Thesis
Hipertensão arterial no estado de Pernambuco: análise dos determinantes à luz da transição alimentar e nutricional em um contexto de desenvolvimento e desigualdade
Fecha
2019Registro en:
SOUZA, Nathália Paula de. Hipertensão arterial no estado de Pernambuco: análise dos determinantes à luz da transição alimentar e nutricional em um contexto de desenvolvimento e desigualdade. 2019. 199f. Tese (doutorado em saúde pública) – Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2019.
Autor
Souza, Nathália Paula de
Institución
Resumen
Objetivo: Analisar as mudanças na prevalência, conhecimento e controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS) em adultos do estado de Pernambuco-Brasil e sua associação com os determinantes sociodemográficos, comportamentais, alimentares e nutricionais, à luz da transição nutricional e em um contexto de desenvolvimento e desigualdade. Método: Este estudo pautou-se em duas pesquisas transversais, o I e II Inquérito Estadual sobre Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis, realizadas em um período de dez anos, a primeira em 2006 e a segunda em 2015/16, respectivamente. Em ambos os estudos foram obtidas amostras randomizadas de domicílios, em áreas urbanas e rurais. O público alvo foi constituído por adultos com 20 anos ou mais de idade, cujos dados foram coletados por meio de questionário padronizado. As medidas antropométricas e a pressão arterial (PA) foram mensuradas utilizando equipamentos e técnicas apropriados. Indivíduos com a pressão arterial sistólica (PAS)≥140mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD)≥90mmHg ou uso referido de anti-hipertensivos foram classificados como hipertensos. Esses foram considerados “conscientes” quando referiram diagnóstico prévio por médico ou profissional de saúde e “controlados” quando apresentaram PAS<140mmHg e PAD<90mmHg. Realizou-se uma análise exploratória na literatura científica como ponto de partida. Os padrões alimentares foram gerados por meio de análise de cluster, utilizando o teste Ward. Posteriormente, modelos de regressão logística binária e multinomial foram elaborados para avaliar a associação entre HAS e seus determinantes. Resultados: A abordagem teórica e conceitual acerca do atual perfil epidemiológico fundamentada no viés da nutrição impulsiona reflexões acerca das mudanças na lógica de mercado e suas novas demandas e sobre as consequências do uso predatório dos recursos naturais, além de revelar os principais interesses e interessados nessas transformações globais e locais, consideradas propulsoras do aumento das doenças crônicas e, ao mesmo tempo, da má nutrição. Em relação ao estado de Pernambuco foi observada uma evolução favorável dos indicadores sociais e comportamentais entre os anos de 2006 e 2015/16. No entanto, o excesso de peso passou de 50,9% para 64,7% (p<0,001). Em cada período de estudo foram encontrados quatro padrões de consumo alimentar: Saudável (consumo predominante de frutas, vegetais, raízes e tubérculos), Tradicional Regional (predominância de alimentos tradicionais como feijão e arroz, além de alimentos regionais como açúcar e derivados), Em transição (predominância de alimentos da dieta ocidentalizada como carnes processadas e do padrão Tradicional Regional) e Processado (rico em alimentos processados), em 2006; e Saudável, Tradicional Regional, Duplo (rico em alimentos saudáveis e não saudáveis) e Ultraprocessado, em 2015/16. Esses padrões alimentares foram fortemente determinados pelos aspectos demográficos e socioeconômicos de cada época. A participação do padrão Saudável reduziu de 31,6% para 12%, enquanto a preferência pelos padrões Processado e Ultraprocessado aumentou de 21,4% para 29,1%, respectivamente. A prevalência de HAS manteve-se estável (2006:33,1%; 2016:33,5%), embora significativamente maior na zona rural (35,7%) no ano de 2006 e indiferente a área de habitação em 2015/16. Em cada pesquisa, 54,2% e 68,4% dos hipertensos sabiam da sua condição patológica e 11% e 31,6% tinham a PA controlada. As dimensões de conhecimento e controle da HAS melhoraram principalmente na zona rural, apesar da pior evolução dos padrões alimentares nesta região. Na zona urbana, a chance de ser hipertenso mais que duplicou entre homens (OR=2,03; IC95%=1,52-2,71), com obesidade abdominal (OR=2,04;
IC95%=1,39-3,00), de meia idade (OR=4,41; IC95%=3,40-5,73) e idosos (OR=14,44; IC95%=4,38-47,65). Na zona rural, a probabilidade de ser hipertenso mais que dobrou entre adultos de meia idade (OR=2,56; IC95%=1,89-3,47), com baixa escolaridade (OR=2,21; IC95%=1,26-3,89) e excesso de peso (OR=2,23; IC95%=1,54-3,22). A HAS foi associada com o padrão alimentar Processado em 2006 (OR=0,60; IC 95%=0,40-0,88), mas o conhecimento e demais aspectos sociodemográficos e antropométricos modificaram esta relação paradoxal em 2015/16 (OR=1,0; IC95%=0,53-1,88). Na última pesquisa, a maior parte dos hipertensos conscientes consumia um padrão alimentar Saudável (79,4%), quando comparado ao Tradicional Regional (p<0,038) ou Ultraprocessado (p<0,023), mas na análise multivariada essa relação foi removida. A influência dos padrões alimentares no controle da PA não foi confirmada (2006:OR=1,62; IC95%=0,23-1,92 e 2015/16:OR=0,81; IC95%=0,38-1,75), porém demanda mais estudos. Conclusão: A prevalência de HAS se manteve estável em adultos de Pernambuco, seu manejo melhorou principalmente na área rural e seus determinantes se mostraram imbricados com os indicadores de desenvolvimento e desigualdade no período do estudo. Para tanto, recomenda-se políticas estruturais com destaque para educação e renda, prioritariamente em áreas rurais; o estímulo a ambientes saudáveis, especialmente em áreas urbanas; e o fortalecimento de sistemas universais de saúde que assegurem o acesso e continuidade do cuidado.