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Nota rápida de evidência: testes diagnósticos de antígenos com autocoleta de material biológico para diagnóstico de COVID-19
Fecha
2021Registro en:
RAMOS, Maíra Catharina; CAMARGO, Erika Barbosa; ELIAS, Flávia Tavares Silva. Nota rápida de evidência: testes diagnósticos de antígenos com autocoleta de material biológico para diagnóstico de COVID-19. Brasília: Fiocruz Brasília, 2021. n. 5, 52 p.
Autor
Ramos, Maíra Catharina
Camargo, Erika Barbosa
Elias, Flávia Tavares Silva
Institución
Resumen
Tecnologia: Autotestes de antígenos para COVID-19.
Indicação: Diagnóstico de COVID-19.
Caracterização da tecnologia: Testes diagnósticos de antígenos com
autocoleta de material biológico para diagnóstico de COVID-19.
Contexto e Pergunta: Diversas instituições estão elaborando proposta de plano
de retorno e em reunião entre o Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde
(NEVS) e o Programa de Evidências para Políticas e Tecnologias em Saúde
(PEPTS) surgiu a necessidade de uma nota rápida de evidências sobre a
performance clínica de autotestes para COVID-19.
Busca e análise das evidências científicas: As buscas foram realizadas no dia
20 de outubro de 2021 nas seguintes bases de dados: MEDLINE via PubMed,
Embase, Cochrane Library, Web of Science, Scopus e OVID e na literatura cinza.
Resumo dos resultados dos estudos selecionados: Foram identificados 504
estudos, sendo removidos 10 por serem duplicatas. A seleção por título e resumo
foi realizada por duas pesquisadoras independentes (MCR e EBC), sendo as
divergências resolvidas por uma terceira pesquisadora (FTSE). Dos 494
resumos, foram elegíveis 68 para a leitura completa. Após critérios de inclusão -
autocoletas realizadas em 2021 – foram incluídos quatro estudos para essa
NRE. A partir da avaliação QUADAS 2, identificou-se que os estudos incluídos
apresentam baixo risco de viés.
Os resultados foram subdivididos conforme comparadores utilizados nos
estudos incluídos. Dois estudos avaliaram o uso de autotestes de antígeno (AgRDT) a partir de coleta nasofaríngea comparado ao RT-PCR (Osmanodja et al.
2021 e Willeit et al. 2021) e um avaliou autotestes baseados em amostra de
saliva comparados ao RT-PCR (Homza et al. 2021). Por fim, um estudo avaliou
a acurácia de métodos de autocoleta com amostras de saliva, expectoração de
muco e escarro coletado pela manhã comparados à coleta por profissional de
saúde (Poukka et al. 2021).4
O estudo de Osmanodja et al. (2021) coletou amostras entre 12 de fevereiro a
22 de março de 2021 em Berlim, Alemanha. O objetivo foi avaliar a sensibilidade
e especificidade para um novo teste Ag-RDT com amostra de esfregaço nasal
anterior supervisionada e autocoletada. Foram incluídos 379 pacientes (273
sintomáticos e 106 assintomáticos). Nos 61 participantes sintomáticos com
concentração viral média ou alta (≥1 milhão de cópias de RNA), a sensibilidade
do Ag-RDT foi de 96,7% (59/61 RT-PCR positivos detectados; 95% IC 88,7-
99,6%). Em nove pacientes com baixa concentração viral (<1 milhão de cópias),
apenas 3 foram positivos com o teste Ag-RDT. Quando comparado com os
resultados do RT-PCR, o novo Ag-RDT obteve sensibilidade de 88,6% (62/70
PCR positivos detectados; IC 95% 78,7–94,9%). A sensibilidade para pacientes
com Ct-value ≤ 32 foi de 92,5% (62/67, IC 95%: 83,4–97,5%). A especificidade
entre os pacientes sintomáticos foi de 99,5% (203/204; IC 95%: 97,3–100%).
O estudo de Willeit et al. (2021) teve por objetivo avaliar o desempenho do
programa de triagem baseado em antígeno para detectar infecções por SARSCoV-2 em escolas austríacas, incluindo 244 escolas, 6.423 alunos e 1.100
professores. A sensibilidade e especificidade foram modeladas assumindo uma
faixa de valores preditivos positivos para o autoteste nasal anterior baseado em
antígeno (20-100%) e usando estimativas pontuais e limites de intervalo de
confiança de 95% como estimativas do valor preditivo negativo. As faixas de
sensibilidade dos autoteste nasal anterior baseado em antígeno
correspondentes foram de 10,9-32,0% nas escolas primárias, 8,4-46,7% nas
escolas secundárias e 19,4-79,6% em professores, assumindo um valor preditivo
positivo de 60%. Quando assumido valor preditivo positivo perfeito, de 100%, as
faixas de sensibilidade foram de 17,0-44,0% nas escolas primárias, 13,3-59,4%
nas escolas secundárias e 28,7-86,6% em professores. O modelo indicou altos
valores de especificidade em 20%, 60% e 100% quando assumido valores
preditivos positivos de 99,92%, 99,6% e 100% para alunos do ensino
fundamental, 99,95%, 99,7% e 100% para alunos do ensino médio e 99,77 %,
99,88% e 100% para professores.
