Dissertation
Estado nutricional e fatores associados ao crescimento de crianças indígenas Xavante, Mato Grosso
Nutritional status and factors associated with the growth of indigenous children Xavante, Mato Grosso
Registro en:
FERREIRA, Aline Alves. Estado nutricional e fatores associados ao crescimento de crianças indígenas Xavante, Mato Grosso. 2009. 116 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2009.
BR526.1; R980.41, F383e
Autor
Ferreira, Aline Alves
Resumen
Estudos sobre o perfil nutricional dos povos indígenas no Brasil têm apontado para
elevadas prevalências de desnutrição infantil, principalmente crônica, superando os
valores reportados para crianças não indígenas. O processo de transição epidemiológica
que esses povos vêm atravessando está vinculado a modificações significativas no
padrão de alimentação e subsistência. A investigação de fatores associados à
desnutrição é um importante meio para a compreensão das transformações na saúde. Os
complexos e múltiplos fatores que estão atrelados ao crescimento linear de crianças não
indígenas já são reconhecidos. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi descrever o
estado nutricional e analisar os fatores associados ao crescimento de crianças indígenas
Xavante de Pimentel Barbosa/ Etênhiritipá (MT). Considerando o contexto de vida
contemporâneo da comunidade, foram selecionadas variáveis socioeconômicas,
ambientais, reprodutivas e demográficas. Realizou-se uma análise descritiva a partir da
construção dos índices do estado nutricional infantil (P/I, E/I e P/E) de 225 crianças
menores de dez anos. Utilizou-se as curvas de referência do National Center for Health
Statistics (NCHS) e Organização Mundial de Saúde (2006). A partir da estatura (E) e
idade (I) de 173 crianças menores de dez anos, foram conduzidas análises univariada e
multivariada (significância = 5%), tendo o E/I como variável resposta por meio dos
programas SPSS 9.0 e R 2.4.1. As variáveis independentes foram: sexo, idade, idade
materna, estatura materna, IMC materno, índices socioeconômicos (“renda e “riqueza”,
analisados separadamente), proporção de adultos e de crianças no domicílio. Os
pressupostos paramétricos foram testados, assim como verificados os resíduos e a
colinearidade utilizando VIF (Variance Inflation Factor), do modelo final. O baixo P/I
e E/I, de acordo com o NCHS, atingem 5,6 e 14,7% das crianças menores de 10 anos. Já
entre as crianças menores de 5 anos, esses valores, pela OMS, chegam a 4,5 e 29,9%,
respectivamente. A variação do estado nutricional das crianças menores de 2 anos teve a
proporção do número de adultos na habitação e a idade da criança como fatores
associados, nos dois modelos com os ISE diferentes. O IMC materno explicou 11,5% da
variabilidade do escore z nas crianças entre 2 e 5 anos. Naquelas acima de cinco anos os
índices socioeconômicos “renda”e “riqueza” e a estatura da mãe mostraram-se
associados ao estado nutricional. Na verificação do melhor modelo, através do teste
Anova, observou-se que a contribuição de ambas as variáveis socioeconômicas foram
significativas (p=0,004 e p=0,001, respectivamente) e todos os valores de VIF foram
menores que 10. Também foi descartada a possibilidade de interação entre as variáveis.
É possível que outros fatores, além dos analisados, estejam associados à baixa E/I de
crianças Xavante. Os achados permitem uma melhor compreensão das condições de
vida e dos fatores que explicam, mesmo que parcialmente, o estado nutricional das
crianças indígenas. As elevadas frequências de desnutrição encontradas evidenciam
importantes implicações para os serviços de saúde, com necessidade de um
acompanhamento contínuo a fim de minimizar os danos provocados pelos agravos
nutricionais. Assim, os resultados dessa investigação podem auxiliar na implantação de
propostas que visem a melhoria do quadro de saúde e nutrição e o delineamento de
ações mais específicas para o tratamento e prevenção da desnutrição. Studies of the nutritional profiles of indigenous peoples in Brazil indicate high
prevalences of infant undernutrition, principally chronic, surpassing the values reported
for non-indigenous children. The process of epidemiological nutrition being
experienced by these peoples is associated with significant modifications in dietary and
subsistence patterns. Investigating the factors associated with undernutrition is an
important means for understanding health change. The complex and multiple factors
involved in linear growth of non-indigenous peoples are already recognized.
Accordingly, the objective of this study was to describe the nutritional status of and
analyze the factors associated with growth among indigenous Xavante children of
Pimentel Barbosa/Etênhiritipá, Mato Grosso. Taking into consideration the
contemporary context of life in the community, socioeconomic, environmental,
reproductive, and demographic variables were selected. Descriptive analysis began with
the construction of infant nutritional status indexes (weight-for-age, height-for-age, and
weight-for-height) for 225 children under 10 years of age. National Center for Health
Statistics (NCHS) and World Health Organization (2006) reference curves were
employed. Based on the height and age of 173 children under 10 years of age, univariate
and multivariate analyses were conducted (significance = 5%), with height-for-age as a
response variable, using the software programs SPSS 9.0 and E 2.4.1. Independent
variables were: sex, age, maternal age, maternal height, maternal IMC, socioeconomic
indices (income and wealth, analyzed separately), and proportion of adults and of
children in the domicile. Parametric assumptions were tested, and the residuals and
collinearity of the final model were verified using variance inflation factor (VIF). Low
weight-for-age and height-for-age, according to NCHS reference curves, reached 5.6%
and 14.7% of children under 10 years of age. Among children less than 5 years of age,
these values, according to WHO reference curves, reached 4.5% and 29.9%,
respectively. Variation in nutritional status among children less than 2 years of age was
found to be associated with proportion of adults in the domicile and age of the child in
the two models with different socioeconomic indices. Maternal BMI explained 11.5%
of the variation in z-scores among children between 2 and 5 years of age. Among
children 5 years of age and older, the socioeconomic indices (income and wealth) and
maternal height were found to be associated with nutritional status. In verifying the best
model by means of ANOVA test, it was observed that the contribution of both
socioeconomic variables were significant (p=0.004 and p=0.001, respectively) and all
VIF values were less than 10. The possibility of interaction between the variables was
also eliminated. It is possible that other factors that were not analyzed are associated
with low height-for-age among Xavante children. The findings permit a better
understanding of the life conditions and factors that explain, even partially, the
nutritional status of indigenous children. The elevated frequencies of undernutrition
encountered have important implications for health services, including the necessity of
continuous accompaniment in order to minimize the harm caused by nutritional
hardship. Thus, the results of this study may be useful for developing proposals that
seek to better health and nutritional conditions and in delineating more specific actions
for treating and preventing undernutrition.