Papers presented at events
Comunicação da morte: modos de pensar e agir de médicos em um hospital de emergência
Registro en:
SOUZA, Gislaine Alves de et al. Comunicação da morte: modos de pensar e agir de médicos em um hospital de emergência. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE, 8., 2019, João Pessoa. Anais... João Pessoa: ABRASCO, 2019. 2 p.
978-85-85740-10-8
Autor
Souza, Gislaine Alves de
Giacomin, Karla Cristina
Aredes, Janaína de Souza
Firmo, Josélia Oliveira Araújo
Resumen
No hospital de emergência a morte é habitual pela gravidade dos casos atendidos, mas comunicá-la configura-se uma tarefa árdua e dolorosa, ainda que essencial aos médicos desse setor. As publicações concentram-se em modelos, protocolos e recomendações sobre como o médico deve agir para a comunicação a morte, sendo inédito focar em sua experiência em um hospital de emergência brasileiro. Compreender como os médicos lidam com o processo de comunicar a morte aos familiares em um hospital de emergência. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, embasada na antropologia interpretativa e médica. A experiência humana psicossocial é conectada ao meio sociocultural e se expressam nos modos típicos e pensar e agir. A coleta dos dados deu-se em um dos maiores hospitais públicos de emergência da América Latina, localizado no hipercentro de Belo Horizonte, ao longo de 9 meses de observação participante para imersão no universo sociocultural dos interlocutores. Foram entrevistados 43 médicos – 25 homens e 18 mulheres, entre 28 e 69 anos. A análise foi êmica direcionada a compreender a comunicação da morte sob o ponto de vista do médico e fundamentada no modelo de signos, significados e ações. A comunicação da morte na emergência se dá em um cenário direcionado a técnica, cujo tempo, ambiente e atenção são direcionados a medicina curativa, o vínculo com o paciente e a família é deficitário. A comunicação ocorre com foco no biológico, fazem uso de roteiros, táticas, eufemismos e mecanismos defensivos. Os signos e significados estão especialmente correlacionados ao paradigma biomédico: a morte como tabu e fracasso. As ações evidenciam a morte e a interação intersubjetiva como terreno obrigatório de emoções que se dão escondidas no hospital: angustiam, assustam, choram, desculpam, desgastam, escondem, fogem, incomodam e rezam. A comunicação da morte é mergulhada de significados culturais e ocorre dissimulada, com dificuldades e ambivalências na emergência. Observa-se que as dificuldades com a morte influenciam nas habilidades interpessoais e comunicacionais. Visualiza-se ainda a lacuna no cuidado dirigido à família, a necessidade de abordagens de dignidade de vida e de morte, e a incipiência da humanização no contexto da emergência.