academic methods. It is important to highlight that this work is
located in the area of Applied Inter/Transdisciplinary Linguistics, which has as its
assumptions a critical transgressivity focused on practices and social contexts and
their problems, enabling a reconfiguration of the thinking and status quo of a new world
through perspectives. non-westernized (PENNYCOOK, 2006), with the desire to
dialogue with colonial pains, with the plastering of identity, affirming to the world that
we live in new times, with diverse and non-homogeneous practices, and that
complexity awakens a new look (MOITA LOPES, 2009). This research also starts from
the possibilities of a Post-Colonial Critical Linguistics (MUNIZ, 2016), with which it is
possible to understand the society in which we are inserted, being essential to stick to
the relationship between identity, language and raciality, as these three concepts are
inserted in the historical and structural context of the political project of colonization,
thus, it is necessary to combine this discussion with a critical and political vision.
Thinking about the black identity inserted in the CTTro from the place of ethnographer
makes it possible to develop technologies against colonials to face history in a
constructive way, issuing and problematizing messages, referencing epistemologies
of terreiro and the voices inserted in marginalization to counter what is posed by
colonization, leaving the pursuit of healing through the crossroads of Exú, in a black
and transgressive ethics (RUFINO, 2019; NOGUEIRA, 2020). The methodology of an
autoethnographic nature in this dissertation, makes it possible, from the traditional
communities of terreiro, to occupy the place of those who have to talk and present,
distancing themselves from the impressions of the white man, therefore, it becomes a
way of denouncing a history made invisible in an imperialist science. In my view,
terreiro experiences call for awareness of being black in their society masked by racial
democracy, meritocracy and the secular rule of law. The terreiro is not limited to
physical space, its dimension is philosophical, linguistic and cultural (SODRÉ, 2002). A presente pesquisa, tem como objetivo identificar através das escrevivências as
possíveis contribuições das Comunidades Tradicionais de Terreiro (CTTro) na
construção da identidade negra contra hegemônica a partir de uma pesquisa de cunho
autoetnográfico. As escrevivências são experiências negras que partem da
coletividade como instrumento que registra uma nova consciência e um novo marco
civilizatório, repensando a história sob uma ótica historicamente marginalizada pela
colonização. Fala-se do local vivido e das encruzilhadas percorridas (EVARISTO,
2008). É importante salientar que, a escrita é o lugar para as denúncias e produções
do não-dito descartadas pela ciência hegemônica (ANZALDÚA, 2000). As
escrevivências referentes às CTTro, demandam uma metodologia fora das
orientações elaboradas nas colonialidades, nos convidam a descolonizar as formas
engessadas de métodos acadêmicos. É importante destacar que este trabalho situase na área da Linguística Aplicada Inter/Transdisciplinar, que tem como pressupostos
uma transgressividade crítica focalizada em práticas e contextos sociais e suas
problemáticas, viabilizando uma reconfiguração do pensamento e status quo de um
novo mundo através de olhares não ocidentalizados (PENNYCOOK, 2006), tendo o
anseio em dialogar com as dores coloniais, com o engessamento da identidade,
afirmando ao mundo que vivemos em novos tempos, com práticas diversas e não
homogêneas, e que a complexidade desperta um novo olhar (MOITA LOPES, 2009).
Essa pesquisa também parte das possibilidades de uma Linguística Crítica PósColonial (MUNIZ, 2016), com a qual é possível compreender a sociedade na qual
estamos inseridos, sendo imprescindível se ater a relação entre identidade, língua e
racialidade, na medida que esses três conceitos estão inseridos no contexto histórico
e estrutural do projeto político da colonização, deste modo, sendo necessário aliar
essa discussão a uma visão crítica e política. Pensar a identidade negra inserida nas
CTTro a partir do lugar de etnógrafo possibilita desenvolver tecnologias contra
coloniais para encarar a história de forma construtiva, emitindo e problematizando
mensagens, referenciando epistemologias de terreiro e as vozes inseridas a
marginalização para contrapor o que está posto pela colonização, saindo da
perseguição à cura através da encruzilhada de Exú, numa ética preta e transgressora
(RUFINO, 2019; NOGUEIRA, 2020). A metodologia de cunho autoetnográfico nesta
dissertação, viabiliza, a partir das comunidades tradicionais de terreiro, ocupar o lugar
daqueles que tem o que falar e apresentar, se distanciando das impressões do homem
branco, portanto, se torna uma forma de denunciar uma história invisibilizada em uma
ciência imperialista. A meu ver, as vivências de terreiro convocam a tomadas de
consciência do ser negro em sua sociedade mascarada pela democracia racial,
meritocracia e pelo estado laico de direito. O terreiro não se limita ao espaço físico, a
sua dimensão é filosófica, linguística e cultural (SODRÉ, 2002). São Cristóvão