Tese Digital
Tumulto de clarão e sombra : visões do mito em Ricardo Reis e Sophia de Mello Breyner Andresen
Autor
Camargo, Luiz Rogério
Institución
Resumen
Orientadora: Prof . Dr. Patricia da Silva Cardoso Tese (doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Letras. Defesa : Curitiba, 29/03/2018 Inclui referências: p.521-539 Área de concentração: Estudos literários Resumo: Este trabalho investiga a presença de três mitos na poética de Ricardo Reis e de Sophia de Mello Breyner Andresen, a saber, Apolo, Dioniso e Cristo. Considerando que os dois poetas apresentam traços do que se pode chamar de uma visão de mundo fortemente marcada pela tradição da antiguidade greco-romana, a presença dos deuses olímpicos é uma constante em seus versos. Todavia, quando analisados pelo viés da tensão e do paradoxo, fio condutor desta proposta, é possível perceber que, longe da tranquilidade e da harmonia buscadas no modelo clássico, sobretudo no tocante à Grécia como representação ideal de ordem e unidade, a presença de tais mitos resulta em uma constante fonte de conflitos, seja quando analisados individualmente, seja quando postos em contraste. Isso porque, de um lado, está o que comumente se chama de uma postura apolínea, ou seja, uma visão pautada pela luminosidade, pela disciplina, pela placidez e pelo domínio de si, caracteres que seriam provenientes de Apolo, senhor do Oráculo de Delfos. Em contraponto a ele, está a figura de Dioniso, normalmente associada ao vinho, ao ambiente noturno das festas orgíacas, ao desregramento e à possessão. Em geral percebidos como representantes de perspectivas bastante distintas, esses dois mitos aparecem na poesia de Reis e de Sophia de maneira paradoxal, de modo que o comportamento apolíneo não está isento de negatividade, e o dionisíaco tampouco deixa de apresentar elementos positivos, sempre retrabalhados à maneira particular de cada poeta. Somando-se a esses dois deuses do panteão grego, a figura de um terceiro deus, Cristo, representante de uma mitologia bastante diversa, aparece como mais um fator de tensão. Isso se deve ao fato de que, em seu projeto poético, Reis tentará integrar Cristo ao panteão como um deus a mais, sem, no entanto, aceitar o cristianismo que ele traz consigo. Já Sophia, por sua vez, trabalhará tanto com a perspectiva grega quanto com a cristã, sem grandes preocupações no tocante às visíveis diferenças entre os sistemas. Assim sendo, no lugar de servir de base para uma relação de harmonia e comunhão, tanto no plano humano quanto no divino, toda essa gama de relações, contraditórias na essência, permanece como fator de conflitos que jamais se resolvem por completo, tanto sob a ótica de Reis, como na perspectiva de Sophia. Palavras-Chave: Ricardo Reis; Sophia de Mello Breyner Andresen; Mito; Tensões; Apolo; Dioniso; Cristo. Abstract: This paper investigates the presence of three myths in the poetics of Ricardo Reis and Sophia de Mello Breyner Andresen, namely, Apollo, Dionysus and Christ. Considering that both poets have traces of what may be called a world perspective strongly marked by the tradition of Greco-Roman antiquity, the presence of the Olympian gods is a constant in their verses. However, when analyzed by the bias of tension and paradox, the guiding thread of this proposal, it is possible to perceive that, far from the tranquility and harmony sought in the classical model, especially as regards to Greece as an ideal representation of order and unity, the presence of such myths results in a constant source of conflict, either when analyzed individually or when contrasted. This is because, on the one hand, there is what is commonly called an Apollonian posture, that is, a vision guided by luminosity, discipline, placidity and self-control, characters that would come from Apollo, lord of the Oracle of Delphi. In contrast to him, there is the figure of Dionysus, usually associated with wine, the nocturnal atmosphere of the orgiastic feasts, the debauchery and the possession. Generally perceived as representatives of quite different perspectives, these two myths appear in the poetry of Reis and Sophia in a paradoxical way, so that the Apollonian behavior is not exempt from negativity, and the Dionysian one also fails to present positive elements, always reworked to the particular way of each poet. Adding to these two gods of the Greek pantheon, a figure of a third god, Christ, representative of a rather different mythology, appears as another factor of tension. This is due to the fact that, in his poetic project, Reis will try to integrate Christ into the Pantheon as one more god, without, however, accepting the Christianity that he brings along. Sophia, on the other hand, will work with both the Greek and the Christian perspectives, without major concerns about the visible differences between the systems. Therefore, instead of serving as a basis for a relation of harmony and communion, both on the human and the divine levels, this whole range of relations, contradictory in essence, remains a factor of conflicts that can never be completely resolved, both under Reis's perspective, as well as under Sophia's vision. Key-words: Ricardo Reis; Sophia de Mello Breyner Andresen; Myth; Tensions; Apollo; Dionysus; Christ.