As tentativas de suicídio se caracterizam pelo comportamento suicida não fatal e compreendem atos intencionais, como envenenamentos e automutilações. Apesar de ser um evento raro na infância e nos primeiros anos da juventude, a ocorrência das tentativas de suicídio no mundo vem apresentando aumento nas últimas décadas, e observa-se que este período da vida é o de maior vulnerabilidade. Descrever as lesões autoprovocadas compreendidas como tentativa de suicídio, notificadas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), no Brasíl, no período de 2011 a 2016. Estudo descritivo das notificações de lesão autoprovocada com tentativa de suicídio em vítimas de 0 a 19 anos de idade. Foram calculadas medidas de frequência e de dispersão segundo sexo, raça/cor, UF de residência, se a tentativa ocorreu outras vezes, local de ocorrência e meio de agressão. Para todas as análises foi utilizado o software STATA versão 14. No período de 2011 a 2016, foram identificados no Sinan 1.173.418 notificações de violência, sendo 176.226 (15%) lesões autoprovocadas. Dentre esses casos, 48.204 (27,4%) foram notificadas como tentativa de suicídio, onde 10.764 (22,3%) envolviam crianças e adolescentes (179 entre 0 e 9 anos e 10.585 entre 10 e 19 anos). A maior parte dos casos notificados envolvia meninas, da raça/cor branca. O Estado de São Paulo apresentou maior número de casos notificados nas duas faixas etárias, independente do sexo. Cerca de 20% dos casos não relatou que o evento ocorreu outras vezes. A residência foi o local de ocorrência em 80% dos casos. O subregistro das tentativas de suicídio pode ocorrer por motivos como a família ou profissionais de saúde negaram a realidade, omitindo-se de notificá-la, ou pelo fato do indivíduo ser cuidado em casa, não chegando aos equipamentos de saúde. Observa-se que o tema, principalmente em faixas etárias menores, ainda é envolvido por tabus, mitos e preconceitos, principalmente no que se refere à moral e interferências culturais.