Periodical
RADIS - Número 38 - Outubro
Registro en:
RADIS: Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP, n. 38, out. 2005. 36 p. Mensal.
Autor
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Resumen
Baruch Spinoza dizia que o homem livre pensa sempre na morte, mas que sua sabedoria está em meditar sobre a vida. Delicada e revolucionária, a psiquiatra Nise da Silveira não conheceu Spinoza, mas, 300 anos após a morte do filósofo, lhe escrevia cartas para aproximar-se dele “como discípula e como amiga”. Porém Nise conheceu Arthur Bispo do Rosário no antigo hospício Pedro II e pôde incentiva-lo a criar e revelar sua arte consagrada em todo o mundo. O sanitarista David Capistrano Filho não conheceu o escritor Lima Barreto, que escreveu Diário do hospício quando internado pela polícia no Pedro II, mas promoveu a histórica intervenção e humanização na terrível Casa de Saúde Anchieta, em Santos (SP), e teve como discípulo o secretário de saúde Luiz Odorico, que fechou o manicômio Casa de Repouso Guararapes, onde morrera Damião Ximenes Lopes, sem a chance de ver Luís Tófoli coordenar uma rede de atenção integral à saúde mental em Sobral (CE), nem de ouvir falar de Gastão Wagner ou Rosana Onocko e da rede de centros de atenção psicossocial de Campinas (SP). Hilton Marinho é um simples assistente-administrativo num pequeno município fluminense, mas defende o SUS com paixão, como sua vizinha na seção de cartas desta revista, Christiane Brito, que é baiana como Raul Seixas, compositor preferido da Rádio TamTam e das festas registradas pela TV Pinel. César Victora conhece Jairnilson Paim, que conhece José Temporão, que conhece Madel Luz, que conhece Pedro Gabriel, irmão de Paulo Delgado, autor do Projeto de Lei pelo fim dos manicômios, alterado e aprovado na forma do substitutivo de Sebastião Rocha, texto criticado por Jéferson Rodrigues. Todos defendem o SUS, a Reforma Psiquiátrica e a Reforma Sanitária, como o doutor Domingos e tantos outros conhecidos e anônimos que não aparecem nesta edição de Radis. E todos provavelmente admiravam Herbert de Souza, o Betinho, que amava o povo brasileiro. Todos loucos, que é uma “categoria social”, como ensina o mestre Paulo Amarante, discípulo de Franco Basaglia. Loucos por acreditar e lutar pela saúde de cada um e da coletividade. Loucos pela vida.
Rogério Lannes Rocha Coordenador do RADIS