Thesis
Comparação de desfechos maternos e neonatais em um centro de parto normal e hospitais públicos do SUS em partos de baixo risco
Comparison of maternal and neonatal outcomes in a normal delivery center and SUS public hospitals in low-risk births
Registro en:
SANTOS, Nágela Cristine Pinheiro. Comparação de desfechos maternos e neonatais em um centro de parto normal e hospitais públicos do SUS em partos de baixo risco. 2018. 139 f. Tese (Doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2018.
Autor
Santos, Nágela Cristine Pinheiro
Resumen
No Brasil, a assistência ao parto é caracterizada predominantemente por um modelo
tecnocrático, iatrogênico e centrado no profissional de saúde. A desconstrução deste modelo
passa por um forte movimento social que estimula a prática do cuidado centrada na mulher e
baseada nas melhores evidências científicas, além de ampliar o acesso a novas ambiências na
assistência ao parto. Neste contexto, os Centros de Parto Normal surgem como modalidade de
atenção ao parto de baixo risco, em ambiente peri-hospitalar. O objetivo desta tese é analisar
dois modelos de atenção ao parto e práticas assistenciais entre mulheres de baixo risco
obstétrico, em relação às intervenções/intercorrências durante o trabalho de parto e parto e suas
repercussões nos resultados perinatais. Ela está apresentada sob a forma de dois artigos. O
primeiro artigo “Modelos de atenção ao parto e nascimento: comparação de resultados
maternos e neonatais entre um Centro de Parto Normal e Hospitais SUS no Brasil”,
compara a ocorrência de intervenções e desfechos maternos e neonatais entre as mulheres
admitidas em um Centro de Parto Normal (CPN) na cidade de Belo Horizonte, com aquelas
cujo atendimento ao parto foi realizado em hospitais que atendem 100% pelo SUS, na região
Sudeste, incluídas na Pesquisa Nascer no Brasil. A análise englobou os nascimentos ocorridos
entre 2011 e 2012 em ambas as pesquisas. Para estimativa de possível efeito causal do local do
parto sobre os desfechos estudados foi utilizado o escore de propensão ajustado pelas
covariáveis: idade, raça/cor, paridade, integridade da bolsa amniótica e dilatação do colo uterino
no momento da internação. Esta estratégia analítica visa compensar a falta de comparabilidade
entre os grupos em estudos observacionais, questão essencial para inferência causal sem viés,
utilizando o modelo de respostas contrafatuais. Regressões logísticas foram utilizadas para
estimar as razões de chance (OR) e respectivos intervalos de 95% de confiança (IC95%) entre
o local de parto (CPN e Hospital) e os desfechos analisados, ponderados pelo escore de
propensão. As mulheres que tiveram parto no CPN (n=1561), comparadas com aquelas com
parto hospitalar (n=913) apresentaram maior chance de uso de métodos não farmacológico de
alívio da dor durante o trabalho de parto (OR = 2,94; IC95%: 2,47-3,49), presença de
acompanhante (OR = 90,13; IC95%: 62,92-129,11); e outras posições para o parto (OR=3,19;
IC95%: 2,06-4,95). Em contrapartida tiveram menor chance de serem submetidas à episiotomia
(OR =0,05; IC95%: 0,04-0,07), uso de ocitocina durante o trabalho de parto (OR= 0,26; IC95%:
0,21-0,31), cesariana (OR = 0,67; IC95%: 0,51-0,87), parto instrumental (OR = 0,53; IC95%:
0,39-0,71) e parto em posição litotômica (OR = 0,003; IC95%: 0,002-0,004). Ocorreu nenhum
óbito materno no hospital e CPN. Em relação aos recém-nascidos, os que nasceram no CPN
tiveram menor chance de Apgar < 7 no quinto minuto de vida (OR =0,63; IC95%: 0,43-0,92),
reanimação na sala de parto (OR = 0,32; IC95%:0,24-0,42), uso de oxigênio (OR =0,32;
IC95%: 0,26-0,43) e aspiração de vias aéreas superiores (OR = 0,14; IC95%: 0,12-0,16) e maior
chance de ter contato pele a pele com a mãe na primeira hora de vida (OR = 49,66;
IC95%:37,59-65,60). Não houve diferenças em relação à admissão em unidade intensiva e
