Dissertation
O louco no hospital geral: imaginário sobre a loucura e desafios ao cuidado integral
Fecha
2015Registro en:
PRADO, Marina Fernandes do. O louco no hospital geral: imaginário sobre a loucura e desafios ao cuidado integral. 2015. 226 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2015.
Autor
Prado, Marina Fernandes do
Institución
Resumen
A produção do cuidado integral aos pacientes com transtorno mental grave
internados no hospital geral em decorrência de um problema de saúde é um
desafio para esses serviços e consiste num tema ainda pouco discutido no
Brasil, seja no âmbito das políticas públicas, seja na própria academia. Neste
contexto, a presente pesquisa se propõe a explorar o imaginário sobre a
loucura e suas possíveis implicações para o cuidado integral ao paciente com
transtorno mental severo internado em unidades não-psiquiátricas do hospital
geral. Para tanto realizamos um estudo teórico, tendo como principais
categorias de análise o cuidado integral, o imaginário, o trabalho em saúde e
as representações sobre a loucura. Tomamos como um dos conceitos centrais
o imaginário social, segundo Cornelius Castoriadis (1982), as principais noções
de cuidado desenvolvidas no campo da saúde coletiva, elementos da história
da loucura, a partir de uma leitura foucaultiana e as contribuições da
psicossociologia francesa, de base psicanalítica, na discussão sobre as
organizações. Reconhecemos como característica comum a todo trabalho em
saúde seu caráter eminentemente intersubjetivo, protagonizando a cena
terapêutica pelo menos dois sujeitos - o profissional de saúde e o paciente - o
que nos faz admitir os reflexos dos processos inconscientes para a produção
do cuidado assistencial. Desta forma, o trabalho em saúde implica um intenso
trabalho psíquico dos profissionais, que envolve fantasias inconscientes,
representações e afetos, muitas vezes ambivalentes, com relação ao paciente.
A construção teórica que desenvolvemos sugere que o imaginário social
instituído acerca da loucura, apreendida segundo características de
imprevisibilidade, periculosidade e desordem, pode desfavorecer a construção
de identificações positivas entre o profissional de saúde e o paciente com
transtorno mental grave, o que impacta negativamente as práticas de cuidado,
especialmente no hospital geral, espaço de alta densidade/concentração
tecnológica, elevada padronização de procedimentos e rotinas, apresentando,
em geral, pouco espaço para interações mais livres entre pacientes e
profissionais. Além disso, a presença do louco no hospital geral e as
construções imaginárias que ele tende a suscitar podem desestabilizar os
pactos e alianças inconscientes que os profissionais de saúde e gestores,
como quaisquer membros de organizações, comumente estabelecem entre si,
o que também desestabiliza a dinâmica organizacional. Nessa direção, a
centralidade da discussão sobre a dimensão imaginária nos permitiu
compreender melhor o processo de construção e desconstrução do cuidado em
saúde e os saberes que o sustentam.