Dissertação
Práticas de leitura de professoras na contemporaneidade & literatura de autoajuda
Teachers’ reading practices in contemporary & self-help literature
Autor
Lopes, Carine Winck
Resumen
Trata-se de estudo sobre o fenômeno da literatura de autoajuda que consta entre as práticas de leitura de autoformação de professoras que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Toma como ponto de partida o atual cenário profissional da educação, caracterizado simultaneamente pelos imperativos da constante atualização e pela desvalorização dos professores. Neste contexto encontra-se em circulação uma farta literatura baseada no modelo da autoajuda (WERNECK, 1996; CHALITA, 2001; TIBA, 2002; CURY, 2003), dirigida aos professores (e a quem interessar ou “julgar-se” educador), com o fim de proporcionar receitas para a obtenção do sucesso pessoal e profissional, além de apresentar-se como alternativa de leitura que visa amenizar frustrações e insatisfações. A primeira hipótese desta pesquisa refere-se à afirmação de que o livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes (CURY, 2003) vem sendo um dentre aqueles mais lidos ou conhecidos entre as professoras que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental, ou seja, formadas em cursos de Pedagogia. O estudo não intenta opor-se a essa leitura de livros de autoajuda pelas professoras, mas objetiva compreender suas razões, indagar em que medida esta literatura é percebida como apoio pedagógico ao invés de um apoio de reflexão. Inspirando-se nos pressupostos teóricos e conceitos da história cultural relativamente à cultura escrita, nos marcos da história do livro e da leitura, o estudo lança uma mirada contemporânea a esse fenômeno a partir de três questões intimamente relacionadas: formação e autoformação de professores; práticas de leitura de professores; literatura de autoajuda no campo da Educação. A investigação foi realizada a partir de 69 questionários e seis entrevistas semiestruturadas colhidos junto a seis escolas de Porto Alegre/RS, sendo duas privadas, duas públicas estaduais e duas públicas municipais. A problematização pautou-se, em especial, nos estudos de autores como Roger Chartier, António Nóvoa, Francisco Rüdiger, Arnaldo Chagas e Arquilau Romão. As narrativas das professoras possibilitaram constatar que estas aceitam a literatura de autoajuda como leitura legítima no campo da Educação. Para essas professoras, as publicações desse gênero têm sintonia com suas expectativas. Para fins de análise, a leitura foi concebida como uma prática complexa, não há significados estáveis nos textos, mesmo naqueles tão prescritivos quanto à literatura de autoajuda. As professoras leitoras inventam muitos sentidos ao que leem, ao que fazem posteriormente com essas leituras, ao que escolhem dentre o que lhes é oferecido pelo mercado editorial. A leitura se apresenta, para as professoras participantes da pesquisa, como uma prática fundamental à produção de suas identidades e intervém sobre como se percebem na condição de educadoras, sobretudo a partir dos modos como são narradas pelos autores de autoajuda cujos textos comparecem dentre suas práticas de leitura. It is the study of the phenomenon of self-help literature in the self-education that appears among readings practice by teachers who work in the early years of elementary school. The starting point is the current teaching professional scenario, which is characterized by both the imperatives of constant updating and teacher depreciation. In this context there is an abundant literature based on the self-help model is available (WERNECK, 1996; CHALITA, 2001; TIBA, 2002; CURY, 2003). Heads straight to teachers (and to whom may be interested or "consider themselves" an educator), in order to provide them formulas to obtain personal and professional success, to ease frustrations and dissatisfactions. The first hypothesis of this research refers to the claim that the book “Pais Brilhantes, Professores Fascinantes” (CURY, 2003) has been one of the most widely read or known among the teachers who work in the early years of elementary school (what means: teachers graduated in Pedagogy). The study does not intend to oppose the self-help books reading by teachers, but aims to understand their reasons and to ask how much this literature is perceived not an educational support, but a support for reflection. Drawing on the theoretical principles and concepts of cultural history in relation to written culture, on landmarks in the history of books and reading, the study releases a glance to this contemporary phenomenon from three closely related questions: teacher education and self- education; reading practices; self-help literature in the field of Education. The study was made conducting a survey of 69 questionnaires and six semistructured interviews collected in six schools of Porto Alegre/RS, two of them private, two public and two municipal public. The theoretical questioning was based in particular on studies of authors such as Anthony Nóvoa, Roger Chartier, Francisco Rüdiger, Arnaldo Chagas and Arquilau Romão. The teachers’ narratives show out that they accept the self-help literature as legitimate reading on the education field. For these teachers, such printed production is consistent with their expectations. For analysis purposes, reading is recognized as a complex practice, there are no stable meanings in texts, even in those prescripts as self-help literature. These readers, or rather, reading teachers, formulate many meanings to what they read, to what they do after that reading and to what they choose among what is offered by the publishing market. The reading is presented, to the teacher which participated in the study, as a fundamental practice for the production of their identities and intervenes in how they perceive themselves in teachers’ condition, especially from how they are reported by the self-help authors whose texts show up among their reading practices.