O estudo de Homza et al. (2021) avaliou o desempenho de seis testes rápidos
de antígeno (TRA) usados na República Tcheca em relação ao qRT-PCR. Ao
todo, 2.287 amostras foram retiradas e analisadas. A sensibilidade e5
especificidade dos testes realizados por profissionais de saúde foram superiores
aos testes com autocoleta. Quanto ao teste de saliva autocoletado, observou-se
uma baixa sensibilidade (<40%), enquanto a especificidade desses autotestes
foi superior a 89%. Quando realizada a análise corrigida para cultura de células,
foi observada relativa melhora na performance dos TRA avaliados. Entretanto,
os autotestes de amostra de saliva continuaram com baixa sensibilidade (<45%)
e alta especificidade (>90%).
O estudo de Poukka et al. (2021) analisou a sensibilidade de três métodos
alternativos de coleta de amostras que não exigiam contato próximo com um
profissional de saúde; ou seja, autocoletados. Foram coletadas 40 amostras
concomitantes de NPS coletado por profissional de saúde e autocoleta de saliva
no dia do recrutamento e 40 amostras de saliva autocoletada na manhã seguinte;
18 amostras autocoletadas de expectoração de muco e 16 amostras de escarro
autocoletado pela manhã. As amostras de escarro autocoletado pela manhã
apresentaram a maior sensibilidade (sensibilidade, 1,00 [95% IC 1,00-1,00]),
seguido por amostras autocoletadas de saliva, independentemente de quando
foram coletadas (0,97 [95% IC 0,92-1, 00]). As amostras autocoletadas de
expectoração de muco tiveram a sensibilidade mais baixa (0,94 [95% IC 0,87-
1,00]).
Ademais, destaca-se que essa Nota Rápida de Evidências não conseguiu
identificar na busca realizada a acurácia diagnóstica de autotestes para as
diferentes variantes do SARS-CoV-2 (Alfa, Beta, Gama e Delta). A título de
discussão, encontrou-se estudo realizado na Universidade de Tóquio, Japão,
que avaliou a sensibilidade de testes rápidos de antígeno para COVID-19 para
a variante Delta coletado por profissionais de saúde[25]. Apesar da sensibilidade
relativamente alta observada nos testes rápidos, a capacidade de detecção
correta da variante Delta ainda é melhor no qRT-PCR. Para esses autores, os
testes rápidos de antígeno apresentam resultados negativos quando a
quantidade de vírus nas amostras é baixa. No entanto, tais testes são úteis para
um diagnóstico rápido, especialmente em cenários de recursos limitados,
especialmente os laboratoriais[25].
Em uma busca em sites de agências reguladoras, identificou-se que, até
setembro de 2021, o FDA havia aprovado emergencialmente a comercialização6
de 13 autotestes para diagnóstico de COVID-19 (Anexo C)i,ii. A agência
australiana, Therapeutic Goods Administration, também concedeu a autorização
a 13 autotestes, segundo dados de novembro de 2021iii, enquanto o Health
Canada autorizou o uso de cinco autotestes até a data de abril de 2021iv, e a
agência alemã concedeu autorização a 16 autotestes para COVID-19 até a data
de outubro de 2021v.
Na Anvisa, não há informação disponível sobre a autorização emergencial
para comercialização e uso de autotestes, sejam por amostras coletas em
nasofaringe ou saliva. Segundo a RDC de 2015, não há previsão de registro de
teste rápido com autocoleta de material biológico (art. 15 da RDC n.º 36, de 26
de agosto de 2015[26]). No entanto, o parágrafo único da mesma RDC ressalta
que se for objeto de políticas públicas, essas regras podem ser afastadas, a
exemplo de alguns testes para HIV/AIDS.
Recomendação: Baseado nas evidências identificadas nessa Nota Rápida de
Evidência, recomenda-se o uso de autotestes como estratégias de triagem. No
atual cenário da pandemia, onde as atividades educacionais e laborais estão
voltando à modalidade presencial, o autoteste pode ter um impacto significativo
na vigilância e controle da transmissão do SARS-CoV-2 em ambientes como
escolas, universidades, empresas, entre outros. Ainda, denota-se a
necessidade de realização de mais estudos sobre autotestes para COVID-19
que avalie: (i) a acurácia de autotestes considerando as variantes de
preocupação identificadas pela OMS, (ii) segurança de testes com autocoleta de
material biológico para COVID-19, e; (iii) descarte de resíduos biológicos em
locais deferentes dos serviços de saúde.