Periodical
RADIS - Número 90 - Fevereiro
Registro en:
RADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n. 90, fev. 2010. 24 p. Mensal.
Autor
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Resumen
O ano começou com enchentes e deslizamentos de encostas no Brasil — tragédias anunciadas em função da ocupação desordenada do espaço urbano, visando a especulação ou sem levar em conta preocupações ambientais — e com terremotos arrasadores no Haiti — onde extrema pobreza e desorganização social não combinam com edificações mais resistentes a terremotos e furacões, nem com redes sociais de apoio. Um teste para regulação e políticas públicas no Brasil e para a capacidade de articular a cooperação internacional para fins humanitários no Haiti.
Nesta edição, mais notícias sem interesse para o mercado e o capital. Gente que se reúne para refletir sobre a melhor atenção primária à saúde da população, ou para integrar políticas públicas de diferentes áreas como saneamento, vigilância em saúde, educação e comunicação. Gente preocupada com a mortalidade infantil ou a violência no trânsito, interessada em reunir governantes e representantes sociais de diversos países para levar seguridade social a todos, sem exclusões.
A saúde coletiva ganha novo reforço com o interesse da medicina veterinária em participar das equipes de apoio à estratégia Saúde da Família nas unidades básicas dos municípios. Encontro realizado no Mato Grosso do Sul analisou a contribuição desses profissionais no contexto da transição epidemiológica marcada pela emergência ou reemergência de doenças como leishmaniose e outras zoonoses, dengue, febre amarela, raiva, gripe aviária e suína, que resultam do modelo de desenvolvimento econômico e tecnológico que interfere radicalmente nos ciclos da natureza e da vida humana. Palestrantes argumentaram que a integração de ações e a integralidade da atenção se dão no território em que vivem as pessoas, constituído pelos seus fluxos e suas relações.
Desconsiderar o meio ambiente, do qual o homem é parte, é colocar em risco e vulnerabilidade as pessoas e os territórios. Foi o que fizeram líderes mundiais ao desperdiçar a oportunidade de acordos globais de proteção ambiental na Conferência do Clima, organizada pela ONU em Copenhague.
O interesse público é o que deveria nortear não apenas a ação de governantes, mas também o funcionamento da mídia, as decisões judiciais relativas à saúde, a produção e distribuição de medicamentos e vacinas, o trabalho de pesquisadores e outros profissionais de saúde. Esta é a síntese dos debates registrados na segunda matéria sobre o 9º Congresso da Abrasco, realizado em Pernambuco.
Ao longo do ano, quando a mídia comercial voltar a tratar como obstáculo ao crescimento econômico o zelo com as licenças e outras questões ambientais e menosprezar a importância de organizações sociais fortes, faça como sugere música de Caetano Veloso no álbum Tropicália 2 (1993): “pense no Haiti”. Se for distante, abstrato, recorra à mesma canção: “o Haiti é aqui”.
Rogério Lannes Rocha Coordenador do Programa RADIS