Dissertação
A plataformização do trabalho não tem rosto de mulher: as experiências e percepções de condutoras
Autor
Pereira, Maria Júlia Tavares
Institución
Resumen
Neoliberalism, financialization and datafication are the result of transformations
observed over the last few decades, characterizing the perfect context for the
emergence of a new business model: work platforms. They do not consider themselves
as employers, but mediators between self-employed people and consumers, who
connect with each other through them. However, the platforms define all the working
conditions, culminating in the subordination of the workers. Platforms have spread
across different sectors of the economy since they emerged, consolidating specific
governance, and work relationships. This research focuses on analyzing four ridehailing platforms in Juiz de Fora/MG: Uber, 99App, Livre and Para Elas Mobilidade. It
was sought to show that, just as the platforms vary depending on the sector in which
they operate, the experiences and perceptions of workers also have specificities, on
this case, gendered specificities. For this purpose, I did a netnographic investigation
on a WhatsApp group chat in which there are only female conductors. In addition, semistructured interviews were carried out to discuss issues that could not be investigated
in depth with data from the group. As a result, it was found that workers face problems
already pointed out about platform work in other studies – low rates, long hours,
subordination to platforms, among others –, but also issues in which the gender of the
worker is decisive: moral and sexual harassment, extension of working hours due to
reproductive and care work, and the subjective capture by the platforms, who
appropriate terms associated with social and political movements of women and other
social minorities to attract more workers. It is identified, therefore, that the
precariousness of work intensified by platformization also reproduces an unequal
sexual division of the labor. O tripé neoliberalismo, financeirização e dataficação, resultado de
transformações observadas nas últimas décadas, caracteriza o contexto perfeito para
a emergência de um novo modelo empresarial: as plataformas de trabalho. Elas não
se consideram empregadoras, mas apenas mediadoras de serviços entre
autônomos/as e consumidores/as que se conectam através delas. Entretanto, são as
plataformas que definem todas as condições de trabalho, culminando na subordinação
dos/as trabalhadores/as. As plataformas têm se espraiado por diferentes setores da
economia desde que emergiram, consolidando governanças e relações de trabalho
com suas especificidades. A presente pesquisa analisa um desses setores, tendo
como foco quatro plataformas de transporte na cidade de Juiz de Fora/MG: Uber,
99App, Livre e Para Elas Mobilidade. Buscou-se evidenciar que, assim como as
plataformas variam a depender do setor no qual se inserem, as experiências e
percepções dos/as trabalhadores/as também possuem especificidades, neste caso,
generificadas. Para tanto, foi realizada uma netnografia em grupo de WhatsApp no
qual há apenas condutoras da cidade. Ademais, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas para abarcar questões que não puderam ser desenvolvidas em
profundidade através do grupo. Como resultados, verificou-se que as trabalhadoras
enfrentam as problemáticas já apontadas sobre o trabalho plataformizado em outras
pesquisas – baixas taxas, longas jornadas, subordinação às plataformas, dentre
outras –, mas também questões em que o gênero da trabalhadora é determinante:
assédio moral e sexual, extensão das jornadas devido aos trabalhos reprodutivo e de
cuidado, e cooptação por parte das plataformas, que se apropriam de termos
associados a movimentos sociais e políticos de mulheres e outras minorias sociais
para atrair mais trabalhadoras. Identifica-se, portanto, que também a precarização do
trabalho intensificada pela plataformização reproduz uma divisão sexual desigual. CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior