Dissertação
Ascetismo e colonização : o labor do missionário dos beneditinos na América portuguesa (1580-1656)
Autor
Tavares, Cristiane
Institución
Resumen
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto M. de Lima Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Parana, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em História. Defesa: Curitiba, 30/07/2007 Bibliografia: fls. 160-165 Resumo: A vinda das ordens religiosas para a América portuguesa estava diretamente liga-da à evangelização indígena. Os monges beneditinos, pertencentes a uma ordem religiosa as-cética - voltados para uma vida contemplativa intramuros -, ao fundaram seu primeiro mos-teiro no Novo Mundo, em 1582, chegaram trazendo uma obrigação: a conversão dos amerín-dios. Para acomodar o labor missionário, os primeiros monges tiveram que congregar o asce-tismo com a evangelização. Para os religiosos em clausura, seu exemplo de vida já era sua missão. Muitas pessoas se converteriam apenas em observar as virtudes e os sacrifícios dessa comunidade cristã. Contudo, não era isso que se esperava dos beneditinos na América portuguesa, a prática de evangelização deveria ser ativa, como era dos jesuítas e franciscanos. Mas como adequar esse tipo de trabalho de missionação com as atividades monásticas? Sem a possibilidade de romper com o claustro, os monges trouxeram os indígenas para dentro de suas propriedades, resolvendo dois problemas: a necessidade de um projeto missionário e a utilização da mão-de-obra nativa nas fazendas e mosteiros da Ordem com um propósito cristão: a conversão dos ameríndios a fé católica. Os beneditinos reforçavam sua posição de asceta, ao mesmo tempo, que, nos trópicos, deixaram a clausura ser mais maleável com seus membros e passaram a participar da clausura elementos da sociedade colonial. Esse novo atributo dos padres bentos nos trópicos desencadeou uma série de mu-danças institucionais para os mosteiros do ultramar. Instalados na América portugueses os religiosos de São Bento, em função das mesmas dificuldades e interesses, formaram um grupo coeso capaz de inúmeros embates com a Congregação Beneditina Portuguesa, que os enviou ao Novo Mundo, a fim de garantir a anulação ou amenização de regras e estatutos vigentes para os beneditinos do Reino, mas não adequados a realidade na América portuguesa. A Con-gregação procurou remediar a situação com medidas paliativas, mas que não conseguiram contrapor as dificuldades enfrentadas na colônia. Em 1656 resolveu criar uma Junta, compos-ta por religiosos do Brasil, para legislar sobre os assuntos referente à Província. Os mosteiros beneditinos adquiriram o direito de se autogovernarem, segundo a conveniência da Ordem na América portuguesa. Esta é, portanto, a temporalidade da pesquisa abarca desde a fundação do primeiro mosteiro, em 1582, até a criação da Junta, em 1656. Entendemos que esses conflitos institucionais ressaltam que os monges na Améri-ca, devido às novas necessidades e preocupações, formularam uma outra Ordem de São Ben-to, e essa "outra" ordem pode ser identificada nas suas práticas. Salientamos o atendimento religioso dos monges aos indígenas e aos brasílicos. Em relação aos ameríndios, os documen-tos apontam que os monges viam a escravidão dos nativos com um meio para a propagação da fé, ao mesmo tempo, também promoviam a pregação e conversão de indígenas nas aldeias. E, ainda, relacionaram-se com alguns autóctones, mediante a ponte da religião católica e da inte-gração através da mestiçagem, num contato que beirou a paridade social, pela visão dos reli-giosos, entre o colono ibérico católico e o indígena convertido. Por outro lado, temos as atividades pastorais dos monges junto aos brasílicos, um relacionamento baseado em alianças veladas. Quando os colonos solicitaram a presença dos beneditinos buscavam trazer uma instituição que pudesse coroar a colônia com religiosos do claustro, clérigos para os colonos. Através das doações e sesmarias, os colonos angariavam para si favores espirituais, por exemplo, missas e sepulturas perpétuas, irmandades. Porém, os religiosos, mediante as doações e esmolas, não podiam driblar os interesses dessa elite, o que os colocava numa posição de alinhamento aos interesses da mesma e da própria administração colonial. Neste sentido, os beneditinos, apoiando os poderes locais, ganhavam com isso muito "favores", bens, escravos e propriedades, construindo um vultoso patrimônio com a ajuda das doações e das atividades econômicas que desenvolveram.