Tese
Miles Christi Fortissimus Rex Fernandus : a legitimação do poder de Fernando III (1217-1252) na Crônica Latina dos Reis de Castela
Autor
Moretti Junior, Augusto João
Institución
Resumen
Orientador: Prof. Dr. Jaime Estevão dos Reis. Tese (Doutorado em História) - Universidade Estadual de Maringá, 2022. Esta tese tem como objetivo investigar o processo de legitimação do poder de
Fernando III a partir da análise das ideologias e representações desenvolvidas
pelo chanceler do reino de Castela, Juan de Osma, na Crônica Latina dos Reis
de Castela. Fernando III (1217-1252) é lembrado historicamente como um rei
santo e como o maior reconquistador da Península Ibérica medieval. Nascido de
um casamento considerado ilegítimo pela Igreja, o monarca precisou
desenvolver uma série de estratégias políticas e culturais para legitimar seu
poder ao longo de seu reinado. Como base teórica para a análise da legitimação
do poder real de Fernando III, utilizamos a Nova História Cultural (NHC), uma
das fases mais recentes do estudo da História Cultural, desenvolvida,
principalmente, na década de 1990. Influenciada por disciplinas como a
antropologia e a literatura, a NHC surgiu como uma resposta aos problemas
apresentados nas décadas anteriores, especialmente os relacionados aos
problemas epistemológicos. Essa linha teórica visa à construção de uma
narrativa integrada com todas as manifestações culturais e, ao mesmo tempo,
considera o indivíduo como um ponto de referência. Para isso, utilizamo-nos de
autores como Roger Chartier e Gabrielle M. Spiegel, cujas obras possibilitam o
estudo de um "Novo Medievalismo" que busca utilizar esses novos postulados
teóricos em benefício do estudo do medievo, dos quais temos como referência
historiadores como Jaume Aurell e José Fernando Tinoco Díaz. Com o respaldo
desses pressupostos teóricos, analisamos a Crônica Latina dos Reis de Castela
(CLRC) como uma fonte de características únicas da primeira metade do século
XIII, que diferentemente das crônicas contemporâneas a ela, não obteve um
registro histórico glamoroso e não foi celebrada ao longo dos séculos; na
verdade, foi tardiamente descoberta, apenas no início do século XX, pelo
historiador francês Georges Cirot. Apesar de a crônica não indicar o seu autor,
é atribuída ao chanceler de Fernando III, Juan de Osma. Nascido em Soria, no
reino de Castela, Juan se tornou bispo de Osma e Burgos, assim como ocupou
o cargo de chanceler do reino de Castela desde 1217. O cronista apresenta
características particulares se considerarmos o seu período de escrita. Crítico do
neogoticismo, Juan defendeu a hegemonia de Castela e de Fernando III como
líder dos cristãos e da Cruzada na Península Ibérica. Fundamentados em
historiadores como José Nieto Soria, Carlos de Ayala Martínez, Francisco
Bautista e Inés Fernández Ordóñez, investigamos como Juan de Osma, em sua
narrativa, se utilizou de ideologias e representações, presentes em seu contexto
histórico para construir uma imagem capaz de legitimar Fernando III e consolidar
o seu poder em Castela perante os demais reis peninsulares, bem como outros
monarcas europeus além do papado. This thesis aims to investigate the process of legitimizing the power of Fernando
III from the analysis of ideologies and representations developed by the
chancellor of the kingdom of Castile, Juan de Osma, in the Latin Chronicle of the
Kings of Castile. Fernando III (1217-1252) is historically remembered as a holy
king and the greatest reconqueror of the medieval Iberian Peninsula. Born of a
marriage considered illegitimate by the Church, the monarch needed to develop
a series of political and cultural strategies to legitimize his power throughout his
entire reign. As a theoretical basis for the analysis of the legitimacy of the real
power of Fernando III, we used the New Cultural History (NHC), one of the most
recent phases of the study of Cultural History, developed mainly from the 1990s
onwards. Influenced by disciplines such as anthropology and literature, the NHC
emerged as an answer to the problems presented in previous decades,
especially those related to epistemological problems. This theoretical line aims to
build an integrated narrative with all cultural manifestations and, at the same time,
considers the individual as a point of reference. For this, we used authors such
as Roger Chartier and Gabrielle M. Spiegel, who, based on their works, enable
the study of a "New Medievalism" that seeks to use these new theoretical
postulates for the benefit of the study of the medieval, of which we have as
reference historians such as Jaume Aurell and José Fernando Tinoco Díaz.
Based on these theoretical assumptions, we analyze the Latin Chronicle of the
Kings of Castile (CLRC) as a source of unique characteristics from the first half
of the 13th century, which, unlike contemporary chronicles, did not obtain a
glamorous historical record and was not celebrated in over the centuries, in fact,
it was discovered later, only in the beginning of the 20th century, by the French
historian Georges Cirot. Although the chronicle does not indicate its author, it is
attributed to the chancellor of Fernando III, Juan de Osma. Born in Soria, in the
kingdom of Castile, Juan became bishop of Osma and Burgos, as well as held
the position of chancellor of the kingdom of Castile since 1217. The chronicler
has particular characteristics if we consider his period of writing. A critic of neo-
Gothicism, Juan defended the hegemony of Castile and Fernando III as leader of
the Christians and of the Crusade in the Iberian Peninsula. Based on historians
such as José Nieto Soria, Carlos de Ayala Martínez, Francisco Bautista and Inés
Fernández Ordóñez, we investigate how Juan de Osma, in his narrative, used
ideologies and representations present in his historical context to build a capable
image to legitimize Fernando III and consolidate his power in Castile, in front of
the other peninsular kings, as well as of other European monarchs, besides the
papacy.