Dissertação
O sujeito e suas confissões em O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst
Registro en:
FERREIRA, Jaciane Martins. O sujeito e suas confissões em O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst. 2010. 89 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Letras e Artes) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2010.
Autor
Ferreira, Jaciane Martins
Institución
Resumen
In O Caderno Rosa de Lori Lamby (The Pink Book of Lori Lamby), by Hilda Hilst,
book taken as corpus for our search, we listen to an eight-year-old girl s voice who
writes about her sexual experience with an older man, on her diary. We consider the
book as a confessional writing. By the 17th century, the Catholic Church started a job:
transforming the sex in discourse via confession. The individual was incited to talk
about sex, pleasure and the deepest desires to achieve the salvation. Thus, the sexuality
was not denied but incited, organized, building a connection between the individuality
and subjectivity. Furthermore, the sexuality is not deleted from the individual. From this
perspective, we can verify the sexuality construction as a historical object and
production of knowledge. Besides, analyzing the procedures of power and resistance
from the book, we want to think about the ways that memory can be recalled through
the images which come with the discourses produced, supported by Courtine (1999)
who articulates, from the direction shown by Michel Foucault, the linguistics
intersection with the History. Considering this theory position, we will identify the
statements from the extracts taken for analysis. Thus, we will consider Foucault s
postulates about the discursive formations. In accordance to Foucault s postulate, a
group of formulations can be considered as a statement if the position of the subject is
shown. Certainly a word or a phrase can appear in different times but at each moment it
signifies a new meaning and can be understood as different statements. It is considered
that when those formulations are reported as a statement, one does not analyze the
relation between an author and its writings but, according to Foucault (2008), it
determines what position can and must be occupied by any individual to be the subject
of a statement. Starting from the selected statements and based on Courtine s theory, we
will reflect about the memories which are established as an historical existence through
the discursive practices. These memories, however, help us better understand the
statement to be read. Afterwards, we aim to investigate O caderno rosa (The Pink
Book ) and its form of confession as a kind of self writing, the way the subject of our
search becomes subject of its desire and how this relationship happens from the exterior
to the interior and, then, from its interior to his own inner. It has been considered by
Foucault (1995) that when one looks to its own sexuality, confessing it, one constitutes
as a subject. Looking to itself, the individual discovers, from its desire, its self truth in a
relationship from self to self and makes itself subject of its own moral. Mestre em Estudos Linguísticos O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst, livro do qual retiramos o material eleito
para constituir o corpus de nossa pesquisa de mestrado, traz a história de uma garota de
oito anos que relata, em um diário, O caderno rosa, suas possíveis experiências sexuais
com homens mais velhos. Ao laçarmos nosso olhar para a obra em foco, percebemos
que se trata de uma escrita confessional. De acordo com Foucault (1998), no século
XVII, a confissão foi imposta, pela Igreja Católica, como um meio de controle
tornando-se, assim, uma maneira de a instituição saber o que se passava com as pessoas,
inclusive no que diz respeito aos prazeres. A partir desse momento, o sexo começou a
ser discursivizado. Nesse sentido, poderemos verificar a construção da sexualidade
como objeto histórico e como produção de saber, analisando os procedimentos de
controle e resistência na obra, pensando sobre a maneira como a memória pode ser
recuperada, por meio de imagens evocadas a partir da justaposição de discursos.
Buscaremos suporte nas reflexões de Courtine (1999), que rearticula, na direção
apontada por Michel Foucault, os cruzamentos linguísticos com a história. Para nossa
análise, partiremos da identificação dos enunciados nos extratos a serem analisados,
usando os postulados de Foucault sobre enunciado. Para que se considere um conjunto
de signos como enunciado, é preciso que a posição do sujeito-enunciador seja
assinalada. Dessa forma, uma palavra ou frase pode ser usada da mesma maneira em
momentos diferentes, podendo ser determinada como diferentes enunciados. Assim, ao
deparar-se com um enunciado, o qual aponta para uma posição do sujeito sóciohistoricamente
marcada, não se trabalha com a relação entre autor e obra, mas, de
acordo com Foucault, procura-se determinar a posição que pode e deve ocupar cada
indivíduo para ser sujeito. Posto isso, refletiremos sobre a memória a partir do que tais
enunciados trazem à tona. Para tanto, basear-nos-emos no conceito de memória
discursiva, proposto por Courtine (1999), como o que se estabelece devido a uma
existência histórica do enunciado no interior de práticas discursivas e possibilita-nos
alcançar uma maior interpretação do enunciado a ser lido. Objetivamos, também, à
problematização d O Caderno Rosa e sua forma de confissão como escrita de si,
investigando, assim, a maneira pela qual o sujeito de nossa pesquisa torna-se sujeito de
seu próprio desejo e como essa relação se construiu de forma exterior para o interior e,
depois, de uma forma interior para seu próprio interior, em um movimento de si para si.
Ao olhar para a sua própria sexualidade, como nos coloca Foucault (1995),
confessando-a, o indivíduo está em um momento de sujeição à sua própria sexualidade,
constituindo-se como sujeito. Sob esse prisma, observar a si, de acordo com o referido
autor, faz com que o indivíduo descubra, a partir de seu desejo, a verdade de si numa
relação de si para consigo, fazendo-se sujeito de sua própria moral.