Tese
Deslocamento compulsório em Breu Branco: experiência da perda e perda da experiência na dinâmica de habitar
Registro en:
Autor
MERCÊS, Jorge Augusto Santos das
Institución
Resumen
This research deals with the memory of people compulsorily displaced since 1984 by the
implementation of the Tucuruí Hydroelectric Power Plant (UHE-Tucuruí). From a
phenomenological approach to the problem, the thesis proposes to understand and describe the
flows of memory of an event of intense violence in what is lost, sometimes in the form of
concealment of meaning as a political strategy; sometimes as an interdiction of the signifier in the
chain of meaning, aiming at the contribution of this dynamic to the conformation of affections
related to dwelling. For this purpose, field research with an ethnographic profile was carried out
in intermittent months between 2016, 2017 and 2018 and in 2022. During the periods of field
work, participant observation was carried out, with immersion in the daily life of the interlocutors
of this research, consultation with personal files composed , above all, for photos; as well as
carrying out semi-structured and non-structured interviews with compulsorily displaced people in
the municipality of Breu Branco during the first phase of the UHE-Tucuruí works, which took place
between the years 1970 and 1980. The filling of the reservoir of this hydroelectric plant caused
the submersion of fourteen villages, among them, Breu Velho (object of this research). Bearing
in mind that this research was carried out in parts during the new coronavirus pandemic (2020-
2022), field research was conditioned by the severity of the problem at each moment, bearing in
mind that my interlocutors are elderly people and, therefore, , were part of the risk group in the
ongoing pandemic until that moment. The data demonstrate how the phenomenon of intense
violence implied in compulsory displacement operates through the dynamics of inheritance – the
latencies and silences of the social process that keeps memory in the field of dispute. In this way,
on the one hand, the rationalized silences in the social process of dispute over memory find a
way of enunciation in alternative environments to the rules that the dominant rationality in
disciplinary institutions imposes on what it considers reasonable. On the other hand, as an
ontological experience of trauma through the interdiction of the signifier, the silences, the voids
of meaning, can be glimpsed either in the symptoms that the trauma manifests when introducing
the law of repetition of symptomatic acts present in the structure of action of the subjects, or by
the outline that the meanings make of this experience, coloring the narratives about the
experience of loss with melancholic affection. It is emphasized that, in the case in question, the
reparation processes operate in a region of the Being different from that in which the trauma is
inscribed; since the objectification of the loss is conducted on ontic soil, while the trauma is
manifested in an ontological region. Esta pesquisa trata da memória de pessoas deslocadas compulsoriamente desde 1984 pela
implantação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHE-Tucuruí). A partir de uma abordagem
fenomenológica do problema, a tese se propõe a compreender e descrever os fluxos da memória
de um evento de intensa violência naquilo que dela se perde, ora na forma de ocultamento do
significado como estratégia política; ora como interdição do significante na cadeia de
significação, visando a contribuição desta dinâmica para conformação de afetos relativos ao
habitar. Para este objetivo foi realizada pesquisas de campo com perfil etnográfico em meses
intermitentes entre 2016, 2017 e 2018 e em 2022. Durante os períodos de trabalho de campo foi
realizada observação participante, com imersão no cotidiano dos interlocutores desta pesquisa,
consulta a arquivos pessoais compostos, sobretudo, por fotos; bem como realização de
entrevistas semiestruturadas e entrevistas não-estruturadas com pessoas deslocadas
compulsoriamente no município de Breu Branco durante a primeira fase das obras da UHE Tucuruí, ocorrida entre os anos de 1970 e 1980. O enchimento do reservatório desta hidrelétrica
ocasionou a submersão de quatorze povoados, entre eles, o Breu Velho (objeto desta pesquisa).
