Thesis
Mulheres, reprodução e Aids: as tramas da ideologia na assistência à saúde de gestantes HIV+
Fecha
2001Registro en:
BARBOSA, Regina Helena Simões. Mulheres, reprodução e Aids: as tramas da ideologia na assistência à saúde de gestantes HIV+. 2001. 314 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2001.
Autor
Barbosa, Regina Helena Simões
Institución
Resumen
O eixo central desta pesquisa é a discussão da maternidade no contexto da epidemia de hiv/Aids e suas implicações para o campo reprodutivo, particularmente no que se refere à assistência à saúde das gestantes hiv+. O objeto do estudo é a gravidez hiv+, tanto pela ótica de mulheres hiv+ grávidas, quanto de profissionais de saúde que as assistem. A interface entre o serviço de saúde e as gestantes hiv+ foi um dos aspectos centrais da pesquisa. Teoricamente, foram adotados dois conceitos, ambos referenciados no marxismo: i) o conceito de ideologia, usado para interpretar como as ideologias de gênero e médica atuam na
intermediação das relações entre as gestantes hiv+ e os serviços de saúde, e ii) o conceito de gênero que, na perspectiva do feminismo marxista, postula a indissociabilidade entre os mecanismos de opressão das mulheres e os que promovem, no capitalismo, as desigualdades
sociais. Foi utilizada a metodologia qualitativa, com o uso de duas técnicas de coleta de dados: a observação participante das atividades assistenciais do serviço de saúde e entrevistas individuais semi-estruturadas com gestantes hiv+ e a equipe assistencial, totalizando 27
entrevistas. Os temas abordados foram: representações de gênero, a maternidade, a gravidez hiv+ e a avaliação da assistência à saúde. Com os profissionais de saúde, foram incluídos os dilemas éticos relacionados às decisões reprodutivas das mulheres hiv+. O locus da pesquisa foi um programa de referência na assistência às gestantes hiv+ localizado em um hospital público do Rio de Janeiro. Os resultados relacionados às entrevistas com as gestantes apontaram para as estreitas conexões entre gênero e classe social na conformação da vulnerabilidade feminina ao hiv. Foi evidenciado que a gravidez hiv+ se sobrepõe às dificuldades de sobrevivência anteriores, o que exige do serviço de saúde suportes sociais adicionais, inclusive para assegurar a eficácia do tratamento de prevenção da transmissão vertical. A assistência à saúde foi avaliada, pelas pacientes, de forma positiva, particularmente em função do suporte psico-social oferecido. A observação do serviço e as entrevistas com os profissionais de saúde mostraram que, embora a ideologia médica, entrelaçada à ideologia de gênero, estruture e informe práticas e posturas profissionais, os profissionais desta equipe são sensíveis para perceber os problemas e dificuldades sócio-familiares das pacientes, sensibilizam-se com suas agudas carências sociais e mobilizam-se para oferecer-lhes suporte social, sendo que este, no limite, torna-se necessário para garantir a eficácia da intervenção médica. Por fim, manifestam senso crítico sobre as atuais políticas de saúde que se refletem, entre outras, em agudas carências e deficiências no serviço público, e percebem a necessidade de integrar, na assistência à saúde, as dimensões afetiva, familiar e social, expressando o anseio pela integralidade na assistência à saúde. Identificou-se, portanto, apesar das limitações do modelo e da ideologia médica, um campo potencial para transformações nas práticas de saúde que apontam para a assistência integral à saúde na perspectiva dos direitos sexuais e reprodutivos.