Thesis
Residência e deslocamentos por imigrações, atividades laborais ou lazer na leishmaniose cutânea em Centro de Referência da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, 2000-2015
Registro en:
SALGUEIRO, Mariza de Matos. Residência e deslocamentos por imigrações, atividades laborais ou lazer na leishmaniose cutânea em Centro de Referência da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, 2000-2015. 2020. 112 f. Tese (Doutorado em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas) - Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2020.
Autor
Salgueiro, Mariza de Matos
Resumen
A leishmaniose cutânea (LC) do ponto de vista da Medicina do Trabalhador ou da Saúde do Viajante tem chamado atenção crescente, sendo uma das condições de risco para pessoas que trabalham ou se deslocam para áreas endêmicas. As informações relacionadas aos deslocamentos por imigrações, atividade laborais e de lazer na LC no Brasil são escassas. Objetivou-se estudar os casos de LC segundo residência ou deslocamentos por imigrações, trabalho ou lazer. Estudo retrospectivo com uma coorte de 711 pacientes com LC atendidos entre 2000 e 2015 no Laboratório de Pesquisa Clínica e Vigilância em Leishmanioses, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Os 696 pacientes com domicilio no estado do Rio de Janeiro (RJ) foram estudados quanto à transmissão por motivo de residência ou deslocamentos por imigração, trabalho ou lazer. Os 171 pacientes com história de deslocamentos foram incluídos em uma análise espacial com o uso de ferramentas de geoprocessamento. De 465 pacientes com visualização ou isolamento parasitário, as espécies de Leishmania puderam ser identificadas em 66,8%. Houve marcado predomínio do sexo masculino nos moradores do RJ (63%). A média de idade foi de 35,9 anos (desvio-padrão 19,2). O local provável de infecção predominante foi a residência em área endêmica (82,6%), com diversidade de profissões Quanto à transmissão por deslocamentos relacionados a atividades laborais (7,5%), os militares representaram a parcela mais importante. Percentuais menores se deveram a deslocamento por imigração (3,6%) ou lazer (6,3%). A espécie predominante foi Leishmania. (Viannia) braziliensis, sendo responsável pela quase totalidade dos isolados tipados quando o motivo de transmissão foi residência em área endêmica. A maior variedade de espécies e variantes foi encontrada quando a transmissão ocorreu por deslocamentos devido a atividades laborais. A endemia nos casos autóctones do estado do RJ predominou em áreas urbanas; houve maior ocorrência nas cidades em torno da área florestada da região serrana. No município do Rio de Janeiro, casos autóctones ocorreram principalmente nos bairros que circundam os maciços da Pedra Branca e GericinóMendanha, áreas florestadas no interior da região urbana. Quanto aos isolados de 171 pacientes com história de deslocamento, estes foram identificados como L. (V.) braziliensis em 104 casos (80,8%) além de L. (V.) naiffi (7,7%), L. (V.) guyanensis (6,7%), L. (Leishmania) amazonensis (1%), e variantes genéticas de L. (V.) braziliensis (3,8%) Os mapas de fluxo mostraram que o local provável de infecção incluiu quatro países, 19 estados brasileiros e 18 cidades do estado do RJ. Os locais prováveis de infecção em estados diferentes do RJ foram no Amazonas (32), Bahia (18) e Ceará (15 pacientes). O conhecimento do fluxo migratório e da localização geográfica dessas espécies de Leishmania trazidas de outros locais pode contribuir para a vigilância da LC no estado do RJ, já que existe a possibilidade de que estas espécies possam ser introduzidas em áreas suscetíveis com flebotomíneos e se estabelecer em território fluminense, com repercussões nas apresentações clínicas, no tratamento e no controle da doença. Nossos resultados demostram a complexidade geográfica e epidemiológica da leishmaniose cutânea no RJ. Cutaneous leishmaniasis (CL) from the point of view of occupational medicine or traveller's health has drawn increasing attention, being one of the risk conditions for people who work or move to endemic areas. Information related to displacement due to immigration, work and leisure activities in CL in Brazil is scarce. The objective was to study the cases of CL according to the residence or displacements due to immigration, work or leisure. Retrospective study with a cohort of 711 patients with CL attended between 2000 and 2015 at Laboratório de Pesquisa Clínica e Vigilância em Leishmanioses, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. The 696 patients domiciled in the state of Rio de Janeiro (RJ) were studied for transmission due to residence or displacement due to immigration, work or leisure. The 171 patients with a history of displacement were included in a spatial analysis using geoprocessing tools. Leishmania species could be identified in 66.8% of 465 patients with parasitic visualization or isolation. There was a marked predominance of males in residents of RJ (63%). The mean age was 35.9 years (SD 19.2). The most likely infection site was the residence in endemic area (82.6%), with diversity of professions. Regarding transmission by displacements related to work activities (7.5%), military personnel represented the most important group. Lower percentages were due to immigration (3.6%) or leisure (6.3%) displacements. The predominant species was Leishmania (Viannia) braziliensis, being responsible for almost all of the characterized isolates when the reason for transmission was residence in endemic areas The greatest variety of species and variants was found when transmission occurred due to displacement for labor activities. The endemic in the autochthonous cases of the state of RJ predominated in urban areas; there was a higher occurrence in the cities around the forested area of the mountain region. In the municipality of Rio de Janeiro, autochthonous cases occurred mainly in the neighborhoods surrounding the Pedra Branca and GericinóMendanha massifs, forested areas in the interior of the urban region. Regarding the isolates of 171 patients with a history of displacement, these were identified as L. (V.) braziliensis in 104 cases (80.8%) in addition to L. (V.) naiffi (7.7%), L. (V. ) guyanensis (6.7%), L. (Leishmania) amazonensis (1%), and genetic variants of L. (V.) braziliensis (3.8%). The flow maps showed that the probable site of infection included four countries, 19 Brazilian states and 18 cities in the state of RJ. The probable sites of infection in Brazilian states other than RJ were in Amazonas (32), Bahia (18) and Ceará (15 patients). The knowledge of the migratory flow and the geographic location of these Leishmania species brought from other areas can contribute to the surveillance of CL in the state of RJ, since there is a possibility that these species can be introduced in areas with susceptible sand flies and establish themselves in the territory, with repercussions on clinical presentations, treatment and disease control. Our results demonstrate the geographical and epidemiological complexity of cutaneous leishmaniasis in RJ.