Contradições entre um nacionalismo francês da segunda metade do século XIX e a teoria de um metódico: o debate de Fustel de Coulanges e Theodor Mommsen sobre a Alsácia-Lorena

Abstract

Os dois temas chaves do presente trabalho, mesmo sendo citados diversas vezes na literatura acadêmica, necessitam ainda de estudos profundos. Do ponto de vista dos nacionalismos, os trabalhos feitos principalmente pelas ciências sociais criaram muitas teorias, porém com embasamento em fontes abaixo do esperado. Já sobre a Escola Metódica dos franceses, é possível afirmar que poucos se debruçaram sobre esse tema pela quantidade - e qualidade - das críticas feitas ao longo do século XX, que relegaram esse campo de estudos ao ostracismo. A presente pesquisa pretendeu abordar essas duas questões a partir do debate entre Fustel de Coulanges, um dos grandes nomes da escola metódica, e Theodor Mommsen acerca da verdadeira nacionalidade da Alsácia-Lorena: francesa ou alemã. A querela foi travada entre os dois historiadores em colunas opinativas de jornais famosos na cena europeia, como a Revue des Deux Mondes, La Perseveranza e Il Secolo. Mais do que uma simples discussão com finalidades de cooptar o auxílio militar do povo italiano durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), o debate dos dois autores é uma amostra elucidativa da relação complexa entre história e nacionalismo, indicando possíveis pontos de origem de diversas tendências historiográficas contemporâneas - muitas vezes expiadas de seu caráter eminentemente político. O foco será dado em como a lógica argumentativa usada por Coulanges para defender a origem francesa do território, que remonta a um tipo específico de nacionalismo consolidado após a Revolução Francesa, entrou em contradição ou não com o seu método histórico próprio. Para tal, a pesquisa dividiu-se em quatro partes: a primeira tratou da circunscrição do corpus documental em seu contexto de produção, o da Guerra Franco-Prussiana, e da problematização da bibliografia escrita sobre o período. A segunda parte pretendeu expor as definições de nacionalismo de Coulanges e Mommsen, assim como, também, traçar suas tendências intelectuais, ressaltando, a cada momento, suas particularidades em relação a outros tipos de nacionalismos. A terceira parte, onde respondeu-se à pergunta inicial, tratou somente de Coulanges: a partir da circunscrição de Coulanges entre duas culturas históricas distintas, procurou-se sistematizar seus métodos históricos sem categorizá-lo sumariamente como positivista ou metódico. Assim, foi possível perceber que, de fato, Coulanges possuía diversas contradições ao longo de sua obra, porém, no texto específico contra Mommsen, o francês não entrou em grandes incompatibilidades entre seu nacionalismo e seu método histórico. Por último, também foram realizadas traduções de suas cartas: as de Coulanges foram traduzidas do francês e as de Mommsen do italiano.