Dissertation
Codependência em crianças e adolescentes que convivem com familiares alcoolistas: possibilidades e limites para o cuidado na atenção básica
Codependency in children and adolescents who live with alcoholic family members: possibilities and limits for care in primary care
Registro en:
CAMPOS, Gilda Zamith Ribeiro. Codependência em crianças e adolescentes que convivem com familiares alcoolistas: possibilidades e limites para o cuidado na atenção básica. 2021. 174 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde da Família - PROFSAÚDE) - Presidência, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2021.
Autor
Campos, Gilda Zamith Ribeiro
Resumen
O alcoolismo é um grave problema de saúde pública e estima-se que para cada alcoolista,
outras cinco ou seis pessoas podem ser afetadas, o que também coloca a codependência como
importante problema de saúde pública. O contexto deste trabalho se refere ao alcoolismo e à
codependência dos filhos não adultos de alcoolistas.
O objetivo da pesquisa é descrever como a literatura científica, no campo da saúde, aborda o
sofrimento de crianças e adolescentes que convivem com familiares alcoolistas, identificando
os fatores de risco e proteção e eventuais experiências bem-sucedidas de intervenção e
cuidado, a fim de propor orientações técnicas para o cuidado deste grupo, na Atenção Básica
(AB), visando à construção de ações integradas nas redes familiares, nas redes comunitárias e
nas redes de atenção à saúde (RAS).
Trata-se de pesquisa bibliográfica sobre a codependência em crianças e adolescentes que
convivem com familiares alcoolistas, de caráter exploratório-descritivo. Foram selecionados
49 artigos científicos (27 estudos longitudinais comparativos, 10 estudos transversais
comparativos, três estudos transversais não comparativos, dois estudos de abordagem
qualitativa e sete estudos de revisão), publicados entre 2004 e 2020, nas bases bibliográficas
BVS e SciELO, cujas versões finais estão livre e gratuitamente disponíveis online e abordam
o sofrimento de filhos não adultos de alcoolistas (sobretudo as repercussões emocionais,
comportamentais e cognitivas) e possíveis estratégias de cuidado.
Embora haja heterogeneidade do perfil de risco, os resultados demonstram maior risco de
repercussões negativas para os filhos de alcoolistas (FAs) (transtornos psiquiátricos,
sofrimento emocional, ambiente familiar desestruturado, distúrbios do cuidado parental,
exposição à violência doméstica, desajuste social, baixo desempenho acadêmico, dificuldades
de relacionamento com os pares, dificuldades de comunicação, etc.).
Dificuldades de ordem econômica, política e gerencial enfrentadas pelo Sistema Único de
Saúde e a relativa invisibilidade política e social do alcoolismo e da codependência
constituem importantes obstáculos a serem superados. A complexidade do tema conduziu à
categorização dos resultados em diferentes dimensões (individual do(a) FA, parental, familiar,
escolar, legal, social, cultural, política e da rede de atenção à saúde), nas quais são ressaltados
os fatores de risco e proteção e as orientações técnicas que contribuam para o cuidado dessa
condição a partir da AB.
Conclui-se que há necessidade de estruturação de uma Linha de Cuidado para crianças e
adolescentes que convivem com familiares alcoolistas, integrando uma rede de atores em
nível local/ territorial (representados por AB/ equipes de Saúde da Família, equipes do Núcleo
Ampliado de Saúde da Família, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, escolas,
grupos de apoio mútuo como Al-Anon e Alateen, conselho tutelar, assistência social e outros
recursos disponíveis). Há também necessidade de uma rede mais ampla de atores políticos e
gestores das esferas municipal, estadual e federal, a fim de ampliar as propostas das políticas
públicas sobre o álcool e destinar recursos econômicos, humanos e materiais necessários para
superar a fragmentação do cuidado (que prioriza o dependente do álcool, em detrimento dos
familiares) e a relativa invisibilidade política da codependência de FAs. Alcoholism is a serious public health problem and it is estimated that for each alcoholic, five
to six people may be affected, showing that codependency is another important public health
problem. This study refers to alcoholism and codependency concerning non-adult children of
alcoholics.
The research aimed at describing, in the health area, the way that scientific literature
addresses the suffering of children and adolescents who live with alcoholic family members,
identifying risk and protection factors as well as eventual successful experiences of
intervention and care, in order to propose technical guidelines in Primary Health Care for the
care of this group, aiming at the construction of integrated actions in family, community and
health care networks.
The study is a bibliographical research of exploratory-descriptive nature on codependency of
children and adolescents living with alcoholic family members. Forty-nine scientific articles
were selected (27 comparative longitudinal studies, 10 comparative cross-sectional studies,
three non-comparative cross-sectional studies, two qualitative studies and seven review
studies), published between 2004 and 2020, in BVS and SciELO databases, whose final
versions were free of charge and freely available online, and addressed the suffering of nonadult children of alcoholics (especially the emotional, behavioral and cognitive
repercussions), as well as possible health care strategies.
Although there is some heterogeneity in the risk profile, the results show a greater risk of
negative repercussions for children of alcoholics (COAs) (psychiatric disorders, emotional
distress, unstructured family environment, parental care disorders, exposure to domestic
violence, social maladjustment, poor academic performance, difficulties in relationship with
their peers, communication difficulties, etc.).
Economic, political and managerial problems faced by the Brazilian Unified Health System
and the relative political-social invisibility of alcoholism and codependency constitute
important obstacles to be overcome. The complexity of this topic led to the categorization of
results into different dimensions (individual of COA, parental, family, academic, legal, social,
cultural, political and health care network) in which risk and protective factors as well as
technical guidelines that contribute to the care of these dimensions were highlighted, starting
from the Primary Health Care.
In conclusion, a Line of Care for children and adolescents living with alcoholic family
members must be designed in terms of integrating networks of agents at local/territory level
(represented by agents belonging to the Family Health Teams, the Extended Family Health
Nucleus, the Alcohol and Drugs Psychosocial Care Center, schools, groups of mutual support
like Al-Anon and Alateen, the social assistance service and other available resources). It is
also essential the establishment of a broader network of political and managerial agents in
local, state and federal levels in order to enlarge alcohol public policies and allocate human,
financial and material resources indispensable to overcome both the fragmentation of care
(which prioritizes the dependent on alcohol to the detriment of family members) and the
relative political invisibility of COA’s codependency.