Escravidão, Medicina e Doenças: investigando sociabilidades escravas nas plantations cafeeiras de Cantagalo, século XIX

Abstract

Sob diversos ângulos muitos pesquisadores debruçaram-se sobre as múltiplas características dos universos sociais escravistas em variados contextos atlânticos, examinando o cotidiano, os arranjos familiares e as sociabilidades diversas. Nesse ínterim, os debates sobre a saúde e as causas das doenças dos cativos têm constituído-se como objeto de estudos de pesquisadores de diferentes campos do conhecimento revelando novas perspectivas a respeito de historicidades muito mais complexas do que até então se entendia. Com a análise das condições de saúde e doença dos cativos que viviam nas plantations cafeeiras do Vale do Paraíba fluminense, a região de Cantagalo, pretendemos examinar as experiências desses escravos relativas à doença, à morte e as respectivas práticas de cura acionada por senhores e escravos. Através da análise dos processos de inventários post-mortens, processos envolvendo a cobrança de honorários médicos, manuais e relatórios médicos investigaremos o conjunto de conhecimentos produzidos, sistematizados e disponibilizados para os cuidados da população escrava inseridos em um cenário social de rápida expansão de uma economia cafeeira de plantation, crescimento demográfico e incremento do tráfico atlântico de escravos. Nesse sentido, mundos da escravidão são revelados nessa importante paisagem social do Rio de Janeiro Imperial em que o trabalho escravo era peça chave destas mudanças e as experiências complexas das relações entre senhores e escravos compunham a dinâmica social dessa importante região cafeeira.