Tese
Educação como experimentação de si: uma reflexão à luz do pensamento de Nietzsche
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Autor
Lima, Silvia Cristina Fernandes
Institución
Resumen
This work aims to reflect on education taking as reference the philosophy of Friedrich
Nietzsche. The theme was submitted to an interpretative analysis in the light of the
philosopher's writings, especially the ones of the intermediate and mature period,
prioritizing the works published during his life. Two elements were placed as the basis
for the analysis: first, the conception of education that Nietzsche left implicit in his texts;
Secondly, the way in which he came to this conception from his experiments which
allowed the gradual construction of his philosophy. If that experimentation has played a
central role in this process, our hypothesis was that experiences (Erfähungen) and living
(Erlebnisse) are formative; they enable man to become what he is. We then, intended to
call attention to the fact that experimentation, as it was carried out by Nietzsche, admits
to be considered as an educational proposal. As a first step, we should understand the
relation between education and morality, as well as its unfolding through feelings and
concepts inside tradition. Then, following the paths traced by Nietzsche, especially about
the problematization of morality, we have studied what the philosopher calls ‘master and
slave morality’. To understand the criterion of evaluation of both typologies we
considered crucial to analyze the concept of ‘will to power’, understanding it as a game
of antagonistic forces that look for more power. Secondly, we analyzed the concepts of
experience and living by relating the terms as synonyms and distinguishing them from
the experimental meaning of scientific knowledge. It is also presented the way Nietzsche,
from his experiences and living, became a philosopher, from the experience with his
teacher educator, Schopenhauer, and his experience as a free spirit as reported in the
intermediary writings. At this point, we point out the important aspects for the formation
of oneself, the way in which, from the experimentation of self and life, one can construct
and invent himself. Finally, we reflect on the dramatic course of Zarathustra, central
character of the work ‘Thus spoke Zarathustra’. To do so, we took the reading keyword
of the formation novel, in which the dramatic hero, in his trajectory and with his
experiences and living, educates himself and, in this process, becomes an educator.
Describing Zarathustra's trials, we pointed out a formative process to become what he is,
the announcer of the beyond-man, and the master of the eternal return. Considering the
formative experiences of Zarathustra, we can see that formation is a process that is full of
conflicts and uncertainties, but it is also a way to construct oneself. It is a dynamic process
in which becoming what we are always demand being handled continually. FAPEMIG - Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais Tese (Doutorado) O intuito do presente trabalho é refletir sobre educação tomando como referência a
filosofia de Friedrich Nietzsche. Para isso, buscamos submeter o tema a uma análise
interpretativa à luz dos escritos do filósofo, sobretudo, as obras do período intermediário
e maduro, priorizando as publicadas em vida. Dois elementos foram colocados como base
para essa análise: em primeiro lugar, a concepção de educação que Nietzsche deixou
implícita em seus textos; em segundo lugar, o modo como ele chegou a essa concepção a
partir de suas experimentações com o pensamento, as quais permitiram a construção
gradativa de sua filosofia. Partindo do pressuposto de que a experimentação desempenhou
um papel central nesse processo, introduzimos a hipótese de que as experiências
(Erfähungen) e vivências (Erlebnisse) são formativas, são elas que possibilitam o homem
a tornar-se o que se é. Portanto, o objetivo dessa tese é chamar a atenção para o fato de
que a experimentação, tal como foi levada a efeito por Nietzsche, admite ser tomada em
consideração como uma proposta educativa. Um dos primeiros passos, então, a ser dado
nesse rumo é tentar compreender a relação entre educação e moral, bem como o
desdobramento dessa moral por meio dos sentimentos e conceitos na tradição dos
costumes. Ao seguir os caminhos traçados por Nietzsche, principalmente, no que tange à
problematização da moral, buscamos também refletir sobre o que o filósofo denomina
como moral de escravos e moral de senhores. Para compreendermos o critério de
avaliação de ambas tipologias da moral consideramos crucial analisar o conceito de
vontade de poder, entendendo-o como um jogo de forças antagônicas que buscam mais
poder. Em segundo lugar, intentamos analisar os conceitos de experiência e vivência
relacionando os termos como sinônimos e procurando distingui-los do sentido
experimental do conhecimento científico. Buscou-se também apresentar o modo como
Nietzsche, a partir de suas experiências e vivências, tornou-se filósofo, a partir da
experiência com o mestre educador, Schopenhauer, e a experiência dele como espírito
livre conforme relatada nos escritos intermediários. Nesse ponto, procuramos apontar os
aspectos importantes para a formação de si mesmo, o modo como, a partir da
experimentação de si e da vida, o homem pode construir a si mesmo, inventar-se a si
mesmo. Por último, buscamos refletir sobre o percurso dramático de Zaratustra,
personagem central da obra Assim falou Zaratustra. Para tanto, tomamos a chave de
leitura do romance de formação, romance no qual o herói dramático, em sua trajetória e
com suas experiências e vivências, educa a si mesmo e, nesse processo, torna-se um
educador. Ao buscar descrever as experimentações de Zaratustra, intentamos apontar o
seu processo formativo para tornar-se o que é, o anunciador do além-do-homem e o
mestre do eterno retorno. Considerando as experiências formativas de Zaratustra,
podemos perceber que a formação é um processo cheio de conflitos, de incertezas, mas é
também um caminho de construção de si mesmo. Trata-se de um processo dinâmico em
que o tornar-se o que se é demanda sempre o estar por se fazer.