Dissertação
Entre o visível e o invisível : a morte como estratégia de legitimação do poder régio da primeira dinastia portuguesa
Between the visible and the invisible : death as a strategy for legitimation of the royal power of the first portuguese dynasty
Registro en:
SANTOS, Airles Almeida dos. Entre o visível e o invisível : a morte como estratégia de
legitimação do poder régio da primeira dinastia portuguesa. 2019. 139 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2019.
Autor
Santos, Airles Almeida dos
Institución
Resumen
The first Portuguese Dynasty - Afonsina or Burgundy - is characterized by the warrior and
reconquering personality of its kings as well as by the performance of these monarchs in the
legal area. The period between the reigns of D. Dinis and D. Fernando was marked by the
perfection of the judicial system, the official characterization of Portuguese as the language of
the kingdom, the promotion of the arts and knowledge with the creation of the first university
and the signing of the Treaty of Alcanizes (1279 ) that established the border with Castile. It
was also a time of endless wars against the Castilian monarchy and other European kingdoms,
plague epidemics and the dynastic crisis of 1383-85 that led to the enthronement of a new
dynasty, Avis. The events that followed after the death of Don Fernando reveal a disturbance
in the idea of continuity of power and the year 1383 definitively marks the end of the Afonsina
Era.
In this master's degree research in History, our purpose is to demonstrate how the phenomenon
of death is inserted in the relations of power in the Low Portuguese Middle Ages. By means of
the analysis of the wills produced by the king D. Dinis (government from 1279 to 1325), Afonso
IV (from 1325 to 1357), Pedro I (from 1357 to 1367) and D. Fernando (from 1367 to 1383) we
have had as objective in our research to examine how the elaboration of the image of death, the
cult of these illustrious dead, the manifestations and funeral symbols represent the symbolic
struggles for the permanence of the authority and the regal power, that is, as the manipulation
of death appears as a strong element for the perpetuation of the power of the monarchs of the
First Dynasty in Portugal. Thus, between bodies and graves, between the visible and the
invisible, the funeral ritual served to legitimize the role of kings, head of the kingdom, before
the rest of society. If the pluralist type of power was a feature of policy in the Middle Ages, the
symbolic and ideological legitimization of the search for power was a constant effort of the
monarchy. The structure of symbolic legitimation was always used as a way to consolidate the
role of these monarchs as occupants of a prominent place in medieval Lusitanian society: real
power imposes itself symbolically and through death we will show how this happens. A Primeira Dinastia Portuguesa – Afonsina ou de Borgonha – é caracterizada pela
personalidade guerreira e reconquistadora de seus reis como também pelo desempenho desses
monarcas na área jurídica. O período compreendido entre os reinados de D. Dinis e D. Fernando
foi marcado pelo aperfeiçoamento do sistema judiciário, oficialização do português enquanto
idioma da chancelaria régia, fomento às artes e ao conhecimento com a criação da primeira
universidade e assinatura do tratado de Alcanizes (1279) que estabelecia a fronteira com
Castela. Momento também de intermináveis guerras contra a monarquia castelhana e outros
reinos europeus, epidemias e a crise dinástica de 1383-85 que levou à entronização de uma nova
dinastia, a de Avis. Os acontecimentos que se seguiram após o falecimento de D. Fernando
revelam uma perturbação na ideia de continuidade do poder e o ano de 1383 marca
definitivamente o fim da Era Afonsina.
Nesta pesquisa de mestrado em História, nossa finalidade é demonstrar como o fenômeno da
morte encontra-se inserido nas relações de poder na Baixa Idade Média Portuguesa. Por meio
da análise dos testamentos produzidos pelos reis D. Dinis (governo de 1279 a 1325), Afonso
IV (de 1325 a 1357), Pedro I (de 1357 a 1367) e D. Fernando (de 1367 a 1383) e os textos
cronísticos sobre seus respetivos reinados tivemos como objetivo em nossa pesquisa examinar
como a elaboração da imagem da morte, o culto a esses mortos ilustres, as manifestações e
símbolos fúnebres representam as lutas simbólicas pela proeminência da autoridade e do poder
régio, ou seja, como a manipulação da morte aparece enquanto um forte elemento pela
perpetuação do poder dos monarcas da Primeira Dinastia em Portugal. Assim, entre corpos e
sepulturas, entre o visível e o invisível, os rituais fúnebres serviam para legitimar o papel dos
reis, cabeça do reino, perante o resto da sociedade. Se por um lado a tipologia pluralista do
poder era uma característica da política na Baixa Idade Média, por outro, no plano simbólico e
ideológico a busca por legitimação de poder era um esforço constante da monarquia. A estrutura
de legitimação simbólica era sempre utilizada como forma para consolidar o papel desses
monarcas enquanto ocupantes de um lugar de destaque na sociedade medieval lusitana: o poder
real se impõe simbolicamente e através da morte. Mostraremos como isso acontece. São Cristóvão, SE