Thesis
Terceiro setor e parcerias na saúde: as Organizações Sociais como possibilidades e limites na gerência da Estratégia Saúde da Família
Fecha
2014Registro en:
SILVA, Vanessa Costa e. Terceiro setor e parcerias na saúde: as Organizações Sociais como possibilidades e limites na gerência da Estratégia Saúde da Família. 2014. 148 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2014.
Autor
Silva, Vanessa Costa e
Institución
Resumen
A reforma administrativa de cunho gerencialista que ocorreu no Brasil na década de 1990
instituiu o modelo de Organizações Sociais (OS) para a gestão das atividades pertencentes
ao “espaço público não estatal”, onde foi incluída a prestação de serviços de saúde no
âmbito do SUS. Esse modelo foi concebido como uma alternativa à constante baixa
capacidade de desempenho da gestão pública, e cuja principal causa seria o excessivo
controle dos procedimentos e a reduzida autonomia técnico-administrativa, próprios do
modelo burocrático e das normas que regem a administração direta. A partir de 2009, a
Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS) repassou a gerência da Estratégia
Saúde da Família (ESF) para Organizações Sociais de Saúde, mediante contratos de
gestão que discriminam objetivos e metas a serem alcançados na prestação de serviços.
Analisou-se tal experiência à luz do sistema de governança adotado pelo município e de
aspectos do desempenho da Estratégia Saúde da Família com o objetivo de identificar
limites e possibilidades desse modelo como alternativa organizacional no SUS. Realizouse o estudo de caso por meio de entrevistas com informantes-chave, análise documental
e de indicadores do Sistema de Informação da Atenção Básica. Elaborou-se um plano de
análise do sistema de governança, a partir da contribuiçäo de autores que desenvolveram
estudos críticos sobre as teorias subjacentes ao modelo de OS. Houve expansão do acesso
à atenção primária por meio do aumento da cobertura potencial da ESF que passou de
7,2% da população, em 2008, para 39,4% em 2013, mas a análise dos indicadores e a
percepção dos entrevistados sugerem uma tendência de que as práticas ainda
necessitariam serem aperfeiçoadas. Os resultados indicaram que a contratualização foi
instituída sem levar em conta aspectos importantes da lógica contratual como a
negociação e a responsabilização com autonomia dos prestadores; a avaliação e o controle
têm como foco os processos e não os resultados e não houve incremento da transparência
e do controle social. A SMS considera as OS como uma ferramenta administrativa para
agilizar a aquisição de bens e serviços e a provisão de profissionais de saúde, e estabelece
uma relação com essas entidades mais próxima da subordinação e mais afastada da
parceria e da cooperação, o que limitaria o desenvolvimento de inovações gerenciais que
poderiam ser introduzidas pela adoção da lógica contratual e da institucionalização da
avaliação de resultados. O estudo sugere que o modelo de OS ainda é frágil como
alternativa organizacional no SUS, porque o Estado não possui a capacidade regulatória
necessária, o que inclui debilidades nas tecnologias de monitoramento das atividades
prestadas e dificultam a avaliação do desempenho dos serviços. A capacidade regulatória
impediria que as organizações executoras dos serviços transferissem - em nome da
racionalidade do custo/efetividade - a racionalidade própria do mercado para os serviços
públicos de saúde. A gestão dos serviços de saúde é uma prática complexa em função da
amplitude do campo e da necessidade de conciliar interesses individuais, corporativos e
coletivos nem sempre convergentes. O desafio seria aprender com as diversas
experiências e identificar oportunidades que ampliem a capacidade dos governos de
implementação das políticas públicas como estratégia de promoção da justiça social.