Dissertation
Revelando vozes, desvendando olhares: os significados do tratamento para o HIV/AIDS
Fecha
2004Registro en:
CUNHA, Cláudia Carneiro da. Revelando vozes, desvendando olhares: os significados do tratamento para o HIV/AIDS. 2004. 163 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004.
Autor
Cunha, Cláudia Carneiro da
Institución
Resumen
A dissertação aborda os significados do tratamento para o HIV/AIDS. O referencial
metodológico é a pesquisa qualitativa e o campo de estudo o serviço de um hospital de
referência da Baixada Fluminense. O grupo estudado foi de 10 mulheres vivendo com
HIV/AIDS, em terapia antiretroviral (ARV). Os significados do tratamento se mostraram
relacionados: ao diagnóstico HIV+ no pré-natal ou quando do nascimento do filho, diante
da possibilidade ou não de protegê-lo da doença; ao momento do tratamento; ao espaço
(público e privado) onde se vive preferencialmente a doença e o tratamento; ao fato de
compartilhar ou não a doença e o tratamento com o parceiro e família; a busca de outras
racionalidades, como a religião e os remédios alternativos; ao vínculo afetivo com o
médico; a possibilidade de preservar as referências de vida anteriores ao diagnóstico. O(s)
filho(s) é(são) são referido(s) pelas entrevistadas como o sentido da vida, havendo uma
inter-relação estreita entre cuidar-se e cuidar dos filhos, tributário do tratamento ARV. O
auto-cuidado é, antes de tudo, afirmação da vida. Não “ceder ao lugar de doente” é não se
entregar à depressão, ruptura do cotidiano. A doença se materializa no corpo com o uso da
medicação, mas é possível, apesar das dificuldades, conciliar a rotina com o tratamento
ARV, o que é percebido como “ter saúde”, também pela ausência de “sintomas da doença”.
O impacto da doença relaciona-se à não percepção anterior de vulnerabilidade ao HIV. No
âmbito da saúde reprodutiva, ser soropositiva subtrairia o direito de ter (mais) filhos. As
questões da conjugalidade se sobrepõem àquelas concernentes ao HIV e a vivência da
doença opera uma inversão nos termos que qualificam o masculino e o feminino, tornando
os homens “fragilizados” e as mulheres (mais) “fortes”. Por outro lado, a inserção
econômica passa pela doença e sobressai a saída “tutelar”, que preserva o lugar da mulher
na casa e do homem como provedor, e evita a “morte civil”. Assumir o papel de “agente de
saúde” da família permite se diferenciar das demais pessoas de seu meio social. Adotar
uma prática preventiva não se resume à falta/pouca informação ou à incompreensão de
termos técnicos, mas diz respeito àquilo que é eleito enquanto “risco” e a relevância dos
diferentes riscos no cotidiano.