Trabalho de conclusão de graduação
A verdade (des)velada em A Confissão de Lúcio à luz da psicanálise de Freud e Lacan
Autor
Costa, Vanessa de Andrade da
Institución
Resumen
O início do século XX manifesta-se com um tempo de contestação das formas tradicionais de conhecimento, tais como a filosofia, a ciência e a própria escritura. Investindo nas instâncias do sonho e do mistério, a literatura de princípios do novecentos rejeita a lógica científico-positivista, clamando por novos valores. Em A confissão de Lúcio (1913), o artista português Mário de Sá-Carneiro, mais especificamente no que se refere ao tema da memória, articula uma narrativa que se desenvolve a partir da ideia de uma escrita em processo de formação, como se fosse uma urdidura que se constrói residual e fragmentariamente, à medida que Lúcio, o narrador-personagem da estória, se recorda – no sentido mesmo etimológico daquilo que volta a passar pelo coração – do seu passado. Rememorando caoticamente os acontecimentos pretéritos. Lúcio alinhava uma diegese que rompe com todas as fronteiras lógicas mais consensuais, contestando, através do exercício escritural, as formas tradicionais de conhecimento, dentre elas a ciência que se pensa enquanto detentora da verdade. Enveredando discursivamente pelos labirintos do inconsciente, Lúcio apresenta-nos o campo das lembranças como um lugar que, muito freudianamente, foge à racionalidade positivista e investe no relato mnemônico enquanto mistério que se opõe à lógica científica estritamente racional. Este trabalho propõe uma leitura da obra-prima de Mário de Sá-Carneiro no que concerne ao tema da verdade como algo que vela e desvela, como um relato de memórias que oscila entre o consciente e o inconsciente, entre a realidade e o sonho.