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A violência simbólica de mulheres e crianças abandonadas à própria sorte na transposição do São Francisco
Registro en:
FREIRE, Maryelly Evelly Araújo; COSTA, André Monteiro; BEZERRA, Paula Natanny Rocha. A violência simbólica de mulheres e crianças abandonadas à própria sorte na transposição do São Francisco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE, 8., 2019, João Pessoa. Anais... João Pessoa: ABRASCO, 2019. 2 p.
978-85-85740-10-8
Autor
Freire, Maryelly Evelly Araújo
Costa, André Monteiro
Bezerra, Paula Natanny Rocha
Resumen
As obras da transposição do São Francisco atraíram milhares de trabalhadores homens que se instalaram, de forma temporária, próximo às obras. Essa migração produziu processos de vulnerabilização, como a desestruturação social, que acabou atingindo, sobretudo, as mulheres. O aumento de gravidezes indesejadas e o abandono de paternidade – material e afetivo -, são efeitos presumíveis deste contexto. Identificar situações de gravidez não planejada, não reconhecimento de paternidade e abandono material/afetivo em decorrência da implantação da transposição do São Francisco, na perspectiva das mulheres e dos profissionais de saúde. A abordagem teórico-metodológica deste estudo é a reprodução social e a saúde, por meio de abordagem descritiva e qualitativa. A área compreende as cidades de Petrolândia, Cabrobó, Salgueiro e Terra Nova, em Pernambuco. As categorias centrais são: gênero, processo de vulnerabilização e as dimensões da reprodução social: biocomunal, autoconsciência e conduta e política. A coleta de dados foi por meio de entrevistas não estruturadas, no período de 11/2014 a 05/2015. Os sujeitos do estudo foram 09 mulheres e 09 profissionais da saúde e da assistência social. A análise dos dados foi feita utilizando-se o método de análise crítica do discurso. Gravidezes indesejadas foram muito relatadas por mulheres de distintas raças/cor, inclusive menores de idade, sobretudo entre 10 e 14 anos, o que configura abuso sexual. Os relacionamentos ocorreram com trabalhadores das empresas e soldados do exército que atuaram nas obras. O abandono afetivo das mulheres ocorria diante da gravidez indesejada e, em muitos casos, eram induzidas ao aborto. Foram comuns agressões físicas e não reconhecimento de paternidade. Foi recorrente o abandono material e afetivo das crianças, conhecidas como “filhos de homem da firma” e “filhos de soldado”. Casos de DST/AIDS e drogas foram relatados como frequentes por profissionais de saúde e da assistência social. A vulnerabilização de meninas e mulheres é comum em grandes empreendimentos, que seguem invisíveis. Este processo é socialmente determinado, pois são pobres e de baixa escolaridade. As ações do Poder Público em resposta a essas situações de injustiças se mostram insuficientes. Visibilizar esses processos de violência simbólica pode contribuir para mudança de postura do Estado, que não as protege e reproduz o machismo vigente em suas instituições.