Periodical
RADIS - Número 85 - Setembro
Registro en:
RADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n. 85, set. 2009. 24 p. Mensal.
Autor
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Resumen
Reportagens e artigos desta edição convergem para um ponto: cuidar da saúde é combater a desigualdade. Há 100 anos, Carlos Chagas advertia que o mal que pesquisava estava “intimamente associado à pobreza e às más condições de vida no interior do país”.
Em simpósio no Rio sobre “a mais negligenciada de todas as endemias” — embora seja a quarta causa de morte ligada a doenças infecto-parasitárias no Brasil —, pesquisadores reafirmam os preceitos de Chagas. “Acabar com a doença é buscar equidade entre os homens”, conclama João Carlos Pinto Dias, filho de Emmanuel Dias, um dos mais próximos discípulos do grande cientista.
Diretora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Tania Araújo-Jorge garante que há centenas de jovens e experientes pesquisadores herdeiros de Chagas (especialistas da ciência básica à informação, uma das preocupações do comunicador Chagas), dispostos a aprofundar os estudos necessários ao controle da infecção e aperfeiçoamento do tratamento. Falta prioridade e financiamento por parte dos governos e agências de fomento nacionais e internacionais e investimento das indústrias farmacêuticas, interessadas apenas no que dá lucro. “A clientela de Chagas não tem dinheiro para pagar o medicamento”, lembra.
A proteção das populações “com acesso equitativo a sistemas de saúde abrangentes e eficientes” é um direito humano e um dever dos Estados, conclui a Carta de Istambul, assinada por representantes de 142 países em encontro mundial liderado pelo ex-presidente da Fiocruz Paulo Buss, que cobra ações contra “pobreza e exclusão social, agravadas pela crise estrutural do capitalismo em escala global”. A voz que vem da cidade turca símbolo do encontro entre Ocidente e Oriente não parece sensibilizar grupos de pressão no país mais rico do planeta. Mesmo habituados a um sistema público de educação, combatem ferozmente a tímida proposta do presidente Barack Obama de estruturar sistema que dispute mercado com os gigantes da medicina de mercado.
Em debate na Fiocruz, o cientista político Emir Sader diz que os efeitos das políticas neoliberais se resumem “numa imensa e cruel máquina de desapropriação de direitos em todos os planos da vida”. Noutro debate, sobre o projeto de reforma tributária apresentado pelo governo ao Congresso, a economista Denise Lobato Gentil alerta para o risco de desfinanciamento da Seguridade Social.
Entrevistado pela revista Caros Amigos, com versão resumida em nossa seção Pós-Tudo, o economista Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que o sistema tributário “tira renda dos pobres e dá aos ricos”, que o mercado de trabalho “reproduz a desigualdade” e que os ricos brasileiros vivem melhor que os da Europa e dos Estados Unidos. Sobre a situação ambiental e das populações no mundo, prevê que, “levado adiante esse modelo de produção e consumo, precisaríamos de três planetas”.
Rogério Lannes Rocha Coordenador do Programa RADIS