Dissertação
A institucionalização do parto e do ensino de parteiras : os cursos de enfermagem obstétrica da Faculdade de Medicina do Paraná / Maternidade Victor do Amaral (1922-1951)
Autor
Farias, Fabiana Costa de Senna Ávila
Institución
Resumen
Orientador : Vera Regina Beltrão Marques Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação. Defesa: Curitiba, 2010 Inclui bibliografia Resumo: A institucionalização do ensino de parteiras em Curitiba com a criação dos Cursos de Enfermagem Obstétrica no período compreendido entre 1922 e 1951, objeto de estudo deste trabalho, apresenta-se sob os discursos médicos da modernidade que afloraram com a urbanização da cidade e envolve relações de gênero. O parto tinha no domicílio o seu local historicamente construído e as curitibanas confiavam principalmente às "curiosas" e parteiras práticas licenciadas a administração desse evento. Acreditando ter na higiene, educação e eugenia, os instrumentos que permitiriam ocupar o território paranaense com uma prole "melhorada na raça, robustez e saúde", os médicos apregoavam o deslocamento da tríade parteira-parto-parturiente a um ambiente passível de supervisão médica: a Maternidade. Isto significa que não se tratou de excluir as parteiras, mas fazê-las auxiliares, num processo de perda de autonomia que, por sua vez, transferia a legitimidade do partejar aos médicosparteiros. O ano de 1914 foi marcado pela inauguração a primeira Maternidade do Paraná, mantida pela Faculdade de Medicina e batizada em 1930 de Maternidade Victor do Amaral, local privilegiado para as aulas teóricas e práticas da Escola de parteiras práticas ou
enfermeiras especializadas (1922-1931) e do Curso de Enfermagem Obstétrica (1931-1951). A fim de averiguarmos o perfil das formadas pelos dois cursos localizamos nos livros de títulos profissionais o registro de seus certificados nos órgãos de saúde. Outra fonte importante foi a entrevista obtida com um dos professores do Curso de Enfermagem Obstétrica, atuante na década de 1940. A fim de adentrarmos os discursos médicos nossa fonte privilegiada foi a Revista Médica do Paraná e para dar embasamento teórico à questão da legitimação desses discursos nos reportamos aos conceitos de "fichas simbólicas" e "sistema de peritos" do sociólogo Anthony Guiddens. As questões de gênero são analisadas à luz dos escritos da historiadora María Soledad Zárate. Verificamos neste estudo que o termo "enfermeira", ao invés de "parteira", é incorporado tanto ao nome do curso quanto à titulação. Analisamos que esse distanciamento do "médico-parteiro" para uma aproximação com a "enfermeira", detentora de menor autonomia do que a parteira e compreendida como auxiliar do serviço realizado pelo médico dentro do hospital produziu uma categoria mista, a que denominamos de enfermeira-parteira. Abstract: The institutionalization of the midwives teaching in Curitiba with the establishment of the Obstetrical Nursing Courses within the period 1922 and 1951, which is the study object of this work, is presented under the doctors’ discourses of modernity that emerged from the urbanization of the city and involves gender relations. Giving birth at home was a historically built site and the women from Curitiba primarily relied on "curious" and licensed midwifes to carry on this event. Hygiene, teaching and eugenics were believed by the doctors to be the instruments that would allow an occupation in the paranaense territory with an improved offspring in terms of breed, robustness and health. For this reason, these doctors proclaimed the changing of the triad midwife- delivery- mother to an environment susceptible to medical supervision: the maternity hospital. It does not mean to dismiss the midwives, but make them assistants in a process of loss of autonomy that transferred to the doctors the legitimacy of the childbirth. The year 1914 saw the inauguration of the first Maternity Hospital of Paraná, maintained by the Medical School and named Maternity Hospital Victor do Amaral in 1930, a privileged place for theoretical and practical classes of the idwives or specialized nurses School (1922-1931) and the Obstetrical Nursing Course (1931-1951). In order to ascertain the profiles of both courses graduates, we found the register of their certificates on health
agencies in books of professional qualifications. An interview with one of the professors of the Obstetrical and Nursing School, active in the 1940s, was also an important source. In order to access the doctors’ discourses, our privileged source was the Medical Journal of Paraná and to provide theoretical foundation to these discourses legitimacy we referred to the concepts of "symbolic files" and "experts system" of the sociologist Anthony Guiddens. Gender issues are considered in light of the historian María Soledade Zárate’s writings. We observed that the word "nurse", instead of "midwife", is incorporated both to the name of the course and the entitlement. We realized that this distance from "doctor" to an approach to the "nurse", who holds less autonomy than the midwife and is seem as a doctor’s assistant inside the hospital, produced a mixed category, which we call nurse-midwife.