Dissertation
Medicalização e medicina de família e comunidade: memórias de um médico de favela
Medicalization and family and community medicine: memories of a slum physician
Registro en:
MACHADO, Humberto Sauro Victorino. Medicalização e medicina de família e comunidade: memórias de um médico de favela. 2020. 100 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2020.
Autor
Machado, Humberto Sauro Victorino
Resumen
O fortalecimento da atenção primária é um dos grandes focos de atores e instituições do SUS no Brasil, tendo na estratégia saúde da família uma aposta de mudança do modelo tecnoassistencial. Como parte de equipes multiprofissionais com perfil generalista na APS/ESF, a medicina de família e comunidade (MFC) é a especialidade eleita por diferentes atores, cada vez mais, para atuar nesse âmbito de assistência, considerando a grande porta de entrada para o sistema de saúde. A medicalização constitui um complexo fenômeno pelo qual, na ânsia ou a partir da justificativa de proteger e cuidar, a medicina, de certa forma, atropelaria os direitos das pessoas. Esse paradoxo foi exaustivamente estudado em especialidades como a psiquiatria, a medicina preventiva e em especialidades cirúrgicas e intervencionistas, porém pouca atenção se deu à sua expressão na MFC, por se entender que essa especialidade teria uma resistência intrínseca à medicalização. Não convencido completamente dessa oposição concreta, o autor pretendeu, neste trabalho, através de sua experiência como médico de família, dissecar situações e vivências que remontem ao encontro entre a medicalização e a MFC. Para isso, partiu-se de uma abordagem inspirada na cartografia e na autoetnografia que produz e processa uma análise de memórias “pessoais”, utilizando cenas e outros formatos de narrativas, com o objetivo de refletir sobre a medicalização na medicina de família e comunidade. A problematização do vivido evidenciou alguns elementos potencialmente medicalizantes na MFC, como a pressão assistencial, a protocolização de condutas, o (não) reconhecimento da capacidade de autodeterminação do outro (pobre) e a legitimidade-autoridade das práticas médico-sanitárias. Algumas práticas desmedicalizantes, racionalmente pensadas (enquanto intenção de prevenção quaternária) ou improvisadas (a partir da sensibilidade-intuição), apareceram com problemas e êxitos. O caminho percorrido produziu menos conclusões inequívocas do que visibilidade para linhas de força e tensões, quiçá novas interrogações. The strengthening of primary care is one of the main focuses of the Unified National Health System actors and institutions in Brazil, with the family health strategy (ESF in Portuguese) betting on changing the techno-assistance model. As part of multiprofessional teams with a generalist profile in primary health care (PHC) / ESF, family and community medicine (MFC in Portuguese) is the specialty chosen by different actors, more and more, to act in this area of assistance, considering a great gateway to the healthcare system. Medicalization constitutes a phenomenon for which, in the eagerness or from the justification of protecting and caring, medicine, in a way, would run over people's rights. This paradox has been extensively studied in specialties such as psychiatry, preventive medicine and in surgical and interventionist specialties, but little attention has been paid to its expression in the MFC, as it is understood that this specialty is an intrinsic resistance to medicalization. Not completely convinced of this concrete opposition, the author intended, in this work, through his experience as a family physician, to dissect situations and experiences that go back to the meeting between medicalization and MFC. Tehreunto, we started with an approach inspired by cartography and autoetnography that produces and processes an analysis of “personal” memories, using scenes and other narrative formats, with the objective of reflecting on medicalization in family and community medicine. The problematization of the experience showed some potentially medicalizing elements in the MFC, such as assistance pressure, the conducting of protocols, the (non) recognition of the other (poor) capacity for self-determination and the legitimacy-authority of medical-sanitary practices. Some demedicalizing practices, rationally thought out (as an intention for quaternary prevention) or improvised (based on sensitivity-intuition), appeared with problems and successes. The path followed produced less unambiguous conclusions than visibility for lines of force and tensions, perhaps new questions.