Dissertação
Racismo ambiental na pessoa com deficiência em situação de vulnerabilidade no centro-sul do estado de Sergipe
Registro en:
OLIVEIRA, Juliana Maria Freitas de. Racismo ambiental na pessoa com deficiência em situação de vulnerabilidade no centro-sul do estado de Sergipe. 2022. 148 f. Dissertação (Mestrado em Ensino das Ciências Ambientais) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2022.
Autor
Oliveira, Juliana Maria Freitas de
Institución
Resumen
Throughout the historical development of societies, racism emerged as a form of domination
and social exclusion of groups over others. Among the aspects of racism, the term
environmental racism refers to a greater burden of environmental damage directed toward poor
and peripheral communities. In this scope, vulnerability can be understood as a set of individual
weaknesses and social precariousness that affect a person. Among those who are in a condition
of vulnerability, we can highlight People with Disabilities (PwD) who, due to various barriers,
are unable to actively participate in everyday life. According to the World Health Organization
(WHO), more than one billion people around the world live with some form of disability, among
which about 200 million experience considerable functional difficulties. Data from the 2010
Demographic Census carried out by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE)
show that 23.9% of the Brazilian population declared that they had at least a deficiency
investigated, with the highest rate of respondents being among those who defined themselves
as black and yellow, both with 27%; and 65.9% have an income between 0 and 1 minimum
wage. PwD have been victims of ableism, which refers to the way society discriminates against
them, exposing these individuals to a marginalized position. In this context, it is observed that
in Brazil, environmental racism goes beyond racial prejudice, imposing a condition of social
and economic exclusion on vulnerable populations. Therefore, this research analyzes the socioenvironmental impacts of environmental racism in the daily routine of vulnerable PwD in the
Center-South of the State of Sergipe, more specifically thosewho live in the communities of
Santo Antônio and Colônia Treze, which are located on the outskirts of landfills in the
municipality of Lagarto. Note that the aforementioned municipality has a high rate of PwD,
reaching 30% of the total population, surpassing the averages of the Northeast Region (26.6%)
and Brazil (23.9%). This study is a cross-sectional and exploratory-descriptive with a
qualitative and quantitative approach. For the systematization of the proposal, the following
steps were carried out: (1) Analysis of the situation of PwD – training of Community Health
Agents (ACS) and survey of the Family Register via the Citizen's Electronic Medical Record
System – SISPEC; (2) Home visits indicated by the ACS, and information from SISPEC for
application of the semi-structured forms based on International Classification of Functioning,
Disability and Health (ICF) qualifers by the responsible researcher; (3) Photographic records
of the infrastructure of the study region. Of the 71 families registered as residents on the
outskirts of landfills, 22 PwD were evaluated. The use of topics from the ICF Checklist in the
research form proved to be of great value to analyze the correlation between the functionality
of the interviewees and the influence of environmental factors in their routines. The data
collected pointed to the difficulty of access for PwD who live in a situation of vulnerability
concerning access to health, education, transport, work, leisure, which are exacerbated by
deficientinfrastructure conditions. As a Technical Product generated by the research, the
"Training for Community Health Agents (ACS)" was developed, which aims to train ACS to
demystify and identify PwD, with a view to mitigating stigmas, in observing the accessibility
of environments school and work, detection of attitudinal, structural and social barriers, selfcare activities, class activities and service relationship. Durante todo o desenvolvimento histórico das sociedades, o racismo surgiu como uma forma
de dominação e exclusão social de grupos sobre outros. Dentre as vertentes do racismo, o termo
racismo ambiental se refere a uma maior carga de danos ambientais direcionada para
comunidades pobres e periféricas. Nesse escopo, a vulnerabilidade pode ser compreendida
como um conjunto de fragilidades individuais e precariedades sociais que atingem uma pessoa.
Entre aqueles que estão em condição de vulnerabilidade, podemos destacar as Pessoas com
Deficiência (PcD) que, em função de diversas barreiras, são impossibilitadas de participarem
ativamente da vida cotidiana. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais
de um bilhão de pessoas em todo o mundo convivem com alguma forma de deficiência, dentre
os quais cerca de 200 milhões experimentam dificuldades funcionais consideráveis. Dados do
Censo demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) demonstram que 23,9% da população brasileira declarou ter pelo menos uma das
deficiências investigadas, sendo que a maior taxa dos entrevistados está entre os que se
definiram como pretos e amarelos, ambos com 27%; e 65,9% possuem renda entre 0 e 1 salário
mínimo. As PcD têm sido vítimas do capacitismo, o qual se refere à forma como a sociedade
as discrimina, expondo esses indivíduos a uma posição de marginalizada. Nesse contexto,
observa-se que no Brasil o racismo ambiental ultrapassa o preconceito racial, impondo a
populações vulneráveis uma condição de exclusão social e econômica. Diante disso, essa
pesquisa tem por objetivo analisar os impactos do racismo ambiental na rotina diária das PcD
em situação de vulnerabilidade no centro-sul do Estado de Sergipe, mais especificamente
aquelas que residem nas comunidades dos povoados Santo Antônio e Colônia Treze, as quais
estão localizadas nos arredores dos lixões do município de Lagarto. Cumpre frisar que o referido
município possui um alto índice de PcD, chegando a 30% da população total, superando as
médias de Sergipe (25%), da Região Nordeste (26,6%) e do Brasil (23,9%). Trata-se de um
estudo transversal, de caráter exploratório-descritivo e abordagem qualitativa e quantitativa.
Para a sistematização da proposta, foram realizadas as seguintes etapas: (1) Análise da situação
das PcD – treinamento dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e levantamento do Cadastro
da Família via Sistema de Prontuário Eletrônico do Cidadão – SISPEC; (2) Visitas domiciliares
indicadas pelos ACS e informações do SISPEC para aplicação dos formulários
semiestruturados baseados nos qualificadores da Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde ( CIF) pela pesquisadora responsável; (3) Registros
fotográficos da infraestrutura da região. Das 71 famílias cadastradas como residentes nos
arredores do lixões, 22 PcD foram avaliadas. A utilização de tópicos do Checklist da CIF no
formulário de pesquisa se mostrou de grande valia para analisar a correlação entre a
funcionalidade dos entrevistados e a influência dos fatores ambientais em suas rotinas. Os dados
coletados apontaram para dificuldade de acesso das PcD que vivem em situação de
vulnerabilidade a ações de saúde, educação, transporte, trabalho e lazer, sendo essa situação
exarcebada pelas condições deficitárias de infraestrutura. Como Produto Técnico gerado pela
pesquisa, foi desenvolvida a “Capacitação para Agentes Comunitários de Saúde (ACS)”, a qual
tem como finalidade capacitar os ACS para a desmistificação e identificação de PcD, com vistas
a mitigar estigmas, na observação da acessibilidade dos ambientes escolares e laborais,
detecção de barreiras atitudinais, estruturais e sociais, atividades de autocuidado, atividades de
classe e relacionamento dos serviços. São Cristóvão