Tendo em vista que esta pesquisa foi realizada em partes durante a pandemia do novo
coronavírus (2020-2022), as pesquisas de campo foram condicionadas pela gravidade do
problema em cada momento, tendo em vista que os meus interlocutores são pessoas idosas e,
por isso, faziam parte do grupo de risco na pandemia em curso até aquele momento. Os dados
demonstram como o fenômeno de intensa violência implicado no deslocamento compulsório
opera através da dinâmica da herança – das latências e silêncios do processo social que mantém
a memória no campo da disputa. Deste modo, por um lado, os silêncios racionalizados no
processo social de disputa sobre a memória encontram caminho de enunciação em ambientes
alternativos às regras que a racionalidade dominante nas instituições disciplinares impõe ao que
considera razoável. Por outro lado, como experiência ontológica do trauma pela interdição do
significante, os silêncios, os vazios de significação, podem ser entrevistos seja nos sintomas que
o trauma manifesta ao introduzir a lei da repetição dos atos sintomáticos presentes na estrutura
de ação dos sujeitos, seja pelo contorno que os significados fazem desta experiência, matizando
com afeto melancólico as narrativas acerca da experiência da perda. Ressalta-se que, no caso
em foco, os processos de reparação operam em região do Ser distinta daquela em que o trauma
se inscreve; visto que a objetificação da perda se conduz sobre solo ôntico, enquanto o trauma
se manifesta em região ontológica. Esta investigación trata de la memoria de las personas desplazadas forzosamente desde 1984
por la implantación de la Usina Hidroeléctrica de Tucuruí (UHE-Tucuruí). Desde un abordaje
fenomenológico del problema, la tesis se propone comprender y describir los flujos de memoria
de un evento de intensa violencia en lo que se pierde, a veces bajo la forma de ocultamiento de
sentido como estrategia política; a veces como interdicción del significante en la cadena de
sentido, visando la contribución de esta dinámica a la conformación de afectos relacionados con
el habitar. Para ello, se realizó una investigación de campo con perfil etnográfico en meses
intermitentes entre 2016, 2017 y 2018 y en 2022. Durante los periodos de trabajo de campo se
realizó observación participante, con inmersión en el cotidiano de los interlocutores de esta
investigación, consulta de archivos personales compuestos, sobre todo, por fotografías; así como
la realización de entrevistas semiestructuradas y no estructuradas con desplazados forzosos en
el municipio de Breu Branco durante la primera fase de las obras de la UHE-Tucuruí, que se llevó
a cabo entre los años 1970 y 1980. El llenado del embalse de esta hidroeléctrica provocó el
hundimiento de catorce aldeas, entre ellas, Breu Velho (objeto de esta investigación). Teniendo
en cuenta que esta investigación se realizó en partes durante la pandemia del nuevo coronavirus
(2020-2022), la investigación de campo estuvo condicionada por la gravedad del problema en
cada momento, teniendo en cuenta que mis interlocutores son personas de la tercera edad y,
por tanto, formaban parte del grupo de riesgo en la pandemia en curso hasta ese momento. Los
datos demuestran cómo el fenómeno de la violencia intensa implicada en el desplazamiento
forzoso opera a través de la dinámica de la herencia: las latencias y silencios del proceso social
que guarda la memoria en el campo de la disputa. Así, por un lado, los silencios racionalizados
en el proceso social de disputa por la memoria encuentran una forma de enunciación en entornos
alternativos a las reglas que la racionalidad dominante en las instituciones disciplinarias impone
a lo que considera razonable. Por otra parte, como experiencia ontológica del trauma a través de
la interdicción del significante, los silencios, los vacíos de sentido, pueden vislumbrarse tanto en
los síntomas que el trauma manifiesta al introducir la ley de repetición de los actos sintomáticos
presentes en la estructura de acción de los sujetos, o por el trazo que los significados hacen de
esta experiencia, tiñendo de afecto melancólico los relatos sobre la experiencia de pérdida. Se
destaca que, en el caso en cuestión, los procesos de reparación operan en una región del Ser
diferente a aquella en la que se inscribe el trauma; ya que la objetivación de la pérdida se realiza
en suelo óntico, mientras que el trauma se manifiesta en una región ontológica.