Dissertation
Influência da infecção pelo Epstein-Barr vírus na malária humana causada por Plasmodium vivax
Registro en:
DIAS, Michelle Hallais França. Influência da infecção pelo Epstein-Barr vírus na malária humana causada por Plasmodium vivax. 2018. 77 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde)-Instituto René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz, Belo Horizonte, 2018.
Autor
Dias, Michelle Hallais França
Resumen
Em crianças africanas está bem estabelecida que a exposição ao vírus
Epstein-Barr (EBV) e à malária por Plasmodium falciparum é um importante
fator de risco no desenvolvimento do linfoma de Burkitt endêmico (eBL).
Embora o eBL não esteja associado ao P. vivax, não se sabe se o EBV poderia influenciar na morbidade da malária causada por este parasito. Considerando que P. vivax é a espécie de plasmódio mais prevalente na Amazônia brasileira, buscou-se aqui investigar se a infecção por EBV pode influenciar na morbidade e/ou no desenvolvimento de uma resposta imune específica contra o P. vivax. Para isso, o estudo focou em dois grupos distintos: (i) indivíduos com infecção aguda por P. vivax (n=154) que procuraram atendimento em centros de referência para malária na região amazônica; esses indivíduos foram esporadicamente expostos à transmissão da malária; (ii) indivíduos com longa exposição à malária na região amazônica (n = 541) no assentamento agrícola de Rio Pardo (Amazonas, Brasil). A comunidade Rio Pardo incluiu indivíduos infectados (n = 38) e não infectados (n = 503) por P. vivax. Depois de configurar o melhor protocolo para amplificar o gene BALF-5 de diferentes amostras biológicas, as amostras de DNA de todos os voluntários foram amplificadas a partir do sangue total periférico utilizando o protocolo descrito por Reynaldi e colegas (2016). Em conjunto, os resultados demonstraram que: (1) a frequência de EBVDNA variou entre os dois grupos estudados, com o vírus detectado em 6% (9 de 154) dos indivíduos esporadicamente expostos e em 17% (90 de 541) de longa exposição – residentes na Amazônia. Embora o motivo dessa diferença seja desconhecido, é possível que a exposição contínua à transmissão da malária (mediana de 21 anos) possa ter contribuído; (2) na infecção aguda por malária, a positividade para EBV foi associada a parâmetros hematológicos alterados, incluindo baixos níveis de hemoglobina, hematócrito e plaquetas. Embora no grupo dos indivíduos esporadicamente expostos à transmissão não tenha sido encontrada associação entre EBVDNA e sintomas clínicos relacionados à malária, uma associação positiva foi encontrada para o grupo com história de longa exposição. Neste grupo, a associação entre EBVDNA e sintomas foi independentemente da presença de infecção malárica; finalmente (3) a detecção de DNA viral parece ter influenciado, negativamente ou positivamente, na resposta de anticorpos naturalmente adquiridos contra diferentes proteínas do estágio sanguíneo do P. vivax (PvDBPII e PvAMA1, respectivamente). Em conclusão, em um estudo de prova de conceito, demonstrou-se pela primeira vez que a infecção por EBV pode influenciar na morbidade e imunidade ao P. vivax. Estudos futuros fazem-se necessários para validar os resultados aqui encontrados em diferentes populações de áreas endêmicas, incluindo indivíduos com malária grave por P. vivax. CAPES, CNPq, FAPEMIG e Programa de Excelência em Pesquisa (PROEP) do CPqRR/FIOCRUZ In African children it has long been recognized that exposure to both EpsteinBarr virus (EBV) and Plasmodium falciparum malaria is a major risk factor in the development of endemic Burkitt lymphoma (eBL). Although eBL is not associated with P. vivax malaria, it is unclear whether the EBV can influence P. vivax morbidity. Considering that P. vivax is the most prevalent malaria species in the Brazilian Amazon area, we sought to investigate whether EBV infection may influence P. vivax morbidity and/or the development of a specific immune response against the parasite. For that, the study focused on two major groups: (i) acute P. vivax infection, consisting of 154 individuals who sought care at malaria reference centers in the Amazon area; these individuals were sporadically exposed to malaria transmission; and (ii) individuals with long-term exposure to malaria in the Amazon region (n=541) living in the agricultural settlement of Rio Pardo (Amazonas, Brazil). Rio Pardo community included P. vivax infected (n=38) and not infected (n= 503) individuals. After determination of the best protocol to amplify EBV BALF-5 gene from different biological samples, DNA samples from all volunteers were amplified from peripheral whole blood using the protocol described by Reynaldi and colleagues (2016). Taken together the results demonstrated that: (1) the frequency of EBVDNA varied between the two groups studied, with virus been detected in 6% (9 out of 154) of sporadically exposed individuals and in 17% (90 out of 541) of long-term
Amazonian residents. Although the reason for the difference in positivity
between groups is unclear, it is possible the continuous exposure to malaria
transmission in Rio Pardo (median 21 years) may have contributed to higher
virus detection; (2) in malaria acute infection, the positivity for EBV was
associated with an alteration of hematological parameters, including low levels of hemoglobin, hematocrit, and platelets. While no association between EBVDNA and malaria-related clinical symptoms was found in sporadically exposed individuals, a positive association between EBVDNA and clinical symptoms was detected in the Amazon long-term residents, regardless the presence of acute malaria infection; finally (3) the detection of viral DNA seems to influence, positively or negatively, on the long-term acquired antibody responses to different blood stage P. vivax proteins (PvDBPII and, PvAMA1, respectively). In conclusion, in a prove-of-concept study, we demonstrated for the first time that EBV infection may influences on P. vivax morbidity and immunity. Future studies should include population of different endemic areas and individuals harboring severe P. vivax disease.