Artigo de Periódico
Tabus alimentares em medicina: uma hipótese para fisiopatologia referente aos alimentos remosos
Food taboos in medicine: a hypothesis for pathophysiology regarding harmful food
Registro en:
0104-4230
Autor
BRITO JUNIOR, Lacy Cardoso de
ESTACIO, Adriana Guimarães
Institución
Resumen
Introduction: Human eating habits in the Amazon, especially in riparian communities, include a series of dietary restrictions (taboos) resulting, in part, from the cultural miscegenation (Native Brazilians, Africans, and Portuguese settlers) that occurred during the formation of this population.1 Among these food taboos, the most important refers to foods considered “remosos” (harmful), an adjective attributable to foods that have “reima”, i.e., that affect the blood and cause itching.2 In the popular Amazon vocabulary, “remosos” foods are heavy foods derived from pork; seafood such as crab, shrimp, scaleless fish; and cascudos, such as the tamuata; birds such as ducks; and some wild animals such as lowland pacas and capybaras. These foods should not be eaten by people at risk, for example, postoperative patients and people with infections, inflammations, or injuries, because of the risk of increasing tissue damage, creating pus, and exacerbating the inflammatory process.3,4 This recommendation, although not fully accepted by local physicians, is frequently made by some local doctors to postoperative patients. However, there are very few studies evidencing the pathophysiology of the effect of these foods on healing and inflammatory processes. Thus, the objective of this study was to promote a short review about the topic of foods considered “remoso” and to propose a theoretical hypothesis for this phenomenon based on fundamentals of immunology and of the Amazon ecosystem in order to scientifically help physicians to understand this phenomenon and treat patients from these regions. Introdução: Os hábitos alimentares humanos na Amazônica, em especial nas comunidades ribeirinhas, incluem uma série de restrições alimentares (tabus) decorrentes, em parte, da miscigenação cultural (indígena, negra e colonizadores portugueses) ocorrida na formação desta população1. Dentre estes tabus alimentares, o mais importante refere-se aos alimentos considerados remosos, adjetivo atribuído a alimentos que têm reima, isto é, que prejudicam o sangue e causa prurido2. No vocabulário popular amazônico, comidas remosas são comidas fortes derivadas de carne de porco; mariscos, como caranguejo e camarão; peixes de pele e cascudos, como tamuatá; aves, como patos; e algumas caças, como paca e capivara, que não devem ser consumidas por pessoas em situação de risco, como, por exemplo, em pós-operatórios, com quadros de infecção ou inflamações, e ferimentos, sobrisco de aumentar os danos teciduais, gerar a formação de pus e exacerbar o processo inflamatório3,4. Esta recomendação, embora não totalmente aceita pela classe médica local, é frequentemente feita por alguns dos médicos da região a pessoas em pós-cirúrgico. A comprovação da fisiopatologia da ação destes alimentos sobre os processos de cicatrização e inflamatório, todavia, ainda é pouco estudada. Assim, o objetivo deste estudo foi promover uma minirrevisão sobre o tema remoso e propor uma hipótese teórica para este fenômeno, baseada em fundamentos de imunologia e do ecossistema amazônico, de forma a auxiliar cientificamente os médicos no entendimento do mesmo e no atendimento a pacientes provenientes desta região.