Dissertação
Trabalho docente, família e vida pessoal : permanências, deslocamentos e mudanças contemporâneas
Autor
Santos, Silmere Alves
Institución
Resumen
Having the historical-critical and feminist epistemology (considering the context of the Brazilian northeastern society and the processes of productive restructuring of the university) this research aimed at knowing the displacements, changes and permanence in the spheres of work, family and personal life, which make it difficult and/or possible to have more egalitarian and equitable relations amongst genders and/or point to other patterns of sociabilit favor the articulation between private/public spheres and amongst teachers who work in the Brazilian public university of the state of Sergipe. As to the methodology, the qualitative research showed its relevance by means of the case study. Its empirical field was the Federal University of Sergipe/São Cristóvão Campus and its academic centers: CCSA, CCBS, CCET, CECH. To collect data, various sources were used to trace teachers‟ profile such as websites (CNPQ, Ministry of Science and Technology, SBPC, ANDIFES, Council of University Rectors, IBGE, PNAD) and the 2008 Statistical Yearbook of the Federal University of Sergipe. Many theoretical categories were investigated like labor sexual division, vertical and horizontal segregation, glass ceiling, degeneration of work, amongst others. The concentration of male and female occupational groups was identified in a population of 323 (60,6%) men and 210 (39,4%) women, adding up 533 (100%) teachers of the permanent personnel, in 2008. One hundred seven closed-ended questionnaires and fourteen open questionnaires were applied. The results inform that in the context of teaching work at the Federal University of Sergipe, the sexual division and the horizontal and vertical segregation still prevail, unveiling the parallel segregation which composes the tridimensional segregation. Therefore the ghetto remains in the Science area; it is stated that productivity and substitute work are primarily occupied by the female sex. The subjects‟ representations point to family responsibilities which, towards love and maternal duties, women are the ones to assume, and they do not identify themselves as feminists, they are winners and losers of reflection; gender stereotypes appear as an expression of prejudice. As to personal life, data point to the fact that women rest less than eight hours a day, assume quadruple working hours, and amongst married women such hours are associated with their taking care of their children and of themselves. It can be said that the traditional archetypes linked to patriarchy, to the roles directed to women (cooking, sewing and taking care of someone) were substituted by studying, working, loving, giving birth to a child or not, and taking care of him/her, the latter not necessarily related to marriage or heterosexuality. Men‟s roles as the boss of the family and its provider were also displaced due to women‟s participation in the labor market, the increase in their level of schooling, the deterioration of economy for one to support one‟s family or due to the intensification of consumerism and reflective maternity. So, articulating work, family and personal life is not only an issue for women. It is an issue for both men and women as procreators of human beings; for the State as it is a social matter, and therefore, must be the object of public policies; for the organizations as the object of actions which require social responsibility and for the society, organized from a perspective of collective performance aiming at fighting for egalitarian and equitable human rights. Tendo como epistemologia a perspectiva histórico-crítica e feminista, (considerando o contexto da sociedade brasileira, nordestina e os processos de reestruturação produtiva da universidade) esta pesquisa objetivou conhecer os deslocamentos, as mudanças e permanências nos âmbitos do trabalho docente, da família e da vida pessoal, que dificultam e/ou possibilitam relações mais igualitárias, equitativas entre os gêneros e/ou que apontem outros padrões de sociabilidade favoráveis à articulação entre as esferas privada/pública, entre docentes que trabalham na universidade pública brasileira sergipana. Metodologicamente, a pesquisa qualitativa mostrou-se relevante por meio do estudo de caso. O campo empírico da pesquisa foi a Universidade Federal de Sergipe/Campus São Cristóvão e seus centros: CCSA, CCBS, CCET, CECH. Utilizaram-se várias fontes de coleta de dados como sites (CNPQ, Ministério da Ciência e Tecnologia, SBPC, ANDIFES, Conselho de Reitores Universitários, IBGE, PNAD); o Anuário Estatístico 2008, da Universidade Federal de Sergipe para traçar o perfil das/os docentes. Foram trabalhadas várias categorias teóricas como divisão sexual do trabalho, segregação vertical e horizontal, teto de vidro, precarização do trabalho, entre outras. Identificou-se a concentração dos grupos ocupacionais masculinos e femininos na população de 323 (60,6%) homens e 210 (39,4%) mulheres, totalizando 533 (100%) docentes do quadro permanente, do ano de 2008. Foram aplicados 107 questionários fechados e 14 questionários abertos. Os resultados informam que no contexto do trabalho docente na UFS, permanece a divisão sexual, a segregação horizontal e vertical, descobrindo-se a segregação paralela compondo a segregação tridimensional; permanece o gueto nas ciências exatas; constata-se que a produtividade e o trabalho substituto são prioritariamente ocupados pelo sexo feminino. As representações dos sujeitos apontam com relação às responsabilidades familiares que, em nome do amor e do dever materno, as mulheres preponderantemente assumem tais responsabilidades, e não se auto identificam como feministas; são ao mesmo tempo vencedoras e perdedoras da reflexividade; verificam-se estereótipos de gênero como expressão do preconceito. Quanto à vida pessoal, os dados apontam que as mulheres descansam menos de 8 horas por dia, assumem uma quádrupla jornada de trabalho, e entre as mulheres casadas estas horas estão associadas ao cuidar dos filhos e de si mesmas. Constata-se que os arquétipos tradicionais ligados ao patriarcalismo, aos papéis direcionados à mulher (cozinhar, cozer e cuidar) foram substituídos por estudar, trabalhar, amar, procriar ou não, e cuidar, estes não necessariamente ligados ao casamento ou à heterossexualidade. Os papéis do homem como chefe da família e provedor, também sofreram deslocamentos resultantes da participação da mulher no mercado de trabalho, da elevação de seus níveis de escolaridade, do agravamento econômico para sustentar a família ou a intensificação do consumismo e da maternidade reflexiva. Assim, articular trabalho, família e vida pessoal não é uma questão só de mulheres. É uma questão de homens e de mulheres enquanto procriadores de seres humanos; do Estado, enquanto questão social, e assim, deve ser objeto de políticas públicas; das organizações, enquanto objeto de ações de responsabilidade social; da sociedade civil organizada numa perspectiva de atuação coletiva na luta por direitos humanos igualitários e equitativos.