Dissertation
Mulheres, aids e o serviço de saúde: interfaces
Women, aids and the health service: interfaces
Registro en:
AGUIAR, Janaína Marques de. Mulheres, aids e o serviço de saúde: interfaces. 2004. 150 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004.
Autor
Aguiar, Janaína Marques de
Resumen
Esta pesquisa buscou compreender, sob a ótica das relações de gênero, a relação entre um serviço público de saúde no Estado do Rio de Janeiro e suas usuárias com HIV/Aids, em torno do tratamento a elas oferecido. O objetivo foi compreender como se estrutura esta relação, enfocando a utilização de estratégias, por ambas as partes. A abordagem metodológica adotada foi a qualitativa, fundamentada na análise hermenêuticadialética. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com 10 mulheres HIV+ e 7 profissionais de saúde. As categorias de análise, para ambos os grupos pesquisados, centraram-se nas representações de gênero, nas representações sobre a
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) e nas representações sobre o serviço de saúde. A análise dos dados revelou que os profissionais utilizam várias estratégias na tentativa de adequarem a assistência à precariedade de recursos tanto da instituição quanto
das pacientes. Embora as dificuldades encontradas sejam fonte de estresse e frustração para toda a equipe, prevalece a busca por uma assistência o mais integral possível para estas
mulheres, possibilitando transformações nas suas práticas. Contudo, permanece no imaginário coletivo destes profissionais a tradicional figura da mulher/mãe/esposa, vista como vítima. Por outro lado, para as entrevistadas HIV+ prevalece a imagem de "guerreira", alimentada pela ideologia da mulher moderna, produtora na esfera pública e
privada, encobrindo a dupla jornada de trabalho, como um dos efeitos da transição de gênero. Como pacientes, estas mulheres assumem posturas ativas no seu tratamento através de múltiplas estratégias, como a própria reprodução do discurso médico. Elas também se tornam agentes ativos nas suas relações com os profissionais, estabelecendo limites para a
sua atuação e avaliando-os de acordo com critérios, como capacidade técnica e afetuosidade. Percebeu-se, portanto, que na interação entre profissionais e pacientes existe a possibilidade de transformações na prática assistencial, no sentido de uma integralidade, tal
como preconizada pelo PAISM, desde que haja o investimento necessário por parte das políticas públicas de saúde. This research tackles, from the point of view of gender relationships, the dynamic and interrelations between the daily operation of a health public facility in the State of Rio de Janeiro and its clients living with HIV/Aids, highlighting treatment provision and uptake. The study aims to analyze such dynamic from the perspective of both HIV+ women
and providers. Through a thorough exploration of patients and providers’ concepts, experiences and feelings, we assess strategies used by both parts to cope with difficulties emerging from living with HIV/AIDS, caring for people living with HIV/AIDS, in a broader frame of social and gender imbalance. Qualitative methods were used, based on
dialectical and hermeneutic analysis. Data were collected through semi-structured interviews with ten HIV+ women and seven health professionals. Analyses focused on gender issues, representations of HIV/Aids, and perceptions about the aims and operations of health services. Results showed that professionals use various strategies in order to tailor
actual care to the constraints posed by budgetary restrictions and shortage of trained manpower. Difficulties made evident by both patients and providers are an undeniable source of stress and frustration for the staff, but strenuous efforts have been made to improve prevailing conditions toward better conditions and an integrated system of patient management and care. The powerful metaphor of women as mother/wives and above all
passive victims of male abusive behaviors is still pervasive, jeopardizing more dynamic and interactive perspectives of analysis and prevention of social and gender imbalance. On the other hand, modern women are also viewed as “warriors”, always ready to face multifarious challenges, active in both public and private spheres, masking the double
working journey as an effect of gender transition. Nor victims, neither warriors, real women living with HIV/AIDS assume active roles in their treatment through multiple strategies, such as translating in a culturally-sensitive ways biomedical knowledge and practices. Actual women living with HIV/AIDS face the many daily life difficulties through a blend
of practical knowledge and tenderness, dealing with providers with affection, without losing their critical perspective.