Esta pesquisa refere-se à temática Ouvidores de Vozes e sua relação com a saúde mental, baseando-se na abordagem do Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes (HVM) e na perspectiva psicanalítica acerca desse fenômeno. Tem por objetivo analisar as relações entre as experiências de vida e sofrimento psíquico com o fenômeno de ouvir vozes. Esse estudo tem como premissa compreender a possível conexão entre o conteúdo das vozes e a história de vida de pessoas que ouvem vozes, buscando também aproximações entre os modelos de cuidados propostos pela abordagem do HVM e pelo CAPS. Esse tema é de relevância por se tratar de um fenômeno que é mal compreendido socialmente, sendo cercado por preconceitos e estigmas que resultam na exclusão social de pessoas que ouvem vozes, impactando nos cuidados que estas recebem nas redes de saúde. A metodologia utilizada foi a qualitativa, em que a análise de dados e construção da informação se baseou na Hermenêutica de Profundidade (HP). Os dados foram coletados a partir de diários de campo; uma entrevista semiestruturada, que foi realizada com uma psicóloga que atua no campo da saúde mental; e uma entrevista narrativa, que foi realizada com uma ouvidora de vozes. A partir das análises, das vivências no cotidiano do CAPS e da articulação com a literatura, foi observado que para o sujeito traçar suas elaborações e dar sentido às vozes é essencial que se tenha um espaço de escuta e de fala acolhedor, despatologizante e desestigmatizante associado com outras estratégias, tais como o recurso narrativo no compartilhamento de histórias; e a convivência como dispositivo de cuidado.