No Brasil, o cultivo do tabaco é associado a graves problemas de saúde entre os agricultores, e que podem evoluir para um quadro de depressão e suicídio. A exposição de trabalhadores rurais a agrotóxicos em culturas de tabaco é, na maioria das vezes, tratada como um evento isolado, desconsiderando-se a exposição concomitante a outras substâncias, comoa nicotina, presente nas folhas de tabaco. O presente trabalho tem como objetivo analisar as exposições ocupacionais e ambientais a agrotóxicos e nicotina na cultura de tabaco domunicípio de Arapiraca/AL, com ênfase nos efeitos dessas exposições sobre a atividade da enzima acetilcolinesterase (AChE). A partir do conhecimento do processo de trabalho local, um grupo de 72 fumicultores do município foram avaliados com relação exposição aagrotóxicos organofosforados (OP) e carbamatos e à nicotina nos períodos de cultivo e entresafra do tabaco. A exposição a agentes anticolinesterásicos foi avaliada através da análise da atividade da AChE eritrocitária, enquanto a exposição à nicotina foi avaliada através dosníveis plasmáticos de cotinina. Um grupo composto por 45 indivíduos foi utilizado como controle na comparação da atividade da AChE. Complementarmente, avaliou-se o efeito in vitro da exposição à nicotina e a OP sobre a atividade da AChE. A análise dos resultados mostrou que, nos testes in vitro, a nicotina somente inibiu a AChE em concentrações iguais ousuperiores a 0,5mM. A nicotina não apresentou efeito aditivo nas inibições da AChE por etil paroxon in vitro. (...) Seis indivíduos não fumantes apresentaram valores de cotininaentre 50 e 200 ng/mL, caracterizando uma exposição ocupacional a nicotina. A análise dos resultados in vivo mostrou que os níveis de cotinina plasmático apresentado pelos agricultoresnão têm correlação com a atividade da AChE. Isto aponta para a possibilidade da não ocorrência de um efeito aditivo da exposição à nicotina e agrotóxicos sobre a atividade da AChE, fator que pode ser utilizado para um diagnóstico diferencial entre a exposição aagrotóxicos e à nicotina entre trabalhadores da cultura fumageira.Farmworkers exposure to pesticides in tobacco production is most often treated as an isolated event, ignoring concomitant exposure to other substances such as nicotine, present in tobacco leaves. This study aims to analyze occupational and environmental exposures to pesticides and nicotine in tobacco production at Arapiraca, Alagoas State, Northeast Brazil, emphasizing the effects of these exposures on acetylcholinesterase (AChE) activity. After characterizing local work processes, it was analyzed the activities of AChE in group of 72 rural workers in relation to organophosphate pesticides (OP) and nicotine exposure in harvest and between-harvests periods. In addition, it was evaluate the in vitro effect of nicotine and OP exposure on AChE activity. In vitro tests’ results showed that nicotine only inhibited AChE at concentrations equal to or greater than 0.5 mM. Nicotine showed no in vitro additive effect on AChE inhibition by ethyl-paroxon. During harvest period, it was observed a significant reduction (p <0.05) in AChE activity (4.52 ± 0.57 kU / L) compared to betweenharvests period (4, 92 ± 0.59 kU / L) and the control group (4.72 ± 0.37 kU / L), determining an occupational exposure to OPs. Farmers who smoke had higher cotinine levels (151.9 ± 64.1 ng / mL) compared to non-smokers (29.2 ± 46.7 ng / mL). Six non-smokers had cotinine values between 50 and 200 ng / mL, featuring an occupational exposure to nicotine. The results in vivo showed that levels of cotinine in plasma had no correlation with AChE activity. It points to the possibility of the absence of additive effect of simultaneous exposure to nicotine and OP on AChE activity, a factor that can be used for differential diagnosis between pesticides and nicotine exposures among farmworkers enrolled at tobacco production. Key-words: Acetylcholinesterase, cotinine, pesticides, tobacco, exposure.