Dissertation
Doença mental e Estado Novo: a loucura de um tempo
Mental illness and the Estado Novo: the madness of a time
Registro en:
CASSÍLIA, Janis Alessandra Pereira. Doença mental e Estado Novo: a loucura de um tempo. 2011. 199 f. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, 2011.
Autor
Cassília, Janis Alessandra Pereira
Resumen
Esta dissertação analisa a construção de noções de doença mental relativas ao contexto do Estado Novo, presentes no discurso médico-psiquiátrico, do doente e de seu familiar, em documentos clínicos de pacientes internados na Colônia Juliano Moreira em 1942 e 1943. Para tanto utilizamos documentos clínicos de internos que construíram narrativas sobre o Estado Novo, Getúlio Vargas e o contexto sócio-político em que viviam. Ao analisarmos o período do Estado Novo, através do olhar de diferentes personagens que participaram da assistência psiquiátrica àquela época – dos médicos psiquiatras, dos internos e de seus familiares – buscamos contribuir, tanto para a história da psiquiatria, quanto para a historiografia sobre o Estado Novo. Para a elaboração da pesquisa, partimos da premissa de que a constituição do saber médico não é atributo apenas dos avanços científicos, mas decorrente, também, de sua inserção em um contexto sócio-cultural e político específico e que o doente e seu familiar, através da vivência da doença, são produtores de saberes e não apenas objeto passivo do conhecimento médico psiquiátrico. No cruzamento analítico dos discursos percebemos uma circularidade de idéias sobre doença mental, trabalho, a figura de Vargas, os movimentos sócio-políticos e as reformas sociais da época. Verificamos, assim, que, para o discurso médico psiquiátrico, as narrativas dos doentes sobre os eventos sóciopolíticos ocorridos à época foram encaradas como sintomas de doença mental, principalmente em casos diagnosticados como esquizofrenia. Nas narrativas dos doentes observamos que sua experiência de doença está imersa no mundo sócio-político em que viviam. Muitas vezes ela é traduzida como uma perturbação, um mal estar, que não corrobora a noção médica de doença mental e/ou não concorre para a indicação psiquiátrica de internação. Já para os atores do meio sócio-familiar dos pacientes, não são necessariamente as narrativas dos doentes que promoveram sua internação, mas sim sua conduta. Assim como nos discursos dos outros atores sociais, encontramos algumas marcações de diferença entre o gênero feminino e o masculino, de acordo com os papéis considerados como socialmente aceitáveis à época. My thesis analyzes the construction of notions of mental illness within the context of Brazil’s Estado Novo, as expressed in the discourses of the psychiatric and medical community, the ill themselves, and their families. Using the clinical records of individuals committed to the Colônia Juliano Moreira asylum in 1942 and 1943, I explore the discourses of patients who built narratives about the Estado Novo, Getúlio Vargas, and the sociopolitical context in which they lived. In examining the period of the Estado Novo from the perspective of these three actors from the world of psychiatric assistance, my intention is to contribute both to the history of psychiatry and to the historiography of the Estado Novo. Two premises underlie my research: first, the development of medical knowledge results not only from scientific progress but also from a specific sociocultural and political context and, second, the patient and his family are not merely passive objects of medical and psychiatric knowledge but also its producers, through their experience with the illness. My analysis of these intersecting discourses points up the circularity of ideas about mental illness, work, the figure of Vargas, and the era’s sociopolitical movements and social reforms. Among my findings, medical and psychiatric discourse interpreted patients’ narratives about then current social and political events as symptoms of mental illness, especially in cases where the diagnosis was schizophrenia. In the narratives of patients themselves, I observed that they experienced their illness within the framework of their surrounding social and political world. Their illness was often understood as a disturbance or indisposition, consonant neither with the medical notion of mental illness nor with a psychiatric referral for commitment. Lastly, according to actors from patients’ social and family environment, it was not necessarily the patients’ narratives that were responsible for their hospitalization but rather their behavior. Similar to what was noted in the discourses of the other social actors, I detected some gender differences, in tune with what were at that time deemed to be socially acceptable roles.
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