O presente trabalho faz uma análise de como a mudança na política econômica brasileira na década de 1990 impactou a indústria de calçados na região do Vale dos Sinos. A indústria de calçados se iniciou no Século XIX no Rio Grande do Sul por meio de imigrantes alemães e italianos que trouxeram consigo a técnica de curtimento do couro. Ao longo dos anos, diversas empresas começaram a ingressar na indústria que logo formaria o arranjo produtivo calçadista no Vale do Rio dos Sinos. Por décadas, foi a principal aglomeração do país, contribuindo expressivamente para a geração de investimentos e empregos na região, tendo Novo Hamburgo como principal força econômica do aglomerado. Em 1990, a mudança da política econômica brasileira que promoveu a abertura econômica, afetou diretamente o APL calçadista. A partir desse ano, as taxas de exportações foram diminuindo, a moeda real elevou o poder de importação dos brasileiros e a China se lançou no mercado mundial com preços mais competitivos. Essa série de fatores levou à perda de competitividade brasileira no mercado nacional e internacional. O APL calçadista do Vale do Rio do Sinos entrou em recessão e uma nova divisão de trabalho se estabeleceu no país. Calçados femininos de qualidade mais elevada continuaram na região do Sul do país. No entanto, os calçados masculinos e de crianças com qualidade elevada, se estabelecerem no interior de São Paulo, enquanto novas empresas com alta tecnologia, surgiram no Nordeste do país para produção de calçados de baixa qualidade. O trabalho mostra que a indústria calçadista do APL no Vale do Rio dos Sinos necessita de estratégias que permitam maior competividade através de flexibilizações de produção, investimentos em eficiência produtiva, em fortalecimento da marca e em design.