infecção neonatal na comparação do CPN com hospital. Ocorreram três óbitos neonatais entre
os que nasceram no hospital e nenhum no CPN. O estudo mostra diferenças importantes em
relação ao modelo de cuidado ao parto e nascimento, evidenciando uma assistência mais
intervencionista e não baseada em boas práticas, entre mulheres e RN que tiveram assistência no hospital comparados com CPN. Estes resultados tornam-se ainda mais relevantes por se
tratar de mulheres de baixo risco obstétrico. O segundo artigo “Parto na água: benefícios para
mulher de baixo risco e o recém-nascido” compara o uso de procedimentos, intercorrências
no parto e pós-parto e desfechos nos recém-nascidos entre as mulheres que realizaram o parto
na água em relação àquele cujo parto vaginal foi realizado fora da água. Este estudo utilizou
informações coletadas de um Centro de Parto Normal localizado na cidade de Belo Horizonte,
MG, no período de 2001 a 2012. Para comparação entre os dois tipos de parto foram incluídas
no estudo as mulheres que preenchessem os critérios de elegibilidade para o parto na água,
totalizando 6.835 gestantes, das quais 5.934 realizaram o parto fora da água e 901 que
realizaram o parto dentro da água. Neste estudo também foi utilizado o escore de propensão e
as estimativas dos efeitos causais calculadas pelas razões de chance (OR) e respectivos intervalos
de 95% de confiança (IC95%). As mulheres que tiveram parto na água (13,2%), comparadas com
aquelas com parto fora da água (86,8%), apresentaram menor chance de serem submetidas a
episiotomia (OR 0,05; IC 95%: 0,02-0,12) e à laceração perineal de 3ºgrau (OR =0,49; IC
95%:0,33-0,74). Não houve nenhuma morte materna entre as mulheres do estudo. Os bebês que
nasceram na água tiverem menor chance de serem reanimados (OR =0,66; IC 95%: 0,47-0,95),
uso de oxigênio inalatório (OR =0,64; IC 95%:0,44-0,93), aspiração de vias aéreas superiores
(OR =0,70; IC 95%:0,61-0,82), lavagem gástrica (OR =0,78; IC 95%:0,62-0,99), admissão em
UCI (OR =0,66; IC 95%0,49-0,89) e em UTI (OR =0,66; IC 95%:0,46-0,90). Houve apenas
um óbito neonatal entre os que nasceram fora da água. Conclusão: O parto na água não aumenta
os desfechos adversos maternos e neonatais, apresentando inúmeros benefícios e segurança
para mãe e filho. In Brazil, childbirth care is predominantly characterized by a technocratic, iatrogenic and
health-centered model. The deconstruction of this model involves a strong social movement
that stimulates the practice of women-centered care and is based on the best scientific evidence,
as well as increasing access to new environments in childbirth care. In this context, Normal
Birth Centers appear as a modality of attention to low risk childbirth, in a peri-hospital
environment. The objective of this thesis is to analyze two models of childbirth care in Brazil,
among women of low obstetric risk, in relation to interventions / intercurrences during labor
and delivery and their repercussions on perinatal outcomes. It will be presented in two different
papers. The first paper "Models of attention to childbirth and birth: comparison of
maternal and neonatal outcomes between a Normal Birth Center and Hospitals that
belong to the National Health System in Brazil" compares the occurrence of maternal and
neonatal interventions and outcomes among women admitted to a Normal Birth Center in Belo
Horizonte city, with those whose attendance for the delivery was performed in hospitals that
provide 100% care for the National Health System (SUS) in the Southeast, included in the
“Born in Brazil” Survey. The analysis encompassed births between 2011 and 2012 in both
surveys. To estimate the possible causal effect of the place of delivery on the outcomes studied,
the propensity score was used adjusted for the covariates: age, race / color, parity, integrity of
