“A beira do rio é o nosso lugar”: os efeitos da usina hidrelétrica de estreito (MA) e a vida ribeirinha no acampamento Coragem em Palmeiras do Tocantins (TO)
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MACHADO, Laylson Mota. “A beira do rio é o nosso lugar”: os efeitos da usina hidrelétrica de estreito (MA) e a vida ribeirinha no acampamento Coragem em Palmeiras do Tocantins (TO).2020. 138f. Dissertação (Mestrado em Estudos de Cultura e Território) – Universidade Federal do Tocantins, Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território, Araguaína, 2020.
Autor
Machado, Laylson Mota
Institución
Resumen
The energy production generated by the hydroelectric plants constitutes the Brazilian
energetic model to promote the national economy. The construction of those achievements
has occasioned irreversible effects on the social environment, peoples and traditional
communities, causing some changes in the social, cultural, and economic ambiance of
innumerable populations that suffer the deterritorialization effects. Those achievements are
the fundamental axes of the State promotion and the entrepreneurs that divulge the
developmental and progressive discourse that points out that the implantation of dams
emerges for the development of the country. Estreito Hydroelectric Plant (UHEE) is a
distinction between those projects that emerge with the impulse of the national economy. It
was built in 2007 and since that, it is causing irreversible effects to the affected populations
such as the riverine community of Acampamento Coragem that with the emergence of the
plant, was deterritorialized. Fishermen/fisherwomen form a group that, nowadays, occupy
territory in Palmeiras do Tocantins (TO) as a form of claiming its denied rights by Consórcio
Estreito Energia (CESTE). The community is compound by thirty-six families, having one
hundred camped that are disputing judicially the land that occupies today, struggling against
the entrepreneurs of the plant. This research aims to investigate the perceptions of
Acampamento Coragem inhabitants in relation to the effects of the UHE of Estreito
achievement on its community. The main object of this study was to analyze the effects and
conflicts according to UHE de Estreito in the riverine community of Acampamento Coragem.
For achieving those objectives was employed the qualitative inquiry as methodology using
oral life history, permeating the phenomenology perception as focus of the discussion study.
In addition, there was the application of some interviews to 12 families between July and
September 2019. They had 40 questions about identification and history of inhabitants,
memory of the place, UHEE impact, perspectives and expropriation process and socio-spatial
impact of the affected people of Acampamento Coragem. The data instruments were the
participant observation in the community and social mapping of the occupied territory, which
contributed to the elaboration of interdisciplinary research. Before that, the practices made by
the inhabitants of the community evidence that, since the installation of the plant, the
population has been against that project and struggled for the rights that the entrepreneurs
violated. We point out the riverine culture as a resistance mode either because the rights,
occupation, planting, producing and collecting that are cultural ways of continuing their
professional practices. We emphasize the community suffering from the effects in fish
production that drastically decayed because of the plant building, which evidences the ways
that the dam still generates effects on the affected population after its building. O modelo energético brasileiro constitui-se a partir da produção de energia gerada pelas
usinas hidrelétricas, para promover a economia nacional. A construção desses
empreendimentos tem causado efeitos irreversíveis ao meio ambiente social e aos povos e
comunidades tradicionais, causando mudanças no meio social, cultural e econômico de
inúmeras populações que sofreram com os efeitos da desterritorialização. Tais
empreendimentos são os eixos basilares de fomento do Estado e dos empreendedores que
propagam o discurso desenvolvimentista e do progresso, destacando que a implantação das
barragens surgem para o desenvolvimento da nação. A Usina Hidrelétrica de Estreito (UHEE)
é destaque entre estes empreendimentos que surgiram com a proposta impulsionadora da
economia nacional. Sua construção teve início em 2007 e, desde essa época, vem causando
efeitos irreversíveis às populações atingidas, dentre as quais destaca-se a comunidade
ribeirinha do Acampamento Coragem que foi desterritorializada com o advento da usina.
Trata-se de um grupo de pescadores/as que atualmente ocupam um território em Palmeiras do
Tocantins (TO) como forma de reivindicação dos direitos negados pelo Consórcio Estreito
Energia (CESTE). A comunidade é composta por trinta e seis famílias, tendo
aproximadamente cem acampados, que atualmente disputam judicialmente a terra que hoje
ocupam, lutando contra os empreendedores da usina. Esta pesquisa se desdobrou em
investigar quais as percepções dos moradores do Acampamento Coragem em relação aos
efeitos do empreendimento da UHE de Estreito sobre a sua comunidade. O objetivo geral
deste estudo foi analisar os efeitos e conflitos em torno da UHE de Estreito na comunidade
ribeirinha do Acampamento Coragem. Para alcançar tais objetivos, percorreu-se o caminho
metodológico da pesquisa qualitativa, com uso da história oral de vida, permeando a
percepção fenomenológica como escopo de discussão desse estudo, assim como aplicação de
roteiro de entrevistas a 12 famílias entre julho e setembro de 2019 com 40 questões que
questionavam sobre: identificação e história dos moradores; memória do lugar; impactos da
UHEE, processo de desapropriação e perspectivas dos atingidos e impactos socioespaciais no
Acampamento Coragem. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram a observação
participante realizada na comunidade e mapeamento social do território ocupado, o que
contribuiu para a elaboração de uma pesquisa interdisciplinar. Diante disso, evidencia-se nas
práticas realizadas pelos moradores da comunidade que, desde a instalação da usina, essa
população tem se manifestado contra o empreendimento e lutado pelos direitos que foram
violados pelos empreendedores. Destacamos a cultura ribeirinha como um modo de
resistência, seja pelos direitos, pela ocupação, pelo plantar, produzir, criar e colher que são
culturalmente formas de continuar exercendo suas práticas profissionais. Enfatizamos como a
comunidade tem sofrido com os efeitos na produção pesqueira que decaiu drasticamente em
razão da construção da usina, evidenciando as formas que a barragem, mesmo após sua
construção, ainda gera efeitos às populações atingidas.