A pandemia de COVID-19 se apresentou como um grande desafio sanitário por se tratar de um evento epidemiológico protagonizado por uma doença nova e desconhecida. Pessoas com comorbidades foram incluídas no grupo de risco da doença. Aliado a isso, estudos apontam que a COVID-19 desvelou as desigualdades existentes, atingindo principalmente populações pobres e vulnerabilizadas. Frente a esse cenário, a população negra (pretos e pardos) sofre, uma vez que não só compõe grande parte da população pobre e vulnerabilizada, como também apresenta maior prevalência de uma série de comorbidades. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo analisar a distribuição de causas associadas de óbito por COVID-19 em residentes do estado do Rio de Janeiro, com 20 anos ou mais, entre março de 2020 e fevereiro de 2021, segundo raça/cor. Trata-se de um estudo seccional, no qual se descreveu as características dos óbitos por COVID-19 e se utilizou da metodologia de causas múltiplas de morte para descrever e analisar as informações acerca do preenchimento de causas de morte nas declarações de óbito (DO) por COVID-19, segundo raça/cor. Os brancos apresentaram a maioria dos óbitos. A proporção de óbitos com menos de 50 anos ou fora de estabelecimentos de saúde foi quase o dobro entre negros. Entre negros a proporção de óbitos foi maior na 1ª onda enquanto entre brancos foi maior na 2ª onda. A distribuição de óbitos segundo o número de causas mencionadas na DO não diferiu expressivamente entre as raças/cores e o total de causas mencionadas foi proporcional ao número de óbitos, com uma média de causas mencionadas muito semelhante entre as raças/cores. Em linhas gerais, doenças respiratórias foram mais frequentes como causa associada. A diabetes, a SRAG e as doenças cardiovasculares mostraram importante presença entre todas as raças/cores, sendo a SRAG levemente mais frequente entre negros. Outras doenças bacterianas foram mais frequentes entre os brancos. Outras doenças do aparelho respiratório foram mais frequentes entre negros. Já as doenças hipertensivas foram mais frequentes entre pretos. Compreender a COVID-19 é necessário para ampliar as ações contra a doença, e entender o impacto da mesma sobre os diferentes grupos raciais é essencial para a implementação de ações em torno da equidade em saúde. A metodologia de causas múltiplas é importante aliada neste quesito, ajudando no conhecimento da história natural da doença e identificando a carga de afecções presentes nos óbitos por COVID-19.