Thesis
Vidas negras que se esvaem: experiências de saúde dos funcionários escolares em situação de trabalho
Black lives that if dissipate: experiences of the school employees' health in work situation
Registro en:
CHAVES, Fátima Machado. Vidas negras que se esvaem: experiências de saúde dos funcionários escolares em situação de trabalho. 2004. 262 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004.
Autor
Chaves, Fátima Machado
Resumen
Investigamos como as desigualdades sócio-econômicas, em sua transversalidade com as raciais e as de gênero contribuem para o processo saúde/doença de serventes e merendeiras, responsáveis pela limpeza e pelo preparo e distribuição da alimentação em escolas municipais da cidade do Rio de Janeiro. Elas são, em geral, mulheres negras e pobres, ex-empregadas domésticas. Nas escolas encontram condições de trabalho
extremamente precarizadas, contudo conseguem realizar satisfatoriamente as tarefas prescritas, pois contam com as competências adquiridas no universo feminino, criando modos operatórios adequados à variabilidade do processo de trabalho. A dupla, ou até tripla, jornada de trabalho exercida interfere em suas vidas e trabalhos remunerados, potencializando adoecimentos propiciados pelo ambiente escolar, observado pelo
número de licenças e/ou readaptações médicas, devido às
responsabilidades domésticas, a ausência de descanso e lazer e a repetição dos conteúdos de suas atividades, tipo domésticas. O valor social negativo do trabalho doméstico no Brasil deve-se à sua estigmatização desde o período escravista até a atualidade. Esse trabalho, ainda de
responsabilidade feminina, configura-se como um dos fatores de exploração econômica e de dominação de gênero, porém, em maior grau, para as mulheres negras e pobres. As entrevistadas sofreram o “racismo brasileiro”, nunca institucionalizado, de forma circunstancial e interacional. As estratégias de enfrentamento ao racismo foram: negar a existência, ignorando-o; fingir que não aconteceu com elas, apenas com o “outro”. Nas
escolas, é pouco visto, mas sentido com os alunos. Algumas enfrentaram-no, valorizando a cultura negra e uma educação inclusiva. As relações entre racismo e saúde podem ser indiretas, derivadas das condições sociais objetivas produtoras de circularidades entre vida, trabalho e adoecimento ou podem ser diretas, vindas das condições subjetivas que acarretam sofrimentos silenciosos. Paradoxalmente, as evidências empíricas das desigualdades sociais geradas pelo racismo não têm sensibilizado os pesquisadores para avaliar seus efeitos na saúde. We studied how the social-economical differences, in conjunction with the ethnical and gender dissimilarities; contribute to the process of health/illnesses of servants and snack preparers, women which are responsible for cleaning and preparing and distributing meals in municipal schools in the city of Rio de Janeiro. They are, in general, poor black women, whose previous job was as house maids. In schools, they find precarious working conditions, but their performance is satisfactory due to their competence for simply belonging in the feminine universe, creating adequate ways to accomplish the variety of the work they encounter. The double or triple work journey interferes in their lives and remunerated work. The domestic responsibilities, lack of rest and leisure time and the repetitive domestic work, worsens illnesses already common in the school
environment, easily observed by the great number of leave of absences and/or medical re-adaptations. The negative social connotation of the domestic work in Brazil is due to its stigmatization since the slavery period up to our days. This work, still of a female responsibility, is regarded as one of economics exploitation and gender domination, even worse for the poor black women. All of the interviewed women suffered from the
“Brazilian racism”, not institutionalized, but circumstantial and interplayed. The strategies used to deal with the problem were: denial; disregarding it; pretend it wasn’t happening to them but to “someone else”. In school, the racism is almost never seen, but felt, from the students. Some face it, appraising the black culture and similar education to all. The relationship between racism and health can be indirect, derived from
objective social conditions that create a vicious circle of life, work and illnesses; or they can be direct, originated by the subjective conditions that bring them a silent suffering. Paradoxically, the empirical evidences of the social differences generated by the racism have not sensitized the researchers to evaluate their effects on health.