the amniotic pouch and dilation of the cervix at the time of admission. This analytical strategy
aims to compensate the lack of comparability between the groups in observational studies, an
essential question for causal inference without bias, using the model of counterfactual
responses. Logistic regressions were used to estimate the odds ratios (OR) and respective 95%
confidence intervals (95% CI) between the place of delivery (NBC and Hospital) and the
analyzed outcomes weighted by the propensity score. Women who had delivered at the NBC
(n = 1561) compared to those with hospital delivery (n = 913) had a greater chance of using
non-pharmacological methods of pain relief during labor (OR = 2.94; %: 2.47-3.49), presence
of companion (OR = 90.13; 95% CI: 62.92-129.11); and other positions for delivery (OR =
3.19, 95% CI: 2.06-4.95). On the other hand, they had less chance of being submitted to
episiotomy (OR = 0.05, 95% CI: 0.04-0.07), oxytocin use during labor (OR = 0.26, 95% CI:
0.21 -0.31), cesarean section (OR = 0.67, 95% CI: 0.51-0.87), instrumental delivery (OR =
0.53, 95% CI: 0.39-0.71) and delivery in lithotomy position (OR = 0.003, 95% CI: 0.002-
0.004). There were no maternal deaths at the hospital and NBC. In relation to the newborns,
those who were born in the NBC had a lower chance of Apgar <7 at the fifth minute of life (OR
= 0.63, 95% CI: 0.43-0.92), resuscitation in the delivery room (OR = 0.32, 95% CI: 0.24-0.42),
oxygen use (OR = 0.32, 95% CI: 0.26-0.43) and upper airway aspiration (OR = 0.14 ; 95% CI:
0.12-0.16) and a higher chance of skin-to-skin contact with the mother in the first hour of life
(OR = 49.66; 95% CI: 37.59-65.60). There were no differences regarding admission to intensive
care unit and neonatal infection in the comparison to NBC with hospital. There were three
neonatal deaths among the women who had children in the hospital and no maternal death in
the NBC. The study shows important differences regarding the model of delivery and birth care,
showing a more interventionist and not based on good practices, between women and the
newborn who had hospital care compared to the NBC. These results are even more relevant because they are women of low obstetric risk. The second paper, "Delivery in water: benefits
for low risk women and the newborn" compares the use of procedures, intercurrences at birth
and postpartum, and outcomes in newborns among women who delivered in water relative to
those whose vaginal delivery was performed out of water. This study used data collected from
a Normal Birth Center located in Belo Horizonte city, Minas Gerais State, between 2001 and
2012. Only women who met the eligibility criteria for in water birth, totaling 6,835 pregnant
women, of which 5,934 opted for out-of-water birth and 901 who chose to deliver in water. In
this study, the propensity score and estimates of the causal effects calculated by odds ratio (OR)
and its respective 95% confidence intervals (95% CI) were also used. Women who had
delivered in water (13.2%), compared to those with out-of-water delivery (86.8%), were less
likely to undergo episiotomy (OR 0.05, 95% CI 0.02 -0.12) and perineal laceration of 3rd degree
(OR = 0.49, 95% CI: 0.33-0.74). There were no maternal deaths among the women in the study.
Infants who were born in water were less likely to be reanimated (OR = 0.66, 95% CI: 0.47-
0.95), inhaling oxygen use (OR = 0.64, 95% CI: 0.44 (OR = 0.70, 95% CI: 0.61-0.82), gastric
lavage (OR = 0.78, 95% CI: 0.62-0, 99), ICU admission (OR = 0.66, 95% CI 0.49-0.89) and
ICU (OR = 0.66, 95% CI: 0.46-0.90). There was only one neonatal death among those born out
of water. Conclusion: Birth in water does not increase maternal and neonatal adverse outcomes,
presenting numerous benefits and safety for mother and child.
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