Thesis
Produção social dos sentidos em processos interculturais de comunicação e saúde: a apropriação das políticas públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal
Registro en:
SILVA JÚNIOR, Aluízio de Azevedo. Produção social dos sentidos em processos interculturais de comunicação e saúde: a apropriação das políticas públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal. 2018. 504 f. Tese (Doutorado em Informação e Comunicação em Saúde)-Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2018.
Autor
Silva Júnior, Aluízio de Azevedo
Resumen
Esse trabalho é fruto de um esforço coletivo para mapear e analisar os processos interculturais de comunicação (produção, circulação e apropriação) das políticas públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal. Partindo de um arranjo epistemológico-teórico-metodológico híbrido e multirreferencial entre os estudos anticoloniais, pela via das Epistemologias do Sul (Santos, 2016) e os Estudos Culturais e Estudos Semiológicos, pela via do modelo da Comunicação como Mercado Simbólico (Araujo, 2002), organizamos nossas reflexões tendo como eixos as desigualdades sociais e as mediações em torno dos processos de apropriação de tais políticas por parte das pessoas ciganas. Trata-se de uma pesquisa dialógica, realizada no campo da Comunicação e Saúde (C&S), cujo principal objetivo se pautou por analisar \2013 e, comprovamos que \2013 se as violências físicas e simbólicas, expressas pelas políticas persecutórias e racistas, respectivamente, aplicadas historicamente pelos Estados brasileiro e português contra as pessoas ciganas, o que deixou um rastro de pobreza e exclusão, impactam nas condições e situações de vida e saúde dessas comunidades. A aplicação das Epistemologias do Sul e seus procedimentos como as sociologias das ausências e das emergências e as ecologias dos saberes e dos reconhecimentos, nos possibilitou a construção de um saber compartilhado junto ao movimento político cigano, valorizando as suas vozes, olhares e saberes, que foram silenciados ou invisibilizados pelas sociedades ocidentais e a ciência hegemônica, comprovando que mantêm uma sofisticada filosofia de vida, que estrutura um sistema de ação e organização sociocultural, lhes permitindo resistir às opressões e dominações do capitalismo e do colonialismo Já as categorias trazidas pelo mercado simbólico e sua matriz de mediações, nos permitiu mapear os principais interlocutores, suas comunidades discursivas, instâncias, campos, seus fatores e fontes de mediação, revelando contextos da elaboração, circulação e apropriação da saúde cigana nos dois países. Para dar consistência e horizontalidade entre as vozes ciganas que participaram da pesquisa de campo, as vozes teóricas e acadêmicas e às vozes oficiais estatais, que já têm alto poder de interlocução, colocamos em prática uma metodologia experimental, baseada numa matriz fílmica intercultural e semiológica, aos moldes antropológicos compartilhados de Jean Rouch, mas hibridizada com elementos das três matrizes mencionadas. Entre os conceitos aportados, destacam-se: a provocação (Rouch), a negociação (Rouch, 1975, Rouch e Ribeiro, 2007), o lugar de interlocução (Araujo, 2002), a tradução intercultural e tradução interpolítica (Santos, 2007 e 2017) e a criação (Rouch). Esse entrelaçamento mostrou-se viável tanto como possibilidade de mapeamento do fluxo comunicacional e simbólico, como de produção de um conhecimento com as pessoas ciganas e não sobre elas, o que fez toda diferença Como resultados, comprovamos a pertinência do conceito de Tradução para a produção de um conhecimento crítico na área da comunicação e saúde, visto que, entre as inovações do nosso trabalho está a concretização do início de um intercâmbio de saberes entre os movimentos políticos ciganos brasileiro e português. Esse arranjo proporcionou de fato, uma intervenção na realidade estudada, denunciando ausências e negligências na saúde cigana, além de fazer emergir questões como: contextos e temas comuns, diferenças, demandas e lutas por igualdade racial e inclusão comunicacional na saúde. Mas, a comunicação só será emancipatória, transformadora das injustiças sociais e propulsora da cidadania a se trouxer a possibilidade do exercício do direito à comunicação, que converte o ator social em ator político, para agir e transformar o mundo. His work is a study of the intention of mapping and analyzing the intercultural processes of communication (production, circulation and appropriation) of public health policies for the Roma in Brazil and Portugal. Based on an epistemological-theoretical-methodological hybrid and multireferential arrangement between anticolonial studies, by Epistemologies of the South (Santos, 2016) and Cultural Studies and Semiological Studies, by the Symbolic Market Communication Model (Araujo, 2002), we organized our reflections. They have as skeletons as social inequalities and as mediations around the processes of appropriation of such policies by the gypsy people. It is a dialogical research carried out in the field of Communication and Health (C&S), whose main objective was to analyze \2013 and we prove that \2013 the physical and symbolic violence, expressed by the persecutory and racist policies, respectively, applied historically by the Brazilian and Portuguese states against Roma people, which left a trail of poverty and exclusion, impact on the conditions and situations of life and health of these communities The application of the epistemologies of the South and its procedures such as the sociologies of absences and emergencies and the ecologies of knowledge and recognition enabled us to build a shared knowledge with the Gypsy political movement, valuing their voices, looks and knowledge, which were silenced or invisible by Western societies and hegemonic science, proving that they maintain a sophisticated philosophy of life, which structures a system of action and socio cultural organization, allowing them to resist the oppressions and dominations of capitalism and colonialism. On the other hand, the categories brought by the symbolic market and its matrix of mediations allowed us to map the main interlocutors, their discursive communities, instances, fields, their factors and sources of mediation, revealing contexts of the elaboration, circulation and appropriation of Gypsy health in both countries. To give consistency and horizontality between the Roma voices who participated in the field research and the theoretical and academic voices and the state officials, who already have high power of interlocution, we put into practice an experimental methodology, based on an intercultural and semiological filmic matrix, to the shared anthropological molds of Jean Rouch, but hybridized with elements of the three matrices mentioned Rouch, Rouch, and Rouch, 2007), the place of interlocution (Araujo, 2002), intercultural translation and inter-political translation (Santos, 2007) and creation (Rouch). This interlacing proved feasible both as a possibility of mapping the communicational and symbolic flow and of producing a knowledge with the gypsy people and not about them, which made all the difference. As a result, we verified the pertinence of the concept of Translation to produce critical knowledge around communication and health, since among the innovations of our work is the realization of the beginning of an exchange of knowledge between the Brazilian and Portuguese gypsy political movements. This arrangement, in fact, is an intervention in the studied reality, denouncing absences and negligence in Gypsy health, as well as raising issues such as: common contexts and themes, differences, demands and struggles for racial equality and communicational inclusion in health. But communication will only be emancipatory, transforming social injustices and propelling citizenship if it brings the possibility of exercising the right to communication, which turns the social actor into a political actor, to act and transform the world.