Dissertation
A perinatologia como o domínio de uma linguagem em comum entre obstetras e pediátras
Registro en:
AL ODEH, Charles Souleyman. A perinatologia como o domínio de uma linguagem em comum entre obstetras e pediátras. 1994. 756 f. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança)-Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1994.
Autor
Al Odeh, Charles Souleyman
Resumen
As afecções originadas no período perinatal são responsáveis por 45 por cento dos óbitos ocorridos no 1§ ano de vida em nosso país, segundo dados da OMS para o ano de 1986. Ao compararmos as taxas de mortalidade por patologias como a diarreia e a pneumonia, observamos uma nítida tendência de queda, quando comparadas com a taxa de mortalidade por patologias perinatais. Programas como o da Terapia de Reidratação Oral e de combate ás infecções respiratórias provavelmente contribuem para a redução destes índices. Apesar da gravidade da mortalidade perinatal, não se observa nenhum programa dirigido para o problema que tenha provocado o mesmo resultado, haja visto a irredutibilidade deste indicador ao longo dos últimos anos. A despeito disto, os avanços no cuidado Obstétrico e Neonatal tem permitido a sobrevida de recém-nascidos cada vez mais prematuros. A Perinatologia implica na abordagem multiprofissional da gestante e do recém-nascido, no conhecimento de indicadores de viabilidade fetal e epidemiológicos da área perinatal, na organização da rede de assistência em um sistema regionalizado e hierarquizado e, sobretudo, na estreita integração entre Obstetras e Pediatras. O objeto da Perinatologia é claro: o binômio gestante-feto/recém-nascido. Entretanto, não se pode dizer o mesmo quando buscamos compreender a Disciplina Perinatologia. Com o intuito de conhecer o domínio que Obstetras e Pediatras possuem acerca de informações próprias da perinatologia, tais como conhecimento sobre limites de viabilidade fetal, estatísticas vitais das Maternidades onde atuam, o grau de integração entre as especialidades e noções sobre regionalização e hierarquização da assistência perinatal, entrevistamos 60 profissionais de 6 Maternidades públicas do Rio de Janeiro. Para tal, foi elaborado um questionário com perguntas objetivas, que também traçavam um perfil destes profissionais no que diz respeito a idade, sexo, tempo e local de formado, especialização, áreas de predileção e formas de reciclagem. Na medida que não observamos diferenças significativas entre Obstetras e Pediatras, descrevemos os resultados englobando todos os profissionais na categoria de perinatologistas. O perfil básico destes profissionais nos mostra uma média de idade de 40 anos com 15 anos de formado, sendo que 58 por cento em uma das Faculdades de Medicina públicas do Estado do Rio de Janeiro. A carga horária semanal de trabalho gira em torno de 60 horas, sendo 72.3 por cento dedicado a Obstetrícia, em detrimento da Ginecologia, ou a Neonatologia, em detrimento da Pediatria geral. Além disto, 75 por cento dos entrevistados afirmam ser a Obstetrícia ou a Neonatologia suas áreas de maior interesse. Noventa por cento dos profissionais concentram a maior parte da sua carga horária em Hospitais Públicos. Quanto a realização de Residência Médica, verificamos que 88.3 por cento cumpriram o Programa, sendo que 55 por cento o fizeram em uma das seis Maternidades visitadas. O conhecimento de dados relativos a 50 por cento e 90 por cento de sobrevida para recém-nascidos, segundo o peso e idade gestacional, conforme informações relativas a própria Unidade onde atua o profissional, a uma unidade de nível terciário do Rio de Janeiro ou a países desenvolvidos, mostrou um percentual de acertos quase sempre inferior a 30 por cento. O mesmo ocorreu com indicadores das próprias Unidades, tais como mortalidade perinatal, neonatal e materna, taxa de cesáreas, números de parto por ano e, percentual de prematuridade e baixo peso. Apenas 13.3 por cento dos profissionais souberam delimitar o período Perinatal. Quando perguntamos sobre a existência de reuniões conjuntas entre Obstetras e Pediatras, não houve concordância entre profissionais de uma mesma Maternidade. Quanto a participação, 30 por cento comparecem a pelo menos metade das conjuntas. Também observamos divergências nas respostas ao perguntarmos sobre a existência de discussão entre Obstetras e Pediatras acerca das interrupções de gestações e, comunicação por parte dos Obstetras quando da admissão de gestantes de risco. Quanto a noção sobre Regionalização e Hierarquização, verificamos 41.7 por cento e 61.7 por cento de respostas corretas, respectivamente. Observamos divergências nas respostas dos profissionais de uma mesma maternidade acerca do seu nível de complexidade. Concluímos que, apesar do perfil de formação bastante positivo do ponto de vista da possibilidade de prestar cuidados Obstétricos e Pediátricos adequados, é necessário subsidiar os profissionais com informações que permitem uma abordagem Perinatal da mãe e do recém-nascido, bem como conscientizá-los da importância da atuação articulada entre eles. A ausência desta articulação pode se colocar como um obstáculo a formulação de propostas por parte do corpo de técnicos da área Perinatal, no sentido de reduzir os índices de mortalidade perinatal.