Dissertation
Priapismo na doença falciforme: associação entre polimorfismos genéticos e biomarcadores laboratoriais
Registro en:
FIGUEIREDO, Camylla Vilas Boas. Priapismo na doença falciforme: associação entre polimorfismos genéticos e biomarcadores laboratoriais. 2019. 128 f. Dissertação (Mestrado em Patologia) - Universidade Federal da Bahia; Instituto Gonçalo Moniz, Fundação Oswaldo Cruz, Salvador, 2019.
Autor
Figueiredo, Camylla Vilas Boas
Resumen
INTRODUÇÃO: A doença falciforme (DF) é constituída por um grupo de doenças hematológicas que têm em comum a presença da hemoglobina variante S (HbS), sendo a anemia falciforme (AF) a forma mais grave da doença, e a hemoglobinopatia SC (HbSC), a segunda mundialmente mais frequente. Dentre as manifestações clínicas presentes na DF, o priapismo exerce impacto grande na qualidade de vida dos pacientes acometidos. O priapismo é definido como a ereção peniana prolongada, persistente e dolorosa, que não está associada ao estímulo sexual, cuja incidência em homens de qualquer idade é estimada em 0.3-1.05 a cada 100.000 por ano, sendo que, em aproximadamente 65% dos casos, a etiologia do evento tem como causa a DF. O priapismo é considerado emergência urológica, cujo diagnóstico incorreto pode levar a fibrose peniana, disfunção erétil e impotência. OBJETIVO: Caracterizar os perfis hematológico e bioquímico de pacientes pediátricos com AF e HbSC, bem como investigar polimorfismos em genes de moléculas relacionadas à disfunção endotelial, associando-os a biomarcadores laboratoriais em indivíduos com DF que tiveram histórico clínico prévio de priapismo. MATERIAL E MÉTODOS: Foram realizados dois estudos. O primeiro, um estudo transversal envolvendo 176 pacientes pediátricos, sendo 124 com AF e 52 com HbSC. O segundo, um estudo caso-controle, onde foram investigados 37 pacientes do sexo masculino com DF, sendo 31 deles com AF e 6 com HbSC que foram previamente acometidos por evento de priapismo e 51 pacientes com DF (36 com AF e 15 com HbSC) que nunca relataram a ocorrência de priapismo e constituíram o grupo controle. Os marcadores hematológicos e bioquímicos investigados em ambos os estudos foram avaliados por métodos automatizados. No segundo estudo, a quantificação dos metabólitos de óxido nítrico (NOm) foi determinada colorimetricamente através da reação de Griess e a dosagem de endotelina-1 (ET-1) foi realizada pelo ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA). Os polimorfismos nos genes NOS3 e EDN1 foram investigados pelas técnicas de reação em cadeia da polimerase (PCR) e Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP). RESULTADOS E CONCLUSÕES: Os resultados encontrados no primeiro estudo demonstraram que pacientes com AF exibem um perfil hemolítico e inflamatório mais proeminente em comparação aos pacientes com HbSC que, por sua vez, apresentam alterações no perfil lipídico, bem como níveis diminuídos de NOm. De acordo com o histórico de admissões hospitalares, as crises de dor e os eventos de VOC estiveram associados a diferentes parâmetros laboratoriais em ambos os genótipos estudados, sendo a reticulocitose um biomarcador que pode estar associado à gravidade da DF. Alterações em moléculas associadas à disfunção endotelial, dislipidemia e níveis mais baixos de HbF podem estar associadas à história
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clínica prévia de priapismo. Pacientes participantes do segundo estudo tratados farmacologicamente com HU e que fazem uso de hemocomponentes são historicamente menos acometidos por eventos de priapismo. No que diz respeito à investigação genética, polimorfismo nos genes NOS3 e EDN1 não demonstraram significância estatística entre os grupos estudados, bem como a presença do alelo variante não esteve associada a alterações nos níveis de NOm e ET-1 nos pacientes com DF e história clínica prévia de priapismo. Estudos futuros que envolvam um número maior de pacientes, bem como aqueles em crise de priapismo podem levar a uma elucidação acerca do papel que essas moléculas desempenham no desenvolvimento dessa manifestação clínica. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 BACKGROUND: Sickle cell disease (SCD) refers to a group of hematological diseases which have in common the presence of the hemoglobin variant S (HbS), including sickle cell anemia (SCA), the most severe form of the disease and, the hemoglobinopathy SC (HbSC), a second worldwide more prevalent SCD. Among the clinical manifestations present in the SCD, priapism has a strong impact on the quality of life of affected patients. Priapism is defined as a prolonged, persistent and painful penile erection, which is not associated with sexual stimulation, whose incidence in men of any age is estimated at 0.3-1.05 per 100.000 per year, and in approximately 65% of cases, the etiology of the event is due to the presence of SCD. It is considered a urologic emergency, whose incorrect diagnosis can lead to penile fibrosis, erectile dysfunction and impotence. Thus, the aim of the present study was to characterize the hematological and biochemical profiles of pediatric patients with SCA and HbSC, as well as to investigate polymorphisms in molecules related to endothelial dysfunction associated with laboratory biomarkers in individuals with SCD who had prior clinical history of priapism. MATERIALS AND METHODS: Two studies were carried out. In the first, a cross-sectional study involving 181 pediatric patients, 126 with SCA and 55 with HbSC. The second, a case-control study, in which 37 male patients with SCD were investigated, 31 of them with SCA and 6 with HbSC who were previously affected by priapism and 51 males with SCD (36 with SCA and 15 with HbSC) that never reported the occurrence of priapism and constituted the control group. Hematological and biochemical laboratory markers investigated in both studies were evaluated by automated methods. In the second study quantification of nitric oxide metabolites (NOm) was measured through the Griess reaction and endothelin-1 (ET-1) by the enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA). Polymorphisms in the NOS3 and EDN1 genes were investigated by polymerase chain reaction (PCR) and restriction fragment length polymorphism (RFLP) techniques. RESULTS AND CONCLUSIONS: In the first study, our data showed that patients with SCA exhibit a more prominent hemolytic and inflammatory profile compared to patients with HbSC who, in turn, present changes in the lipid profile, as well as decreased levels of NOm. History of hospital admissions, pain crises and VOC events were associated with different laboratory parameters in both genotypes studied, and reticulocytosis can be considered a biomarker associated with SCD severity. Alterations in molecules associated with endothelial dysfunction, dyslipidemia, lower levels of HbF may be associated with prior clinical history of priapism. Patients participating in the second study treated pharmacologically with HU and who use blood products are historically less affected by priapism events. Regarding genetic analysis, polymorphism in the NOS3 and
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EDN1 genes did not demonstrate statistical significance between the groups studied, nor was the presence of the variant allele associated with changes in NOm and ET-1 levels in patients with SCD and clinical history of priapism. Future studies involving a larger number of patients as well as patients in a priapism crisis may lead to better elucidation about the role that these molecules play in the development of this clinical manifestation. 2022-01-03