A guerra russo-ucraniana pode ser considerada um marco inicial da nova ordem internacional que está sendo construída atualmente. Diante das sanções econômicas e do isolamento do Estado russo, pensou-se que facilmente o presidente russo Vladimir Putin seria deposto e a “operação militar especial” seria interrompida. No entanto, as razões que o levaram ao ataque contra um outro Estado são compartilhadas também por aqueles que o colocaram no poder. Esta monografia tem como objetivo argumentar que a permanência da legitimidade de Putin frente à invasão da Ucrânia se deve ao processo de securitização bem-sucedido da expansão da OTAN e da UE de modo que a população passasse a apoiar uma maior centralização do poder estatal e uma política externa mais agressiva em defesa da soberania e da identidade russas. Como se deu esse processo? Primeiro, é apresentada uma conjuntura histórica e política da Rússia após o colapso da URSS, especialmente durante o governo Putin, explorando a evolução da ideologia no seu regime, a herança autoritária na configuração atual do Estado russo e o cenário geopolítico que justifica a política externa russa atual. Esses elementos contribuirão para a análise dos 4 discursos do presidente Putin que antecedem as agressões cometidas pelo país no século XXI a partir de três apelos: à história e cultura comuns à região pós-soviética, ao direito internacional e à proteção da população russa que vive fora do seu território de origem. O intuito desta arguição é identificar as mudanças sociais que levam o agente securitizador a modificar seu discurso a fim de manter a legitimidade e de produzir um maior impacto sobre a ameaça que se apresenta.